sábado, 1 de novembro de 2014

O botequim e a cidade

(Bar Luiz)

Amigos, o longo sumiço deste espaço se deveu à concentração em que me vi forçado a mergulhar para concluir a fase final de escrita do meu livro O botequim e a cidade: Reflexões antropológicas sobre bar, bairro e boemia. Colocado ponto final na semana passada, agora o manuscrito segue para os editores e tem início as negociações, que, se bem-sucedidas, podem colocar o "filhote" nas boas casas do ramo no ano que vem. Aguardemos e torçamos.

 (Amendoeira)

Apesar do nome pomposo e de estilo acadêmico, o texto segue num tom de crônica na primeira pessoa, servindo como um balanço de minha trajetória pela boemia e o botequim. Nesse campo, comecei como jornalista, escrevendo as seis primeiras edições do guia Rio Botequim, continuei como colunista da Revista Programa, do Jornal do Brasil (fase pré-Tanure) e, depois, enveredei pela academia, iniciando uma pesquisa de mais de dois anos, em que frequentei quase diariamente um botequim específico para realizar uma etnografia, que culminou na minha dissertação de mestrado em antropologia.

O livro resgata de certa forma esse percurso e segue adiante com especulações de ordem filosófica e literária.

Os originais enviados ao editor estão divididos em uma introdução, cinco capítulos e uma conclusão. Mas é um livro curto, conciso. Não saberia calcular quantas páginas.

O primeiro capítulo chama-se Platão no botequim e trata de uma reflexão mais generalizada sobre o espaço do bar ao longo da história do Rio, desde Pereira Passos, refletindo sobre as representações sociais em relação ao botequim: ora vendo-o como espaço de desvio e vícios ora enaltecendo-o como representante de uma importante identidade urbana carioca. Cito aqui uma linda crônica de Fernando Szegeri, uma resenha crítica de Marceu Vieira e um samba de Luís Pimentel, para discutir a visão desses autores sobre os elementos genuínos de um botequim. De certo modo, o diálogo com eles segue depois por todo o livro.

(Bar da dona Maria)


O segundo capítulo — O botequim como filho da cidade — analisa a relação do botequim como comércio de proximidade nos bairros. Sua importância na ordem informal das ruas e sua relação com a vizinhança. Esse capítulo tem muito a ver com minha pesquisa atual, sobre transformação urbana, gentrificação e aburguesamento dos bairros do Rio. O processo aqui é visto a partir do comércio de rua, especialmente o botequim.

O capítulo 3 é o mais etnográfico de todos. Chama-se: Como se faz um dono de botequim, e é baseado nas minhas anotações de campo sobre o botequim de Botafogo que serviu de campo para minha dissertação. Nele, falo da dinâmica de convivência de um grupo de boêmios que frequenta o bar diariamente, culminando com uma briga, que serviu como drama social para o grupo e de rito de passagem para um jovem aprendiz de dono de botequim.

(Bar da Adelina)


O capítulo 4, Clube do Bolinha, se debruça sobre a questão de gênero, uma vez que o botequim é um espaço de sociabilidade masculina. Conto aqui algumas passagens hilariantes e outras dramáticas, como uma boa prosa de botequim.

Por fim, o capítulo 5, chamado Literatura etílica da saudade, se afasta da reflexão antropológica, para entrar num campo mais filosófico e especulativo. Analiso aqui o que chamo de "prosa boêmia", representada por escritores como Paulo Mendes Campos, Fernando Lobo, Jaguar, Sergio Cabral (pai), a turma do Pasquim e cronistas mais recentes, como Moacyr Luz e Eduardo Goldenberg. Também entro na discussão do papel do malandro, diferenciando-o do boêmio, nos termos que a prosa de Antonio Fraga propõe. Foi o capítulo mais difícil e o mais desafiador.

(Nova Capela)


Bem, esta é a versão que encaminhei à editora. Enquanto aguardo os desdobramentos disso, volto aos poucos a ocupar o Pendura.