quarta-feira, 30 de maio de 2012
strictu sensu
Pausa para uma análise estrutural sobre o Pendura (o blog, não a prática botiquinesca). Sempre me incomodou que este blog seja tão assim, esquizofrênico, no que se refere a seus temas e assuntos. Profissionalmente, me aconselham os amigos, eu deveria focar num assunto, como muitos colegas fazem por aí. Críticas de botequim, por exemplo, ou crônicas jornalísticas, ou ensaios antropológicos... etc. Mas, não. O blog vai mudando de assunto e de cara conforme me bate dans la tête. Pode ser um poema ou um comentário literário, pode ser uma resenha musical... qualquer coisa rola. E, assim, cada vez mais este blog vai ficando com essa cara meio esquisita, como aliás é a minha própria. Perfeito reflexo dessa profusão de assuntos e temas. Ou falta de foco, dirão alguns. Mas, entre meus 20 leitores (será que é isso tudo mesmo?), tem aqueles que vêm aqui atrás dos poemas; outros querem histórias de botequins; e não sei bem como essas pessoas se sentem quando chegam aqui e o tema é outro do que esperavam. E, enquanto isso, o blog segue deste jeito torto, respeitando o que sugere o subtítulo: "escritos sem compromisso". Muita gente gostou do França Fantasma (link ao lado), o blog que me serviu de diário de campo, durante meu séjour na França, ano passado, justamente porque havia ali um foco muito preciso do que se tratava o conjunto de posts e escritos. Mas já imaginou quantos blogs teria que criar, se fosse torná-los temáticos? Por isso, o Pendura segue assim, cheio de curvas, refluxos, ideias, lirismo, tudo isso ou nada disso.
domingo, 20 de maio de 2012
vão da vida
Vão é palavra cheia
Onde cabe o mundo
Nela, encontro você
E me perco de mim
Oco é o vão que carrego
No peito, ferida aberta,
Onde dorme um sonho
Que o caminho perdeu
No hiato descanso
Meu passo torto
E mato o tempo
A tempo de esquecer
Vida é o que carrego
No amplo espaço
Que faço da janela
Aberta ao vento.
sábado, 12 de maio de 2012
nova york, 1989. essa imagem é pra mim um momento de chegada. vindo do trópico e caindo no inverso duro de manhattan. depois de horas de viagem. avião. aeroporto. um banho fervendo e a janela embaçada. la fora o inverno glacial. e eu aconchegado neste outro mundo que me acolhe ao seu jeito.passei dois anos de minha vida nesse lugar. anos 70. outro mundo. desde então volto sempre que posso e caminho quilômetros por manhattan, brooklyn....
domingo, 6 de maio de 2012
céu da boca
as coisas não são tão assim coisas, afinal. têm nome e sobrenome, alguns
impronunciáveis, é verdade, mas que se soletram no escuro quando ninguém vê. palavras
vagabundas que crepitam na fogueira da boca, afirmando coisas sobre as coisas
inomináveis, que se diluem em sentimentos ambíguos e se perdem na poeira do
esquecimento. deslembradas antes mesmo do dizer, morrem no céu da boca, como
estrelas repentinas de luz atrasada, afogadas na língua imóvel. mas algumas
poucas escapam entre os dentes, escorrem como baba pelos cantos e iluminam
sentidos guardados nas funduras dos instantes inesperados, como quando nos
encontramos, querida amiga, fora da curva dos dias normais e inventamos apaixonados
todo aquele vocabulário, em que reaprendemos nossos nomes. teu corpo sobre o
meu fez um novo idioma, para, a boca imóvel, me frasear em teu ventre. na nossa
sintaxe invertemos a norma culta e a diferença de idade uniu sujeito, verbo e
complemento num novo sentido para as coisas, que, afinal, não são tão coisas
assim.
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