tag:blogger.com,1999:blog-88589481360011362122024-03-06T12:01:56.699-08:00Pendura essaEscritos sem compromissoipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.comBlogger199125tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-17112854808858561382015-09-27T10:32:00.002-07:002015-09-27T10:32:19.262-07:00O meu lugarAmigos, estão todos convidados:<br />
<br />
<img border="0" height="604" src="http://www.morula.com.br/ecards/OMeuLugar_Flyer.jpg" width="604" /><br />
<br />ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-2943886532558648322015-09-05T18:08:00.002-07:002015-09-05T18:08:41.830-07:00Recesso até o fim do anoQueridos amigos, este blog estará em período sabático até o fim do ano. Desde maio, estou trabalhando em três livros e dois artigos, o que, somado ao trabalho no jornal, tem me roubado todo o tempo livre para escrever aqui. O primeiro livro já está escrito (e a procura de editora), o segundo está indo para o prelo nas próximas semanas, e o terceiro tenho que entregar até meados de novembro. Depois disso, o Pendura irá voltar aos poucos. Beijo em todos. ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-53815178832749424332015-02-13T05:45:00.001-08:002015-02-13T05:45:07.440-08:00Sou feito de verbo e complemento<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPOC-vx89oy-f85mgLV2jHEWTxh2_QybPRlTTI7EwSZzvZoJsgOiMCdMkC6eH0f5diVkLeKDDaw7EzwQqlXtEsF4hNHhOv1QB8pwfIeQwYoh1srhip_uU6TATmQdBTtFDqLpa0FpWmBGsF/s1600/passaporte0001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPOC-vx89oy-f85mgLV2jHEWTxh2_QybPRlTTI7EwSZzvZoJsgOiMCdMkC6eH0f5diVkLeKDDaw7EzwQqlXtEsF4hNHhOv1QB8pwfIeQwYoh1srhip_uU6TATmQdBTtFDqLpa0FpWmBGsF/s1600/passaporte0001.jpg" height="320" width="233" /></a></div>
<div class="graf--p" name="56a1">
Meus canais de sensibilidade e emoção foram configurados no século passado por meio da leitura. Minha cognição, imaginação e sentimentos são fundamentalmente literários. Em vez de ver um filme, como as pessoas audiovisuais ou abrir camadas sobre camadas de realidade num pensamento digital, como os mais novos, traduzo o mundo ora como prosa ora como poesia.</div>
<div class="graf--p" name="e194">
<br /></div>
<div class="graf--p" name="e194">
Por isso sou dramático e verboso. Estou completamente fora do tempo, do momento atual. Oscilo entre um parnasiano exagerado e experiências modernistas, dependendo dos estímulos. Não chego nem mesmo a ser concretista, como os irmãos Campos e Pignatari. Minha sintaxe interna requer o verbo e o complemento. </div>
<div class="graf--p" name="70c7">
<br /></div>
<div class="graf--p" name="70c7">
Para interagir no mundo de hoje preciso traduzir. E isso me dá uma percepção de viés, interpretada, indireta. Transformada em narrativa que se conta em voz alta ou à meia voz. Às vezes, sussurrada. </div>
<div class="graf--p" name="d49e">
De modo que a vida transcorre oblíqua em mim.</div>
<div class="graf--p" name="acc4">
<br /></div>
<div class="graf--p" name="acc4">
Talvez isso até explique minha miopia — e não o contrário. Já nasci assim, nas fôrmas da literatura, das letras, e o corpo moldou-se como convinha. E, além disso, sou mineiro, dado a transformar tudo em enredo. </div>
ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-85966212126651248702014-11-01T08:19:00.002-07:002014-11-01T08:33:59.572-07:00O botequim e a cidade<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDvgW0MpZF4EIFNqWeyu7w0ZvGEo9haSjIexJt1O7Xe16t8dwtoIE3CwSQunorC3OkwpZfPMUphshcRoJSIEHQh9bFGeO7qunyULjXHdNtEZKMKfJqstV4Qiogtf1HeWWPsbpf5_1X56cF/s1600/bar+luiz1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDvgW0MpZF4EIFNqWeyu7w0ZvGEo9haSjIexJt1O7Xe16t8dwtoIE3CwSQunorC3OkwpZfPMUphshcRoJSIEHQh9bFGeO7qunyULjXHdNtEZKMKfJqstV4Qiogtf1HeWWPsbpf5_1X56cF/s1600/bar+luiz1.jpg" height="240" width="320" /></a> (Bar Luiz)<br />
<br />
Amigos, o longo sumiço deste espaço se deveu à concentração em que me vi forçado a mergulhar para concluir a fase final de escrita do meu livro <span style="color: yellow;"><b>O botequim e a cidade: Reflexões antropológicas sobre bar, bairro e boemia</b></span>. Colocado ponto final na semana passada, agora o manuscrito segue para os editores e tem início as negociações, que, se bem-sucedidas, podem colocar o "filhote" nas boas casas do ramo no ano que vem. Aguardemos e torçamos.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCX_wQvsWpb4Qh9-VWLkPcLgWDaGn9BALvRXWzWeZZY3p6kyjtvUtvCKGXWTwtDGhgNayvh0KCRepg_ZF9Y8tvLncIqs7AxT0L9wUo-lS4tgel0SNtGNENaEuWBES6y2824cLaUkFPCSKu/s1600/amendoeira1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCX_wQvsWpb4Qh9-VWLkPcLgWDaGn9BALvRXWzWeZZY3p6kyjtvUtvCKGXWTwtDGhgNayvh0KCRepg_ZF9Y8tvLncIqs7AxT0L9wUo-lS4tgel0SNtGNENaEuWBES6y2824cLaUkFPCSKu/s1600/amendoeira1.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
(Amendoeira)<br />
<br />
Apesar do nome pomposo e de estilo acadêmico, o texto segue num tom de crônica na primeira pessoa, servindo como um balanço de minha trajetória pela boemia e o botequim. Nesse campo, comecei como jornalista, escrevendo as seis primeiras edições do guia <span style="color: yellow;"><b>Rio Botequim</b></span>, continuei como colunista da <span style="color: yellow;"><b>Revista Programa</b></span>, do <span style="color: yellow;"><b>Jornal do Brasil</b></span> (fase pré-<span style="color: red;"><b>Tanure</b></span>) e, depois, enveredei pela academia, iniciando uma pesquisa de mais de dois anos, em que frequentei quase diariamente um botequim específico para realizar uma etnografia, que culminou na minha dissertação de mestrado em antropologia.<br />
<br />
O livro resgata de certa forma esse percurso e segue adiante com especulações de ordem filosófica e literária.<br />
<br />
Os originais enviados ao editor estão divididos em uma introdução, cinco capítulos e uma conclusão. Mas é um livro curto, conciso. Não saberia calcular quantas páginas.<br />
<br />
O primeiro capítulo chama-se <span style="color: yellow;"><b>Platão no botequim</b></span> e trata de uma reflexão mais generalizada sobre o espaço do bar ao longo da história do Rio, desde <span style="color: red;"><b>Pereira Passos</b></span>, refletindo sobre as representações sociais em relação ao botequim: ora vendo-o como espaço de desvio e vícios ora enaltecendo-o como representante de uma importante identidade urbana carioca. Cito aqui uma linda crônica de <span style="color: red;"><b>Fernando Szegeri</b></span>, uma resenha crítica de <span style="color: red;"><b>Marceu Vieira</b></span> e um samba de <span style="color: red;"><b>Luís Pimentel</b></span>, para discutir a visão desses autores sobre os elementos genuínos de um botequim. De certo modo, o diálogo com eles segue depois por todo o livro.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGVzc6exRmlvlGzVVrvlDx-1kqX2hcJsEDYV6Hh_ugpmfMEc-yvr-kOBfqnbQrZTPjjsiqXHig9EiKZRRKmDt9a6rQldDm3avmyklxuSJgexPHKoQa0eR3sdBvTftB0wRpYcG-z61bP_QM/s1600/dona+maria1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGVzc6exRmlvlGzVVrvlDx-1kqX2hcJsEDYV6Hh_ugpmfMEc-yvr-kOBfqnbQrZTPjjsiqXHig9EiKZRRKmDt9a6rQldDm3avmyklxuSJgexPHKoQa0eR3sdBvTftB0wRpYcG-z61bP_QM/s1600/dona+maria1.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
(Bar da dona Maria)<br />
<br />
<br />
O segundo capítulo — <span style="color: yellow;"><b>O botequim como filho da cidade</b></span> — analisa a relação do botequim como comércio de proximidade nos bairros. Sua importância na ordem informal das ruas e sua relação com a vizinhança. Esse capítulo tem muito a ver com minha pesquisa atual, sobre transformação urbana, gentrificação e aburguesamento dos bairros do Rio. O processo aqui é visto a partir do comércio de rua, especialmente o botequim. <br />
<br />
O capítulo 3 é o mais etnográfico de todos. Chama-se: <span style="color: yellow;"><b>Como se faz um dono de botequim</b></span>, e é baseado nas minhas anotações de campo sobre o botequim de Botafogo que serviu de campo para minha dissertação. Nele, falo da dinâmica de convivência de um grupo de boêmios que frequenta o bar diariamente, culminando com uma briga, que serviu como drama social para o grupo e de rito de passagem para um jovem aprendiz de dono de botequim.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyud007aftrZ43IqbOmKbSqh5pUDpBZ-IoL_S8bsQxyT_vPaE3QYuYmpsZoXHOAUMHK1QETC6wltYWxH9pfcIgw58b7O3KJpw9hZynj-lCi5q0rZvJviUdxZaTrRQ0xtyeCnpGlZWMnSIs/s1600/Bar+da+Adelina02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiyud007aftrZ43IqbOmKbSqh5pUDpBZ-IoL_S8bsQxyT_vPaE3QYuYmpsZoXHOAUMHK1QETC6wltYWxH9pfcIgw58b7O3KJpw9hZynj-lCi5q0rZvJviUdxZaTrRQ0xtyeCnpGlZWMnSIs/s1600/Bar+da+Adelina02.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
(Bar da Adelina)<br />
<br />
<br />
O capítulo 4, <span style="color: yellow;"><b>Clube do Bolinha</b></span>, se debruça sobre a questão de gênero, uma vez que o botequim é um espaço de sociabilidade masculina. Conto aqui algumas passagens hilariantes e outras dramáticas, como uma boa prosa de botequim.<br />
<br />
Por fim, o capítulo 5, chamado <span style="color: yellow;"><b>Literatura etílica da saudade</b></span>, se afasta da reflexão antropológica, para entrar num campo mais filosófico e especulativo. Analiso aqui o que chamo de "prosa boêmia", representada por escritores como <span style="color: red;"><b>Paulo Mendes Campos</b></span>, <span style="color: red;"><b>Fernando Lobo</b></span>, <span style="color: red;"><b>Jaguar</b></span>, <span style="color: red;"><b>Sergio Cabral </b></span>(pai), a turma do <span style="color: yellow;"><b>Pasquim</b></span> e cronistas mais recentes, como <span style="color: red;"><b>Moacyr Luz</b></span> e <span style="color: red;"><b>Eduardo Goldenberg</b></span>. Também entro na discussão do papel do malandro, diferenciando-o do boêmio, nos termos que a prosa de <span style="color: red;"><b>Antonio Fraga</b></span> propõe. Foi o capítulo mais difícil e o mais desafiador. <br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIEgVWuQJF4e5Jtqn0l80glnfcQAtwdp5aj4RjccYlu45_zMwlsOwhN-On_CWxcBtAWcd1P_rZcFcMZPq5I5WDnQacpGny3q58xXNrGvK5XB6QOZnB61D1wY_lRYQ_beXsWenvgoArc1z-/s1600/capela1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIEgVWuQJF4e5Jtqn0l80glnfcQAtwdp5aj4RjccYlu45_zMwlsOwhN-On_CWxcBtAWcd1P_rZcFcMZPq5I5WDnQacpGny3q58xXNrGvK5XB6QOZnB61D1wY_lRYQ_beXsWenvgoArc1z-/s1600/capela1.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
(Nova Capela)<br />
<br />
<br />
Bem, esta é a versão que encaminhei à editora. Enquanto aguardo os desdobramentos disso, volto aos poucos a ocupar o <span style="color: yellow;"><b>Pendura</b></span>.ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-16334598842433797932014-08-03T09:09:00.001-07:002014-08-03T09:09:15.067-07:00Cultura do Rio, noite e dia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZVto9FDveLHfUhs32R9vU-ecz22awPYwHotIuQELxmUXnfuFM_ROiUirV10t9KDWDqo1LPa9wWv5_3fsbUdyeAJs2LIN-DaplWYcShv4Khr52CUG9nKa8jtMJd70yy9Z3VlB_bmt2Mkaw/s1600/foto(1).JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZVto9FDveLHfUhs32R9vU-ecz22awPYwHotIuQELxmUXnfuFM_ROiUirV10t9KDWDqo1LPa9wWv5_3fsbUdyeAJs2LIN-DaplWYcShv4Khr52CUG9nKa8jtMJd70yy9Z3VlB_bmt2Mkaw/s1600/foto(1).JPG" height="240" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
A semana que passou foi marcada por algumas boas
experiências isoladas em meio à solidão que permeia a vida por esses dias. Uma
palestra na <span style="color: yellow;"><b>Biblioteca Parque da Presidente Vargas</b></span> me levou a conhecer in loco
um projeto de inclusão pela informação e o saber de primeiríssimo mundo. Em
alguns instantes me senti no espaço da <span style="color: yellow;"><b>Biblioteca Mitterrand</b></span>, em Paris. Mas o
caso carioca é ainda mais radical pela estratégia de inclusão, dos equipamentos
ao segurança treinado para agir mais como orientador do que como um herdeiro de
uma ordem colonial que discrimina, segrega e brutaliza. </div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os equipamentos, de altíssima tecnologia, sobretudo para as
pessoas deficientes, estão efetivamente à disposição — e são usados por jovens
e adolescentes da região da Central e do Campo do Santana. Foi um presente que
a cidade ganhou (e há outras bibliotecas: Manguinhos, Rocinha, Niterói, e uma
que ainda virá no Alemão). Já tinha visto fotos, e minha amiga <span style="color: red;"><b>Bia Caiado</b></span> já tinha me contado sobre a maravilha que é o lugar, mas ir ao vivo é outra coisa
completamente distinta. A experiência de estar lá é demasiadamente forte. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Confesso que fiquei emocionado em ver adolescente para cima
e para baixo, usando aquele espaço. Além das atividades como leitura e audiovisuais,
o espaço convida ao ócio da reflexão. É tudo muito gostoso e confortável. Tem
jardins, cafés, poltronas desenhadas para engolir a pessoa, cabines de leitura,
de vídeo, e uma biblioteca que ainda está sendo montada. Decidi doar parte dos
meus livros. </div>
<div class="MsoNormal">
Também tive a oportunidade de conhecer <span style="color: red;"><b>Vera Saboya</b></span>, uma das
idealizadoras do projeto, e fiquei impressionado por sua personalidade e
beleza. Ela, que não tem vínculos ideológicos com o governo do estado, topou
criar esse presente para a cidade e, agora, teme pelo futuro. Eu sou obrigado a
concordar com ela, considerando a mentalidade dos candidatos que estão em
disputa. Espero que não destruam essa obra viva, que é de todos nós. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCX-nH1t-UL6AJp3fbeVXbU3tMBT60CTfN_Utd4v2PSqURRx0JkbAGvqkhN763o3dPdKGAYpMaMs3OSrvwNFaSvtfOheu7d6ZljOjE92QrB_1JedjWythlqQT5j2DtATctVsBbj0Xjg58h/s1600/foto(2).JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCX-nH1t-UL6AJp3fbeVXbU3tMBT60CTfN_Utd4v2PSqURRx0JkbAGvqkhN763o3dPdKGAYpMaMs3OSrvwNFaSvtfOheu7d6ZljOjE92QrB_1JedjWythlqQT5j2DtATctVsBbj0Xjg58h/s1600/foto(2).JPG" height="320" width="223" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Estive lá para participar de um seminário sobre o <span style="color: yellow;"><b>Saara</b></span>, o
mercado adjacente à biblioteca. E essa foi outra emoção. Na plateia, estavam
velhos comerciantes do mercado e eu me senti devolvendo a eles a oportunidade
que me deram ao me acolher durante minha pesquisa ali. Fiquei ainda mais feliz
por ter falado de improviso, já que as pesquisadoras que me antecederam, <span style="color: red;"><b>Paula
Ribeiro</b></span> e <span style="color: red;"><b>Neiva Vieira da Cunha</b></span>, trataram do que eu me preparei para apresentar
e com muito mais competência. Tentei dar um fecho ao que elas disseram,
estimulando uma reflexão sobre identidades urbanas: sua força e sua
transitoriedade. Um tema sempre presente em meus trabalhos. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E para culminar, reencontrei meu velho amigo <span style="color: red;"><b>Leo Feijó</b></span>, que
me presenteou com seu livro, <span style="color: yellow;"><b>Rio cultura da noite</b></span>, que será lançado agora, sobre a história da noite
carioca, da abertura dos portos aos dias de hoje. Tive oportunidade de examinar
o livro este fim de semana e ainda estou impactado pela qualidade da pesquisa e
do texto e o acervo de imagens que contém. Um levantamento que abrange quase
tudo, de <span style="color: red;"><b>Madame Satã</b></span> na Lapa à Copacabana da Bossa Nova; do <span style="color: yellow;"><b>Le Bateau ao Vivo 1
1//2</b></span>, com <span style="color: red;"><b>Ademir </b></span>e <span style="color: red;"><b>Big Boy </b></span>à Mariozim, Furacão 2000, <span style="color: red;"><b>DJ Marlboro</b></span>, Crepúsculo,
Matriz etc. E o <span style="color: red;"><b>Leo</b></span> abre o livro com uma constatação antropologicamente
profunda: “Quanto mais vibrante é a noite, mais plurais são a sociedade e a
cultura local”. </div>
ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-20856320863282335082014-07-19T07:31:00.001-07:002014-07-19T07:43:31.426-07:00Análise<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9GNODMV-ZcWq83O1pxb_NU1GHMC1RAEFarfHcu9q9EH32u448_mQQHVYXGH8ZOJs5mrB5oC8aYgdNScm_l47xmPaznilDHWjeC-t5k66l8aX89UgDl9J9xSPmFnNaADaH5d6T2B-wydfX/s1600/mask3a.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9GNODMV-ZcWq83O1pxb_NU1GHMC1RAEFarfHcu9q9EH32u448_mQQHVYXGH8ZOJs5mrB5oC8aYgdNScm_l47xmPaznilDHWjeC-t5k66l8aX89UgDl9J9xSPmFnNaADaH5d6T2B-wydfX/s1600/mask3a.jpg" height="304" width="320" /></a></div>
<br />
O <span style="color: red;"><b>Fernando Pessoa</b></span>, na figura de si mesmo, tem um poema que sempre foi o meu preferido. Chama-se Análise e foi escrito em 1911. Ei-lo:<br />
<br />
"Tão abstrata é a ideia do teu ser<br />
Que me vem de te olhar, que, ao entreter<br />
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,<br />
E nada fica em meu olhar, e dista<br />
Teu corpo do meu ver tão longemente,<br />
E a ideia do teu ser fica tão rente<br />
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me<br />
Sabendo que tu és, que, só por ter-me<br />
Consciente de ti, nem a mim sinto.<br />
E, assim, neste ignorar-me a ver-te, minto<br />
A ilusão da sensação, e sonho,<br />
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo<br />
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho<br />
Do interior crepúsculo tristonho<br />
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo"<br />
<br />
O jogo de identidade e alteridade que o poeta estabelece entre esse "eu" e o "outro" no poema tem sobre mim um poder de encantamento. Essa curiosidade em relação ao humano que se faz na diferença, na diversidade de representar e viver o mundo, foi o que me levou para o jornalismo e, depois, para a antropologia. O outro de <span style="color: red;"><b>Pessoa </b></span>se confunde com ele próprio a ponto dele ignorar-se a si mesmo neste emaranhar-se com o outro. Aqui, evidentemente, cabe a paixão. Essa energia poderosa que nos faz cair, como dizem os franceses, amorosos por alguém. Alguém de quem, às vezes, não sabemos nada. Essa coisa que nos faz sentir como se sonhássemos o que somos de fato.<br />
<br />
Não entendo nada de psicologia, mas creio que a matriz desse sortilégio está nas relações primordiais e básicas que estabelecemos, ainda bebês, com nossos pais ou seja lá quem esteja ali, naquele momento crucial. Sempre li sobre complexo de <span style="color: red;"><b>Édipo</b></span>, a luta do menino com o pai como um processo de transcendência para a vida adulta. As simbioses com a mãe e o pai e essa confusão toda. Depois, na minha formação como antropólogo, estudei os ritos de passagens, as diferentes culturas e as formas como o mundo é construído internamente na percepção. E como essa é infinita em suas possibilidades humanas.<br />
<br />
Não importa qual seja a sociedade ou a cultura — ianomami, pigmeu ou o executivo de <span style="color: yellow;"><b>Wall Street </b></span>—, em todas elas existem ritos para lidar com o nascimento, a morte e o casamento. E eu pude descobrir isso além da teoria, visceralmente, no lançamento das cinzas do meu pai no encontro das águas do <span style="color: yellow;"><b>Solimões </b></span>com o <span style="color: yellow;"><b>Negro</b></span>, onde nasce o <span style="color: yellow;"><b>Rio Amazonas</b></span>, seguindo instruções dele. Foi, de fato, um evento, uma espécie de gurufim amazônico, com cantos, música, choro, poemas... dando formas diversas à saudade. Resignação ao vazio. Foi também um momento de reencontro com a Floresta, com amigos, e, sobretudo, de um renascimento.<br />
<br />
Mas o efeito, em mim, lá na profundeza da alma, desse rito de passagem foi de transcender essa morte, deglutir a vida, incorporando em mim as coisas dele, mas, mais ainda, descobrindo em mim as minhas próprias coisas que estavam ali submersas na alma. Não fui mais o mesmo depois desse ritual. E se fica o vazio e a saudade, também nasceu um outro ser, engordado do outro, e também de si. Não li o poema acima na cerimônia de adeus, mas bem poderia tê-lo feito.<br />
<br />
Quanto à máscara acima, ela é o objeto que simboliza um momento nosso juntos, no meio da revolução sandinista, em 1988. Pai e filho no mais próximo que conseguimos chegar. ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-62959055821543546452014-05-01T08:01:00.000-07:002014-05-01T08:33:04.455-07:00Salgado, fotografia, reportagem e antropologia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij83gUouN4hQ5BFw3OuGuePh7NhfwMvYO-K6LdIDvnzcd0GdSHopV_K5pQuOfNFcEzBm2hukSs3JyXkOFb1-ZyakWZksOt8uKbWLI6orHQ7E83kkXRBfXYKTUvze8Xp6TwaDhmIanqzW4b/s1600/lelia-e-sebastiao-salgado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEij83gUouN4hQ5BFw3OuGuePh7NhfwMvYO-K6LdIDvnzcd0GdSHopV_K5pQuOfNFcEzBm2hukSs3JyXkOFb1-ZyakWZksOt8uKbWLI6orHQ7E83kkXRBfXYKTUvze8Xp6TwaDhmIanqzW4b/s1600/lelia-e-sebastiao-salgado.jpg" height="212" width="320" /></a></div>
<span style="color: orange;"><i><b>Lélia e Salgado (foto tirada do site o sensato: http://www.osensato.com.br/sebastiao-salgado-um-brasileiro-que-tem-inspirado-o-mundo/ onde há mais informações e fotos) </b></i></span><br />
<br />
O <span style="color: yellow;"><b>Canal Brasil</b></span> passou recentemente dois documentários sobre <span style="color: red;"><b>Sebastião
Salgado</b></span>, todos dois muito interessantes. Admiro seu jeito zen e ao mesmo tempo
comprometido com a melhoria da vida das pessoas, atitudes que fazem dele uma
espécie de sábio. Ele me inspirou muito, tanto na fotografia — ofício que
exerci no início de minha carreira na imprensa —, no jornalismo e, me dou conta
agora, na antropologia. Inspiração que vem sobretudo pela forma de se aproximar
de pessoas, bichos e coisas quando faz suas fotos e documentários fotográficos.<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
Não entendia porque meus colegas fotógrafos falavam horas —
alguns com muita inveja e desdém — sobre os equipamentos que ele usava e sua
técnica de fotografar, e não percebiam que sua fotografia começava antes, no
seu olhar subjetivo do mundo, na forma de se aproximar de seu “objeto” de
reportagem. Nada de foto roubada, nada de teleobjetivas, que colocam o
fotógrafo a uma distância segura, mas também ausente da cena. <span style="color: red;"><b>Salgado </b></span>estava
sempre perto, conversava, aprendia o nome, convivia e essa aproximação se
refletia na luz das fotografias que fazia. Os dramas e as alegrias estavam lá
em todos os tons de cinza. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Para ele, não era mais o “instante decisivo” do
<span style="color: red;"><b>Cartier-Bresson</b></span>, o olhar sensível que acompanha o desenrolar da cena e faz o
clique no momento exato. <span style="color: red;"><b>Salgado </b></span>nunca estave interessado nesse instantâneo. Daí
seu temor profundo, quando fotografou o atentado contra <span style="color: red;"><b>Reagan</b></span>, de ficar
conhecido por uma característica que não era essencialmente a sua. Sua
fotografia é o resultado da convivência, nem que seja a convivência consigo
mesmo, na solidão dos ermos do mundo, como se vê em seu último trabalho sobre o
planeta. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Estamos falando, portanto, de metodologia. E se fosse
esquematizar o olhar fotográfico documental entre <span style="color: red;"><b>Bresson </b></span>e <span style="color: red;"><b>Salgado</b></span>, diria que
o primeiro está mais perto do jornalismo e o segundo, da antropologia. Em
outros termos, o instantâneo de <span style="color: red;"><b>Bresson</b></span> é a essência da reportagem, o momento
exato, o "instante decisivo", que conta, em resumo, uma história. Já a
convivência de <span style="color: red;"><b>Salgado </b></span>com seu objeto é a essência da etnografia, do trabalho
de campo do antropólogo, isolado em civilizações esquecidas, aprendendo a
língua, anotando costumes, valores e ritos. Os dois são retratos da realidade,
mas tirados com “lentes” bem distintas e para fins igualmente distintos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Num dos documentários, <span style="color: red;"><b>Salgado </b></span>abre sua casa, seu estúdio e
sua pequena agência de fotografia. Entendemos seu uso do preto e branco e da
cor; a transição do filme para o digital, enfim, algumas questões técnicas que
teriam agradado muitíssimo os fotógrafos da minha época, que fetichizavam
máquinas, lentes, filmes e equipamentos. Mas, mesmo quando fala especificamente
sobre técnica, <span style="color: red;"><b>Salgado </b></span>faz o tempo todo a ligação com esse olhar anterior, que
o forma como fotógrafo. O filme nos apresenta sua família, os filhos, a mulher e a
dinâmica de seu dia a dia em casa.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O outro documentário, em que ele é entrevistado pelo grande <span style="color: red;"><b>Eric
Nepomuceno</b></span>, <span style="color: red;"><b>Salgado </b></span>fala exclusivamente de si. E aí podemos entender melhor sua
fotografia. Sua origem em Aimorés, Minas Gerais; seus pais, seu amor
por <span style="color: red;"><b>Lélia</b></span>. <span style="color: red;"><b>Eric</b></span>, ao estilo psicanalítico, vai lançando palavras, como “medo”, “luz”
etc. e, numa associação com seu eu profundo, <span style="color: red;"><b>Salgado </b></span>vai comentando. E, para
mim que perdi minha mãe recentemente, foi particularmente emocionante quando,
ao comentar o termo “saudade”, ele falou da presença da mãe em sua vida, por
meio da memória, e contou de um abraço que ela lhe deu, no seu primeiro retorno
à casa de sua infância. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Minha simpatia por ele só cresce e cada vez mais o vejo como
um sábio.</div>
ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-63320613949271206012014-03-26T07:09:00.001-07:002014-03-26T15:02:36.785-07:00Erickson Luna<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4B4sy-F13VKmChKLaPewxwZWkUx8LGj9iU9cNh3BNIsEu3WJvX63_6Dpd7Kh8TMqJojNbSDMMjmKFLre-TNnh3VEAi7SavXOJHnRJRuZz3nmIrYFAWMjkxGKFzvzLSY89K5Ay66ZyTR2o/s1600/erickson_luna.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4B4sy-F13VKmChKLaPewxwZWkUx8LGj9iU9cNh3BNIsEu3WJvX63_6Dpd7Kh8TMqJojNbSDMMjmKFLre-TNnh3VEAi7SavXOJHnRJRuZz3nmIrYFAWMjkxGKFzvzLSY89K5Ay66ZyTR2o/s1600/erickson_luna.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
Há coisa de uns cinco ou seis anos, estava em casa de bobeira, quando o telefone tocou. No outro lado da linha, o poeta <span style="color: red;"><b>Erickson Luna</b></span>. Por sugestão de <span style="color: red;"><b>Soraya Simões</b></span>, ele me ligava de um hospital do Recife, onde se recuperava de uma fratura. Estava sóbrio e falamos por uns cinco minutos, nesta que seria a nossa última conversa. <span style="color: red;"><b>Luna</b></span> morreria alguns meses depois. Ele foi um poeta tão genial como radical. Desses artistas, como <span style="color: red;"><b>Manduka</b></span>, que se entregam de corpo e alma à sua arte, sem concessões de qualquer espécie e que acabam morrendo abandonados, indigentes. Estar perto dessas pessoas é viver uma intensidade tal, que o cotidiano depois nos parece vazio de sentido. É uma experiência transcendental. E pessoas assim, me parece, hoje já não cabem no mundo compartimentado e digital que vivemos.<br />
<br />
A primeira vez que vi <span style="color: red;"><b>Luna</b></span> foi um susto. Estava com poetas, jornalistas e antropólogos, numa mesa misturados, num mercadinho no Centro velho de Recife. <span style="color: red;"><b>Braulio Brilhante</b></span>, <span style="color: red;"><b>Chico Espinhara</b></span>, <span style="color: red;"><b>Soraya</b></span>, entre outros, pessoas que fazem a prosa voar, a conversa espiralar. <span style="color: red;"><b>Braulio</b></span> e <span style="color: red;"><b>Espinhara </b></span>tocando um movimento de poesia marginal da maior qualidade em Recife. Marginal no sentido da marginalidade mesmo, com todo o respeito ao <span style="color: yellow;"><b>CEP 20 mil</b></span> (<span style="color: red;"><b>Espinhara</b></span> morreu meses depois de <span style="color: red;"><b>Luna</b></span>, consumido por versos e álcool). Naquele dia, esperávamos a chegada desse poeta genial, que queriam me apresentar. Era o bêbado que eu vira adormecido no chão, próximo à entrada do banheiro infecto do mercadinho.<br />
<br />
De repente, como surgido da poeira, como uma entidade das ruas, aparece o mendigo-poeta. Era <span style="color: red;"><b>Luna</b></span>, figura esquálida, com cavanhaque e cabelos desgrenhados. Uma fúria nos olhos, que ganhava vida em momentos de indignação. Muito parecido com <span style="color: red;"><b>Manduka</b></span> nesse sentido. <span style="color: red;"><b>Luna</b></span> sorriu para a mesa, mirou os olhos arrebatados de <span style="color: red;"><b>Soraya</b></span> e recitou uns versos para ela, enquanto ouvíamos em silêncio. É difícil narrar isso sem soar piegas, mas, na intensidade do momento, foi uma chegada. Uma alma que faz falta ao mundo de hoje e que merece ser lembrada sempre <br />
<br />
Deixo uns versos de seu último livro, <span style="color: yellow;"><b>Do moço e do bêbado</b></span>:<br />
<br />
Pra eu poder<br />
e só<br />
andar nas ruas<br />
fez-se em volta uma cidade<br />
<br />
Para se dar<br />
mais colorido à noite<br />
pôs-se acima um luminoso<br />
<br />
E pra que eu<br />
me sinta bem enfim<br />
nesta cidade<br />
há-se em mim um cidadão<br />
<br />
Portanto livre<br />
como o que é em noite<br />
e que enche as ruas<br />
perseguindo luzes<br />
acordado<br />
ainda que em sonhos<br />
íntegro<br />
ainda que meio-homem<br />
plenamente meio<br />
mariposa<br />
<br />
<br />ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-45088146606905752492014-03-21T07:08:00.000-07:002014-03-21T07:08:52.955-07:00Meditação<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjj9dQWtyzCb9ULUuA7-RpT5smyiUIlhPdaX8cDShxkljzhzb4uaIp5iRAxv_mVpei5f4hTZbTTGlt5Uc17FNOv_4KPbU-xiR_QDiRgRh1yMEZEHoMCVpz2ScyzAkJxkn-dz3ITw9MuLdI/s1600/guinga.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjj9dQWtyzCb9ULUuA7-RpT5smyiUIlhPdaX8cDShxkljzhzb4uaIp5iRAxv_mVpei5f4hTZbTTGlt5Uc17FNOv_4KPbU-xiR_QDiRgRh1yMEZEHoMCVpz2ScyzAkJxkn-dz3ITw9MuLdI/s1600/guinga.JPG" height="240" width="320" /></a></div>
Hoje acordei em meio à ventania desarranjando a casa. Papéis no ar, garrafas ao chão... calor no primeiro dia do outono. A nova estação chegou para acalmar o espírito. Então ouvi dois CDs do <span style="color: red;"><b>Guinga</b></span>. Fui entrando naquele universo harmônico de altíssimo bom gosto. Aqueles acordes estranhamente familiares. Choros, valsas que me lembram <span style="color: red;"><b>Manduka</b></span>: aquela coisa rara que não se ouve por aí. Não vou falar sobre o popismo que domina a MPB e que iguala tudo numa escala de equivalência que os críticos e os empresários do mundo fonográfico podem entender e faturar. Uma linguagem comercial no seu sentido mais singelo. Não vou julgar as coisas de arrepio do momento. Fugazes melodias que embalam o dia a dia nos ônibus. Mas quando entro nessa outra esfera, dois passos acima do chão, além da mediana, a música se torna uma outra experiência. Uma implosão. O cansaço se desfaz, lavado pela emoção estranha. Aquela sem nome, incomum, especial. E desperto para o dia transformado. ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-74468214517564776962014-03-08T09:26:00.000-08:002014-03-08T09:26:00.159-08:00Canção do outro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgs61fX7FJnAkP4DTZw-BwBtzBJJPthrBfcElvXo9Vnm_doET8w1miEpBsHC0OJp3fD7wAbHtRhXtp8NYBx9tRjYUAVDJf0aVxMcdEEgi5HzGy-wWS82QMAjz40XdHBHiehauSwcdC5zMoF/s1600/IMG_1054.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgs61fX7FJnAkP4DTZw-BwBtzBJJPthrBfcElvXo9Vnm_doET8w1miEpBsHC0OJp3fD7wAbHtRhXtp8NYBx9tRjYUAVDJf0aVxMcdEEgi5HzGy-wWS82QMAjz40XdHBHiehauSwcdC5zMoF/s1600/IMG_1054.JPG" height="240" width="320" /></a></div>
Uma sensação de saudade antiga — mistura de perda de alguém com o tempo que se foi. E além. Um vazio tão oco, que não se espreita ver o fundo. E que esse mesmo não há. Pois foi essa que veio, cedo, a luz do dia ainda esquecida de si, atrás do morro e o céu com estrela. Veio no silêncio sem ventos e quieta se instalou plena no centro do peito. E vi você tão longe que nem sei. Confundi os sopros. Vi que não era, na verdade, você. Outro você. Diferente o mesmo. Interno segredo íntimo de ser você e eu a mesma face do espelho. Embolados num mundo sem palavras. Sensações. Distância que não se mede em léguas. Tão longe que só se vê pelo coração cortado, escorrendo o sangue na dor do quase que fomos, no triz do ser que se incompleta de si. Inalcançável de tão dentro.ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-48539164026835327052014-02-23T10:39:00.001-08:002014-02-23T10:49:06.050-08:00Guimarães Rosa, um regionalista?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJbjTRRliqq8dt-w3hmFZLTM0kGmmS8z9esoim-oECJpZw9eZjx81cEddG-WFdoN2PrG4tFCc_WRbZ1GiQETJdFCKQgWsNpsSdHTp4JBHBr_Ip6ucBKzhTsn0LPN7fweW64SHyfLxxC-GE/s1600/aba15.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJbjTRRliqq8dt-w3hmFZLTM0kGmmS8z9esoim-oECJpZw9eZjx81cEddG-WFdoN2PrG4tFCc_WRbZ1GiQETJdFCKQgWsNpsSdHTp4JBHBr_Ip6ucBKzhTsn0LPN7fweW64SHyfLxxC-GE/s1600/aba15.jpg" height="239" width="320" /></a></div>
Estou lendo o livro de cartas do <span style="color: red;"><b>Caio Fernando Abreu</b></span>,
organizado por <span style="color: red;"><b>Italo Moriconi</b></span>, e me deparei com uma delas, endereçada a <span style="color: red;"><b>Hilda
Hilst</b></span>, na qual o escritor cita <span style="color: red;"><b>Guimarães Rosa</b></span> como um escritor regional. Essa
classificação ficou me perturbando a mente dias e dias e, por fim, me obrigou a
refletir sobre o incômodo. Pra começo de conversa, preciso esclarecer que os
romances do <span style="color: red;"><b>Caio</b></span> nunca me pegaram. Ele foi um bom escritor, mas não fez nada de
extraordinário no plano<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>da literatura.
Nem acho que esse tenha sido o sua meta, sendo filho de uma época
desencantada com o fim de utopias que movimentaram as gerações anteriores, seja
pelo viés político da “revolução”, que trará justiça social ao mundo; ou pela
transcendência individual por meio do “desbunde”. É justamente esse caráter
iconoclasta de quem já não tem mais nada a perder que permite perturbar cânones
e inverter ordens. O que é bom.<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
Mas isso não confere necessariamente verdade e esses abalos, e achei rasa a afirmação de <span style="color: red;"><b>Caio</b></span> sobre o velho <span style="color: red;"><b>Guima</b></span>.
Chamá-lo de escritor regional é não perceber o vigor e a complexidade de sua
produção. É limitá-lo ao universo restrito da <i>gemainschaft</i>, o mundo rural em
oposição à vida urbana, rica em contrastes furiosos e constantes. Mas o universo
de <span style="color: red;"><b>Guimarães Rosa</b></span> é de uma complexidade que está mais perto da <i>gesellschaft</i>. As grandes questões existenciais que perpassam o ser da cidade, também estão lá na mente dos personagens de <span style="color: red;"><b>Guimarães Rosa</b></span>, enquanto olham a margem do rio.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Veja-se o caso de <span style="color: yellow;"><b>Grande Sertão: Veredas</b></span>: Um romance em que o narrador é o protagonista, que dialoga com um interlocutor
invisível e que, muito provavelmente, vem do universo urbano. O pano de fundo
da história é uma guerra, justamente a guerra entre uma forma de vida de
valores patriarcais e religiosos que vai sendo confrontada pelo racionalismo da
República. Esse conflito é que põe o sertão em turbulência, com antigas e novas
forças sociais se digladiando Gerais afora adentro. Coronéis, jagunços,
vaqueiros, padres, policiais e outros personagens que se cruzam nesse drama
social trazem o contraste desses mundos em choque. Nosso protagonista,
<span style="color: red;"><b>Riobaldo</b></span>, é arrastado contra sua vontade para esse conflito e se torna um
grande líder, depois de muito relutar. Ao mesmo tempo, se apaixona por um
companheiro, mergulhando numa crise de identidade profunda. Afinal, não se
reconhece como homossexual, mas não consegue explicar e muito menos negar a
atração por <span style="color: red;"><b>Diadorim</b></span>. E, por fim, a profunda discussão metafísica sobre a existência
de Deus e o diabo. De fato, classificar um romance desse como uma mera produção
regional, com todo o respeito ao <span style="color: red;"><b>Caio</b></span>, uma percepção míope.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Um trecho do <span style="color: yellow;"><b>Grande Sertão</b></span>: </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
"O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas — mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o diabo é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro — dá gosto! A força dele, quando quer — moço! — me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho — assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza."</div>
ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-61873507009516012582014-02-07T05:30:00.001-08:002014-02-07T05:31:06.227-08:00Empata-foda<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpXVhr4tZhkui9omgzPyS9yPzdkg5t2SVk7Tm7wMERUCNsPJryq3DDFmKnxXSUK2ZqiJCEdaPhKisc_sP5m5MDedBtDwDKKFdq0p7-D1_9NpjzRCHdy3GAtTE-1oDdPjRXGSOHNg5Kvzd0/s1600/saia_justa04.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpXVhr4tZhkui9omgzPyS9yPzdkg5t2SVk7Tm7wMERUCNsPJryq3DDFmKnxXSUK2ZqiJCEdaPhKisc_sP5m5MDedBtDwDKKFdq0p7-D1_9NpjzRCHdy3GAtTE-1oDdPjRXGSOHNg5Kvzd0/s1600/saia_justa04.JPG" height="320" width="229" /></a></div>
Querida amiga, outro dia pensava sobre nossas predileções literárias e
me dei conta do peso que esse gosto, tão pessoal, tem como parâmetro
amoroso entre as pessoas. Você, por exemplo, gosta do poeta V. e eu
sempre tive uma certa preguiça em relação à produção metafísica dele,
preferindo seu lado mundano e mulherengo. Portanto, V., para mim, é um
poeta parcial, pois não enveredei por suas inquietações sobre Deus e o
Cosmos. E, veja, não é que não goste de V.. Apenas não senti o impulso
de lê-lo nessa vibração espiritual, preferindo seu lado secular, sua
bossa nova, seus amores carnais. Nessa onda ele é genial. Mas é essa
divisão que me impede de elegê-lo como predileto. E me pergunto se não é
essa a verdadeira razão do nosso desencontro. Como um planeta
interceptado na quadratura de um signo incompatível ou coisa que o
valha. Por amor a você, até atravessaria as veredas de reflexões
patafísicas de V. na esperança de ver abrir em mim uma iluminação
reveladora do lirismo que antes não percebia, e, por meio de V, exibisse
orgulhoso todo o meu amor por você. Mas você mesma sentenciou: "Você
não gosta de V.", me disse outro dia, tão casualmente quanto alguém que
se resigna a uma diferença abissal e incompatível. Tremi de medo de que
não fôssemos mais o que quer que somos no campo do afeto, esse gostar
que fica aquém do que quero e além do que você suporta. Um limbo cheio
de aventuras perigosas. O seu poeta V. acabou ficando entre nós, veja
você, como um empata-foda, o que me fez escrever esse poema pra você,
querida amiga:<br />
<br />
Queria ser um poeta<br />
Como aquele que vive em teu peito<br />
E repetes os versos d'alma<br />
Queria poder estar tão dentro de ti<br />
Habitado de teus sonhos<br />
Como, sem saber, está o poeta<br />
Aquele que vive em teu peito<br />
Sem perceber-te entregue<br />
Como entregue me ponto a ti<br />
Queria ler teu corpo<br />
Como teu poeta recita versos d'alma<br />
Conjugaria teus músculos<br />
E aprenderia teu beijo<br />
Como quem decora poesia
ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-52554692699534596492014-01-09T05:05:00.002-08:002014-01-09T05:05:11.272-08:00A vida como ela é<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwZhVG1zxAq8ls1eigzM0FbiCiBjIdrJAxpNgiOb7D4iyKBilnhzsK1tQU55X91HEE68O8j2rM1LhZ_v6UbjOt7Rs3MH5nfaXo-R3w6CwobWdZEHH45BfbyMpyjr_qQ0Q_E1FSYmk18W6w/s1600/postal237.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwZhVG1zxAq8ls1eigzM0FbiCiBjIdrJAxpNgiOb7D4iyKBilnhzsK1tQU55X91HEE68O8j2rM1LhZ_v6UbjOt7Rs3MH5nfaXo-R3w6CwobWdZEHH45BfbyMpyjr_qQ0Q_E1FSYmk18W6w/s1600/postal237.jpg" height="320" width="275" /></a></div>
Você
chega; me levanto, cortês e ansioso. O panamá na mão. Um abraço trêmulo
e nos sentamos. Você diz: "Que calor!"; peço uma cerveja. Os olhos se
cruzam, envergonhados, meio sem jeito. Trocamos frases cotidianas. De
chegada. Assuntos alheios, mundanos. Mas os olhos dizem mais. Perscrutam
minuciosamente. Sem deixar escapar nada. Mas são as palavras que vão
abrindo as portas, criando trilhas; e somos eloquentes. A cada frase, a
conversa adensa e nos aproximamos mais. Apesar da configuração difícil,
quase impossibilidade, por outros laços em que nos atamos. Mas também
descartamos a indiferença. E somos honestos em reconhecer, sem dizer, o
desejo. A cerveja chega. Você diz ao garçom: "Obrigada!" Nos soltamos
mais, aliviados pela situação cada vez mais definida em suas
imprecisões. Há um campo de possibilidades, vasto, apesar dos laços
alheios. "Vou ao banheiro", você diz, após o enésimo copo. Espero sua
volta, como o tigre espreita a gazela na floresta. Quando chega, gesto
felino, pego-a pela mão com firmeza; você para. Me levanto, ansioso.
Pouco cortês, mas incisivo, ignoro as etiquetas, inclino para o beijo,
enquanto puxo seu rosto. Vejo um pânico fugidio em seus olhos, mas, por
fim, você aceita a investida e se entrega. O tempo para, enquanto sinto
esse primeiro ato de amor, apesar da culpa. A obscenidade está fora de
nós; não no beijo. "Sou puta?", você sussurra constrangida. Aperto seu
corpo contra mim, como quem diz que não. "Te amo!", digo, como se isso
fosse suficiente. Não é. Nos sentamos novamente e brindamos a vida como
ela é. Me levanto e digo: "Minha vez!" E parto para o banheiro, exíguo,
infecto, onde entro pisando em nuvens. ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-47469263292945324272014-01-05T11:46:00.001-08:002014-01-08T05:09:07.188-08:00Sobre perdasMeu pai morreu dia 11 de novembro de 2013. Passou tranquilo,
dormindo, depois de uma vida bem vivida até os 80 anos. Reclamava um
pouco da solidão nos últimos anos e se empedrara num mundo todo seu,
onde as coisas mais básicas de que precisava estavam ao alcance da mão,
exceto, talvez, a companhia inexistente de alguém ao lado. Inclusive o
piano Steinway & Sons, onde compunha seus temas. Um câncer raro o
levou. Não fosse isso, creio que viveria até os 100 anos. Era forte e
saudável. Há muitos anos não bebia nem mesmo a cervejinha. Apenas um
aperitivo após o almoço. Quando foi avisado do diagnóstico, em agosto de
2012, o médico não escondeu as perspectivas sombrias, informando
inclusive as estatísticas de sobrevida das pessoas com esse tipo de
tumor: de três a seis meses, após o diagnóstico. Ele superou, portanto,
todas as expectativas e seguiu, inclusive apresentando uma melhora. Mas
dizia, em tom forçadamente casual, que cruzaria o Rio Jordão em abril.
Quando estive com ele em novembro de 2012, numa Nova York gelada,
indaguei de onde havia tirado aquele mês. "O médico falou", respondeu.
Então escrevi pra ele o poema que segue:<br />
<br />
Quando abril chegar<br />
E o sol mudar o arco de sua curva<br />
Talvez não sejas mais<br />
Do que memória e falta<br />
Dependerá do sonho de vida<br />
Que costuras agora no tecido do dia<br />
Para cobrires tua existência<br />
<br />
Quando abril chegar<br />
Talvez seja tarde demais<br />
E o tempo cumpra os presságios<br />
Que murmuras hoje<br />
Dependerá da vida que sonhas<br />
A vontade de mudar o arco da curva<br />
Que o sol desenha no espaço.<br />
<br />
Em
fevereiro estive novamente com ele. Me parecia mais saudável, embora
não houvesse tratamento possível. O tempo se esgotava silenciosamente.
Ainda assim recuperamos um pouco do humor. O café da manhã era o nosso
melhor momento juntos. Sempre fora e, agora, tinha um valor especial,
com a ideia de despedida. Eu fazia o café forte, como ele apreciava e
comíamos conversando, contando histórias. Um dia, seu humor estava tão
pra cima, que posou para mim com chapéu de Tupac Amaru e máscara
sandinista.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
Deixei-o
com a promessa de voltar. Mas não consegui. Em novembro de 2013, na
madrugada do dia 11, uma segunda-feira, ele atravessou o rio. Foi-se
dormindo. Ao que consta, não sofreu. Durante todo o processo, só foi
sentir dores nos últimos dias, quando recorreu à morfina.<br />
<br />
Foi-se
o homem ficou o mito. O grande artista, o compositor, o músico,
multi-instrumentista. Obituário nos jornais. Organizamos agora uma
expedição para cumprir seu último desejo: jogar suas cinzas no encontro
das águas do Solimões e Negro, onde nasce o Rio Amazonas.<br />
<br />
Ainda
sob o impacto dessa perda, no dia 17 de dezembro foi a vez de minha
mãe. Se a morte de meu pai foi vivida a distância, a da minha mãe foi
sentida momento a momento, ao lado dela. Do primeiro dia em que foi
internada com falta de ar e dificuldade para respirar, até a madrugada
em que ligaram da clínica para avisar que ela havia passado. Enterramos
em 12 horas. Não deu para avisar ninguém e, mesmo assim, compareceram ao
São João Batista uma boa centena de pessoas. Amigos dos três filhos e
as amigas dela. Umas donas arretadas, bossa nova, de humor mordaz. <br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<br />
Minha
mãe não era artista. Era uma pessoa simples, que sofreu muito na vida,
mas nunca deixou que isso tirasse sua leveza. No dia mesmo em que a
levei ao hospital, quando fazia 40 graus sufocantes e ela mal respirava,
ao descer do táxi, agradeceu, simpática, ao motorista. Impossível
pensar que estaria entrando na clínica para não mais sair com vida.
Morreu uns dez dias depois. E ainda me recupero do calvário que foi
conviver com UTIs, médicos, enfermeiros, burocratas de hospitais e
cemitério.<br />
<br />
Agora a vida segue. Sinto a dor dessas
perdas irreparáveis, uma angústia que vem com a sensação de desamparo,
mas também me sinto pronto pra seguir em frente, tentando ter a mesma
leveza que ela teve enquanto viveu.ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-80947738783663520052013-09-11T06:56:00.002-07:002013-09-11T07:16:00.332-07:00Agrupamentos e movimentos<!--[if gte mso 9]><xml>
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<![endif]-->Estava lendo o catálogo da exposição sobre a poesia marginal
que o <span style="color: yellow;"><b>IMS</b></span> organizou. Me lembrei da exposição que vi em Paris sobre <span style="color: red;"><b>Richard Prince</b></span>, da turma
<i>underground </i>americana dos anos 1960. Também estou lendo os cadernos do <span style="color: red;"><b>Helio
Oiticica</b></span>, onde ele maquinava seus projetos de instalações e arte conceitual.
Muito interessante ver o registro da mente de uma pessoa genial como <span style="color: red;"><b>HO</b></span>.
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas voltando ao catálogo dos marginais, a introdução,
escrita por <span style="color: red;"><b>Frederico Coelho</b></span>, faz uma boa análise, mas senti uma certa forçação
para dar a esse grupo heterogêneo de poetas um sentido de grupo. Uma das suas
estratégias é separá-los de outros grupos de poetas da nossa contemporaneidade.
Mas como isso é insuficiente, ele não tem como escapar a certas contingências
históricas que explicam por que escritores distantes em seus estilos foram
reunidos sob o signo de marginal. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Isso me deu asas pra pensar muitas coisas, que só vou
alinhavar aqui, enquanto elas vão ganhando uma forma mais consistente em meu
raciocínio. Em primeiro lugar, fica claro que há agrupamentos e movimentos. Uma
coisa são os modernistas e as vanguardas pós-1950, com seus manifestos e cânones.
Por mais vanguardistas que sejam, esses movimentos têm vinculações com linhagens com tradições.
Como dizia o <span style="color: red;"><b>Risério</b></span>, a vanguarda tem uma relação dialética com a tradição, nem
que seja o rompimento. E esses grupos se forjaram por meio desse relacionamento
problemático, o rompimento do filho com o pai, como uma espécie de processo
psicanalítico coletivo. Daí suas regras estritas expressas em manifestos e
prescrições. Combatem formalismo com formalismo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Outra coisa bem diversa são agrupamentos. Os poetas
marginais e os da geração de 45 estão a meu ver nesse segundo grupo. Não dá
para classificar a poesia marginal ou a produção dos poetas de 45 como um
movimento, pois o que os amarra no discurso descritivo são coisas
contingenciais, como a forma material de produzir (o mimeógrafo, no caso dos
marginais), ou como preocupações estéticas gerais, como o retorno a certo
formalismo para romper com ele novamente, como no caso da geração de 45. Como
colocar no mesmo grupo, por exemplo, <span style="color: red;"><b>Geraldo Carneiro</b></span> e <span style="color: red;"><b>Chacal</b></span>; <span style="color: red;"><b>Cacaso</b></span> e <span style="color: red;"><b>Wally
Salomão</b></span>? </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Há muito fetichismo e considerável desconhecimento sobre
esses agrupamentos. O próprio <span style="color: red;"><b>Coelho</b></span>, na introdução do catálogo da exposição
dos marginais, se refere ao soneto como uma obrigatoriedade da produção poética da geração de 45. Taí um agrupamento pouco debatido, compreendido e mergulhado num relativo
esquecimento da crítica, da mídia e dos poetas contemporâneos. A volta ao
formalismo rompido pelos modernistas nunca foi perdoado. Foi mal compreendido como
um retrocesso em relação à vanguarda dos anos 1920. Mas, na verdade, a
experiência do retorno à forma era a forma de poder romper novamente com a
tradição. Antes de recorrer ao verso livre, aprender a redondilha e as
formalidades das linhagens tradicionais, reforçando a experiência do
rompimento. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas isso não está escrito em lugar nenhum. Aparece em
conversas dispersas, em pedaços de declarações e depoimentos incompletos. Nas entrelinhas. É
preciso pescar essa percepção das empoeiradas estantes das bibliotecas, mas
isso dá trabalho e uma geração como a de 45 não desperta interesse midiático. É
melhor falar de poetas ligados a certos movimentos, como as vanguardas pós-50,
abençoadas pelo tropicalismo de <span style="color: red;"><b>Caetano </b></span>& <span style="color: red;"><b>Gil</b></span>. Taí uma explicação possível para o
sucesso editorial da poesia de <span style="color: red;"><b>Leminski</b></span>: sua vinculação por afinidade a uma
estética e filosofia que se tornou vitoriosa na contemporaneidade. O tropicalismo
é o hoje o nosso cânone. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Enquanto isso, lembro que o <span style="color: yellow;"><b>Coletivo Chama</b></span> convida
para o show de lançamento do segundo CD do <span style="color: yellow;"><b>Escambo</b></span>, <span style="color: yellow;"><b>Neon</b></span>, hoje, no <span style="color: yellow;"><b>Espaço Cultural Sérgio
Porto</b></span>, às 20h.</div>
ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-57244040379540771522013-09-08T12:58:00.001-07:002013-09-08T12:58:50.418-07:00Enquanto isso<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não me lembro se foram nove setembros ou sete novembros. O
tempo não escorria assim naquele hiato. Era um estar estando, e quando o raciocínio vinha, o momento já era outro. É como se ideia como tal só fosse
possível no passado. O pensamento como algo ido. Lá atrás. Ou então se projetava
para frente. Num a-vir, num a-qualquer-momento. Como será tudo lá
adiante. Amanhã. Depois da esquina de nossos dias. Enquanto isso, no agora, só vida e
sonho. Intensa vida ao seu lado, amiga. Circulando, embrenhando, penetrando. Sofrendo, gozando. Simbiose.
Um limbo tão extasiante quanto irreal. Tão irreal como tempo esquecido em
tantos outubros, em muitos dezembros.</div>
<br />ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-45348659188280912272013-07-04T08:38:00.001-07:002013-07-04T13:25:50.530-07:00O velho Aurora de volta<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGdk7knArQxa_ZgUbWw45NGipNEqFe0o8X9D7QC6lE-RkGvHV4D-OH1gavfSLKoNFahtVIHRIEa91VpXus_C8ryUv-qpEImupRqfnowuwo0EE3z5L5E6_7ULeYiAeDzoR_D7vXp5ynETca/s1600/aurora01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGdk7knArQxa_ZgUbWw45NGipNEqFe0o8X9D7QC6lE-RkGvHV4D-OH1gavfSLKoNFahtVIHRIEa91VpXus_C8ryUv-qpEImupRqfnowuwo0EE3z5L5E6_7ULeYiAeDzoR_D7vXp5ynETca/s320/aurora01.jpg" width="320" /></a></div>
Uma pausa na revolução em andamento para falar de coisas da
vida. O velho <span style="color: yellow;"><b>Aurora</b></span> foi comprado. O histórico bar da Visconde de Caravelas com
Capitão Salomão, no limite entre Botafogo e Humaitá, faz parte da minha vida
desde o fim dos anos 1970. Desde a época em que havia a figura história do
garçom <span style="color: red;"><b>Lima</b></span>, com sua arruda na orelha e um atendimento como não se vê mais. Nos
primórdios era um ponto de encontro da juventude, especialmente músicos e
atores. Suas paredes eram repletas de cartazes de shows e peças de teatro, na
época em que as camisetas “Vá ao teatro” ainda não tinham sido sacaneadas pela
turma do <span style="color: yellow;"><b>Cassetta </b></span>com o complemento: “Mas não me chame”.Me lembro de mesas com <span style="color: red;"><b>Manduka</b></span>, <span style="color: red;"><b>Enrica Bernardelli</b></span>, <span style="color: red;"><b>Geraldinho Azevedo</b></span>, entre outros, e discussões intermináveis e estratosféricas. <br />
<br />
<div class="MsoNormal">
O casarão, de 1898, abriga um ambiente amplo, típico dos
botequins do início do século 20. A cozinha tinha o bem servido carro-chefe:
Lulas com arroz e brócolis. A lula vinha desfiada em tiras finas e o arroz
verde ficava suculento. Comiam três. O lombo de bacalhau (àquela época ainda
era possível comer bacalhau em botequim sem ficar pobre) à moda portuguesa era
outro sucesso do bar. Tudo receita da família de meu amigo <span style="color: red;"><b>Rogério Loro</b></span>, que
trocou o bar pelo jornalismo. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWLLhl5WurXcjMnQcpcwm_DLGzYGFSTc2d-N0jyZYtwbmciDOax4E5_izk6Kqrm5g0jMib6KCvH_5RP43RgzPJYSUbPS784oEWHAkenZ1wlYbyzk_WzE2orDtZRaKBzk-YfSCX1ka_CPXE/s1600/aurora02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWLLhl5WurXcjMnQcpcwm_DLGzYGFSTc2d-N0jyZYtwbmciDOax4E5_izk6Kqrm5g0jMib6KCvH_5RP43RgzPJYSUbPS784oEWHAkenZ1wlYbyzk_WzE2orDtZRaKBzk-YfSCX1ka_CPXE/s320/aurora02.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
Depois, a família de <span style="color: red;"><b>Loro </b></span>saiu, deixando o outro sócio
tomando conta do lugar, a coisa começou a decair aos poucos. O prato com lula e
arroz e brócolis nunca mais foi o mesmo (hoje em dia é possível comer algo
semelhante no <span style="color: yellow;"><b>Bismarque</b></span>, em Botafogo), e as carnes entraram firme, substituindo
os peixes e frutos do mar. Além disso, o bar passou a ter o defeito de fechar
cedo. Às 21h30 já era possível sentir o nervosismo dos garçons, apressando
pedidos, avisando que a cozinha iria fechar e coisa e tal. A gota d’água foi a
última vez que fui lá, há pouco tempo, com minha amiga <span style="color: red;"><b>Renata Malkes</b></span>: só estavam
servindo cerveja Itaipava. Só.<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> </span><br />
<br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Para mim, foi o sinal do fim de uma longa agonia. Aquela história do
paciente com uma doença terminal e muito sofrimento, cuja morte acaba trazendo
tanto alívio quanto dor. No caso do <span style="color: yellow;"><b>Aurora</b></span>, temi que se tornasse mais um
<span style="color: yellow;"><b>Belmonte</b></span>. Mas eis que na terça-feira recebo a boa notícia: meu querido amigo
<span style="color: red;"><b>Kadu Tomé</b></span>, um dos sócios do <span style="color: yellow;"><b>Bracarense</b></span>, comprou a casa. <span style="color: red;"><b>Kadu </b></span>é um jovem
empreendedor do ramo de botequim, com alma de botequineiro. Tenho certeza que
saberá preservar a memória da casa e recuperar a imagem do velho <span style="color: yellow;"><b>Aurora</b></span>, melhorando o que há para melhorar.</span></div>
ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-83481396704804054172013-06-03T09:32:00.002-07:002013-06-03T09:52:44.261-07:00O Maracanã da gentrificação<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5heYzusJn5-R5VXrCr87YdzQL_yFJVaMdBtgcsjAHfz0jtHEAhNMky62J1XrE2l-8FaNEV5kAF2CnpHnXpHeW7zam9cfHi-AP0ylVyGEVB68OLN6yyulffOOqQui0KsmBCjVeKWPgcvB6/s1600/03102010(001).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5heYzusJn5-R5VXrCr87YdzQL_yFJVaMdBtgcsjAHfz0jtHEAhNMky62J1XrE2l-8FaNEV5kAF2CnpHnXpHeW7zam9cfHi-AP0ylVyGEVB68OLN6yyulffOOqQui0KsmBCjVeKWPgcvB6/s320/03102010(001).jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="color: orange;"><i><b>Botafogo, em plena transformação, com demolições de vilas e sobrados, para dar lugar a novos condomínios fechados.</b></i></span> </div>
<br />
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
Eu me lembro, quando estava em Paris, da discussão sobre as
reformas das estações do metrô. A prefeitura da cidade encomendou a diferentes
escritórios de arquitetos a renovação das plataformas e o que se percebeu foi
que as mudanças também visavam a impedir que os sem-teto pudessem transformar
os bancos em cama, além de uma série de modificações que tornavam uma prolongada
permanência na estação um tanto desconfortável. A ideia era tornar tudo bonito,
funcional e moderno, sem dar brecha a usos não planejados pelos gestores para
as plataformas. Não adiantou muito, porque as pessoas passaram a dormir
deitadas no chão. Mas as mudanças provocaram acaloradas discussões, com
opiniões a favor e contra na mídia e nas universidades, e evidenciou-se, mais
uma vez, o problema do que fazer com a miséria e a pobreza na cidade.</div>
<br />
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
Em plena era das <i>cidades-mercadorias</i>, em que as metrópoles
disputam entre si os fluxos do capital globalizado, seja atraindo turistas ou
investimentos em negócios, criar as condições para receber esses recursos
tornou-se uma prioridade para as administrações municipais. Questões como
violência, miséria, má infraestrutura, transportes, limpeza urbana, mobilidade
e sinalização, oferta de serviços, realização de megaeventos, políticas de
tolerância zero e choques de ordem viraram prioridade, apoiadas num discurso
vertiginoso de desenvolvimento e euforia com a cidade que o cidadão herdará
como consequência dessas reformas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Vemos exemplos que, aparentemente, deram certo, servindo de
modelo e se repetindo em outras cidades, como as políticas de segurança
adotadas em Bogotá, que inspiraram parte da políticas das UPPs no Rio; a
política de tolerância zero do prefeito de Nova York, <span style="color: red;"><b>Rudy Guiliani</b></span>,
transformada em choque de ordem aqui. A renovação da área portuária,
normalmente degradada, em área de serviços e de negócios, com um museu feito
por um arquiteto renomado, enfim, os exemplos se repetem. Tudo isso, exigiu que
o Poder Público gerisse a cidade como uma empresa, com gestão profissional e
metas de produtividade. E, com os cofres vazios, as prefeituras (e demais instâncias
executivas) se associaram à iniciativa privada, que em troca, abocanhou boa
parte das benesses dessas reformas urbanas, a começar por mudança no plano
diretor para alterar gabaritos de construção e mudar zoneamento de áreas
urbanas para a construção de shoppings, prédios residenciais de negócios etc.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O setor imobiliário, aliás, foi o que mais se beneficiou
dessa lógica de gestão urbana. Apoiou-se inicialmente nas isenções tributárias
concedidas pelo governo federal, preocupado com a geração de emprego no setor
da construção civil. Em seguida, o Congresso aprovou a reforma da lei do
inquilinato, com o objetivo de destravar o mercado de imóveis, mas com mudanças
que tornaram precárias a posição dos inquilinos. O resultado foi uma renovação
do tecido urbano dos bairros com uma profusão de construção de prédios,
descaracterizando bairros tradicionais, e um êxodo urbano interno provocado
pelo que os sociólogos britânicos e americanos chamam de gentrificação.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas o problema dessa lógica é que, na bela cidade do futuro,
não há lugar para certa parcela da população. Exatamente essa que vai sendo
expulsa de bairros tradicionais ora por políticas de remoção, como a que
presenciamos na zona portuária ou na Vila Autódromo, ou expulsas pela
gentrificação. Ao mesmo tempo, questões básicas como educação, pobreza, saúde,
transportes, violência urbana, que exigem investimentos com uma lógica social,
sem gerar uma visibilidade imediata, que torne a cidade mais atraente ao
capital globalizado, vão sendo relegadas ao segundo plano. O importante é
tornar visíveis as reformas urbanas, as belezas naturais, a cultura da
população, criando uma imagem de marketing que transforme a cidade em marca
internacional.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeY4hYV8mlJPoq_WA3dXZmMCT2WyjjwvKpNm7-7o_LIRzqeNJqhGrqbDofYrqN0sSbpaclYo-jsWN_wilyBJsGgvj9jF68cS_vMQ-yJ77pOWLTbhD5q51gPeUFa0hwcqYuvLZI_-9KMnH6/s1600/protesto_maracana_andur.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="201" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeY4hYV8mlJPoq_WA3dXZmMCT2WyjjwvKpNm7-7o_LIRzqeNJqhGrqbDofYrqN0sSbpaclYo-jsWN_wilyBJsGgvj9jF68cS_vMQ-yJ77pOWLTbhD5q51gPeUFa0hwcqYuvLZI_-9KMnH6/s320/protesto_maracana_andur.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="color: orange;"><b><i>Protesto na inauguração do Maracanã contra a privatização do estádio e a demolição de imóveis do entrono (foto: André Durão/Globo Esporte)</i></b></span><br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
Quem foi ao Maracanã ontem, na inauguração do estádio, como
meu amigo <span style="color: red;"><b>Jason Vogel</b></span>, ficou impressionado com a beleza, a organização e
limpeza do <span style="color: yellow;"><b>Estádio Mário Filho</b></span>. Depois dos elogios, no entanto, nos lembramos
de jogos históricos que presenciamos ali (eu vi Brasil 1 x 0 Paraguai, gol de
<span style="color: red;"><b>Pelé</b></span>, em 1969, na eliminatória da Copa do Mundo de 70, com o maior público de
todos os tempos no Maraca: 210 mil torcedores), falamos de “geraldinos” e “arquibaldos”,
e <span style="color: red;"><b>Jason </b></span>constatou: “O novo Maracanã não tem pobre. É o Maracanã da
gentrificação”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Esse tipo de lógica urbana é uma contradição com a filosofia
de inclusão social, que o governo federal conseguiu implementar, ainda que
precariamente, nos últimos anos, distribuindo um pouco melhor a renda nacional,
gerando empregos formais, reformando leis coloniais de empregados domésticos,
entre outras iniciativas. Ela inclusive ameaça a continuidade dessa maior
integração social, atrasando investimentos em educação, moradia e saúde, os
pontos centrais de uma gestão humana, voltada para as pessoas e não
exclusivamente para determinadas parcelas da população e para a criação de uma
imagem fantasiosa de cidade maravilhosa, meramente como uma marca publicitária.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Fantasia que vai fazendo água diante da realidade de tiroteios, tráfico
e turistas atacados em favelas pacificadas; no caos do trânsito (em que se
colocam motoristas de ônibus como vilões e carrascos de ciclistas, mas não se fala do poder e
da responsabilidade das empresas de ônibus no problema do transporte urbano), nas
reformas de áreas urbanas segundo lógicas de demolições e sem uma consciência
clara e definida do patrimônio histórico, da identidade cultural do tecido urbano, resultando a cidade numa
esquizofrenia arquitetônica. E são muitos os exemplos de realidade que, aqui e
ali, explodem na cara do morador anestesiado pela euforia,</span>ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-91422661406514645662013-05-30T10:34:00.001-07:002013-05-30T11:07:22.369-07:00Jornalismo impresso perto do fim?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqhyphenhyphensaFxdo3PprRreF50gPSFoSHdGEzV5OrbFi3wdwxjJIq87OPyyt_Mmq-KFHKYaLpJ2SwCVzxrxEtM4CClQIh1FMOgnZR7CjFugkE2JIuDtYgGcud7VuUYSeYM6MxxNMQ3VwmBVXHw91/s1600/redacao01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqhyphenhyphensaFxdo3PprRreF50gPSFoSHdGEzV5OrbFi3wdwxjJIq87OPyyt_Mmq-KFHKYaLpJ2SwCVzxrxEtM4CClQIh1FMOgnZR7CjFugkE2JIuDtYgGcud7VuUYSeYM6MxxNMQ3VwmBVXHw91/s320/redacao01.jpg" width="320" /></a></div>
Nessas últimas semanas morreram dois magnatas da imprensa brasileira. Por acaso, estava na redação no momento em que chegou a informação sobre a morte de <span style="color: red;"><b>Ruy Mesquita</b></span>, do <span style="color: yellow;"><b>Estadão</b></span>, na terça-feira, dia 21 de maio. No fim de semana seguinte, fui convocado de última hora para fazer o plantão, no lugar de uma colega que machucara o pé, e, no domingo, ao fim do primeiro clichê (edição), chegou a notícia da morte de <span style="color: red;"><b>Roberto Civita</b></span>. Nas duas ocasiões, fizemos segundo e terceiro clichês, mobilizamos repórteres em várias cidades para repercutir com autoridades e personalidades as mortes, e fizemos algumas trocas rápidas de edição (quando se para a rotativa para acrescentar uma informação importante: o velho grito de "parem as máquinas!")<br />
<br />
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O mais comum é que esses momentos de pura adrenalina na redação ocorram devido a fatos extraordinários (<span style="color: yellow;"><b>O Globo</b></span>, por exemplo, fez um caderno inteiro em duas horas no 11 de Setembro de 2001), o que se chamava, nos primórdios, de "bomba!". No mais, quase sempre temos segundo clichê e, em algumas editorias, como a <span style="color: yellow;"><b>Rio</b></span> e a seção de <span style="color: yellow;"><b>Esportes</b></span>, um terceiro clichê não é nada raro. Ao fim das mudanças, saímos cansados, mas com a sensação do dever cumprido, imaginando que o leitor, no dia seguinte, encontrará os dados mais atualizados possíveis e as informações relevantes sobre seja qual for o assunto.<br />
<br />
Mas isso já não é mais assim, hoje em dia. Saí do fechamento dos dois óbitos cansado e consciente de ter ajudado a fazer uma boa edição. Mas, no dia seguinte, ao pegar o jornal na portaria de casa, me deparei com um jornal velho. Já havia lido na versão <i>online</i>, antes de descer, informações mais atualizadas, como local do velório, novos depoimentos de personalidades sobre os mortos etc. Poderia ter jogado o jornal fora, não fossem as informações de fundo, as análises e a voz dos especialistas tratando do assunto. Me convenci de uma vez por todas que o único caminho de salvação para o jornalismo impresso é investir no conteúdo analítico, de qualidade. O jornalismo impresso, ainda atrelado à era industrial, precisa mudar para concorrer com o jornalismo <i>online</i>, que traz a notícia em tempo real. E a única forma é por meio da produção de conteúdo de qualidade. Não adiantam investimentos, reorganizações
internas, unificação das redações se os gestores responsáveis pelo jornalismo impresso não
entenderem que, cada vez mais, têm que oferecer um jornalismo reflexivo e
analítico.<br />
<br />
De repente, chega a notícia de um passaralho (demissão em massa) no jornal <span style="color: yellow;"><b>Valor</b></span>. Na tentativa de enxugar os gastos, demitiram 50 funcionários, dos quais 30 jornalistas. Mas não 30 jornalistas quaisquer. Foram para a rua os mais antigos e os mais graduados. Ao comentar com um colega no <span style="color: yellow;"><b>Globo</b></span> esses cortes, ele me perguntou, com razão: que conteúdo é esse em que eles estão apostando, se demitem suas melhores cabeças?<br />
<br />
O problema é complexo. De um lado, a imprensa hoje é um
negócio voltado para gerar dividendos a seus acionistas e, portanto, precisa
ser gerida profissionalmente com esse foco. No topo executivo dos principais conglomerados
de comunicação os homens de imprensa foram substituídos por executivos de
outras áreas, administradores a maioria. E, ao mesmo tempo em que o jornalismo passa
a ser um híbrido entre uma instituição pública, com o dever de informar, e uma
empresa privada, com foco no lucro, ocorre em outro campo uma revolução
tecnológica sem precedentes.
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A internet, as redes sociais, os <i>gadgets </i>eletrônicos e a
mobilidade conectada em nuvens de informações transformaram radicalmente a relação
emissor-receptor. Hoje, o leitor não é mais um sujeito passivo. Ele não só
seleciona melhor as notícias que quer ler, mas as reproduz em suas redes
pessoais.<br />
<br />
Essa realidade atingiu em cheio o saber jornalístico. Um saber
que se situa entre o senso comum e o saber científico ou acadêmico. O
jornalista tinha acesso a muitas informações, algumas delas especializadas, e,
assim, interpretava para o público leigo o saber mais complexo da academia, das
corporações, dos especialistas etc. Agora, essa relação se tornou opaca. Com o
bombardeio de informações que todos recebem o tempo todo e a facilidade em
consultar dados antes obscuros, o leitor comum hoje passou a ter acesso a um
saber que se equivale ao do jornalista, diminuindo sua dependência em relação à
imprensa. Qualquer cidadão que goste de futebol, por exemplo, pode ter um blog com suas análises, pareceres e opiniões. Antes, essa possibilidade inexistia. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Então, para o jornalismo impresso só cabe uma saída: investir na qualidade e na profundidade das informações. É preciso recriar um saber especializado que desperte no leitor a necessidade de se informar melhor por meio do jornal. Apostar em colunas, crônicas, artigos, seções de ciências e tecnologia, campos onde as informações são mais complexas e analíticas. Trabalhar a notícia quente, que também estará no <i>online</i>, com sua análise, esmiuçando as consequências e desdobramentos. </div>
ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-48723484941114652742013-05-11T13:42:00.000-07:002013-05-11T13:48:50.467-07:00Três meninas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVmWzRGZhZu3iusZTiO_BUNnPfbe5q8o1CdzkqhJSKrNtSTVujnAEjF2UN9zlxjKmEgk5JCn-bm6ahNymQ8a2TKFLx9EI5WP11xiwFKr3Ho2rLC_O__1TFWBl0Thw2KbFXXmNkIj6DlPSn/s1600/tres+emninas+num+casamento+outro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVmWzRGZhZu3iusZTiO_BUNnPfbe5q8o1CdzkqhJSKrNtSTVujnAEjF2UN9zlxjKmEgk5JCn-bm6ahNymQ8a2TKFLx9EI5WP11xiwFKr3Ho2rLC_O__1TFWBl0Thw2KbFXXmNkIj6DlPSn/s320/tres+emninas+num+casamento+outro.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
Três meninas brincam de roda<br />
Três meninas se multiplicam<br />
Em rodas, carnavais e bodas<br />
Rodam as saias três meninas<br />
Produzidas, belas, poderosas<br />
Giram, rodopiam minha vida<br />
Três meninas, três amigas<br />
Que me invadem sem querer <br />
E me enredam em seu rodar.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1eFGL8GlQg_fbT5_UzE2XILyLH-Up_IkpXqmPFwlMGGW6ZlEl-_NnSmJc603LUIZcg1n7DfyYXZLhSi0dYhg3PF290DVCxlE8s6WOCZpXmktHtdRFcdNIOrzBjYlpjBaT88nyyGBuCEek/s1600/tres+meninas+no+carnaval.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1eFGL8GlQg_fbT5_UzE2XILyLH-Up_IkpXqmPFwlMGGW6ZlEl-_NnSmJc603LUIZcg1n7DfyYXZLhSi0dYhg3PF290DVCxlE8s6WOCZpXmktHtdRFcdNIOrzBjYlpjBaT88nyyGBuCEek/s320/tres+meninas+no+carnaval.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOhNB28aqMTYfqDCFTuPL4bOx9VHtZYs3CCQAgWJ5yLGkm5SojhqStj7sG4iC_bTCqMDkXEZUFCYhDzBZ9U2I37N7pz5_XQSEDJrd1pjTXJkJP-n0kFGm3X5h2qa-ZaHOV6tL9UllYy0x9/s1600/tres+meninas+numa+despedida.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOhNB28aqMTYfqDCFTuPL4bOx9VHtZYs3CCQAgWJ5yLGkm5SojhqStj7sG4iC_bTCqMDkXEZUFCYhDzBZ9U2I37N7pz5_XQSEDJrd1pjTXJkJP-n0kFGm3X5h2qa-ZaHOV6tL9UllYy0x9/s320/tres+meninas+numa+despedida.jpg" width="320" /></a></div>
<br />ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-42009007887602434482013-05-11T06:20:00.000-07:002013-05-11T13:42:44.031-07:00Fim das fériasVoltando aos poucos depois de um mês de férias... cito o verso dos <span style="color: red;"><b>Beatles</b></span> murmurado lamentosamente no <span style="color: yellow;"><b>Sargent Pepper's</b></span>: <br />
<br />
"I'd love to turn you on!"<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiUvNQNAraw_kClz5i0IMui_4XmJJ8-bt3j1nlbIKPNTn6l4XD6lUTgYS_iTDpJyp1a91i_T6OTA83HpQ8iocRsfjMD88RHPZdi66VvqfLL2he3V2rrR8dr4Xy1UUKNbiDFMhKZ4aw9hjw/s1600/postal217.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="218" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiUvNQNAraw_kClz5i0IMui_4XmJJ8-bt3j1nlbIKPNTn6l4XD6lUTgYS_iTDpJyp1a91i_T6OTA83HpQ8iocRsfjMD88RHPZdi66VvqfLL2he3V2rrR8dr4Xy1UUKNbiDFMhKZ4aw9hjw/s320/postal217.jpg" width="320" /></a></div>
<br />ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-34734306760749140562013-03-03T10:54:00.002-08:002013-03-03T14:39:41.437-08:00Chico, Vinícius e as mulheres<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIPLHCHtodqTu5ine_zGh1IZZ7jTINmgNCF7Bl-FSgUAqnuGH2yX4Y52SNjWAUdQl6RVauJCwyuyLfOkAlfkmyZp10xQkLlcGvgZP7tFgzAAWQtv1izTdAFI10b0Cy97TtePzj-bqboJf8/s1600/postal203.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIPLHCHtodqTu5ine_zGh1IZZ7jTINmgNCF7Bl-FSgUAqnuGH2yX4Y52SNjWAUdQl6RVauJCwyuyLfOkAlfkmyZp10xQkLlcGvgZP7tFgzAAWQtv1izTdAFI10b0Cy97TtePzj-bqboJf8/s320/postal203.jpg" width="215" /></a></div>
<br />
Sei que é uma estratégia velha e batida, muito usada no Brasil, desde antes de <span style="color: red;"><b>Gregório de Mattos</b></span>. Mas essa tática de atacar certas figuras ou certos valores tem limite. Um limite que deve ser a própria insignificância do agressor. Responder a esse tipo de crítica é cair na armadilha, mas às vezes a coisa merece nem que seja uma reflexão. Já acompanhei boas polêmicas, envolvendo figuras divergentes, mas com graus de inteligência, cultura e raciocínio elevadíssimos, o que tornava o debate, por mais agressivo que fosse, como uma espécie de embate platônico. <span style="color: red;"><b>José Guilherme Merquior</b></span> e <span style="color: red;"><b>Carlos Henrique Escobar</b></span>, por exemplo. Isso sem falar em grandes nomes da rabugice nacional, como <span style="color: red;"><b>Paulo Francis</b></span>, ou mais ainda, o genial <span style="color: red;"><b>Nelson Rodrigues</b></span>, e suas frases imortais. <span style="color: red;"><b>Glauber Rocha</b></span> e o próprio <span style="color: red;"><b>Caetano Veloso</b></span>, para citar nomes inquestionáveis quanto as suas genialidades.<br />
<br />
Quando penso na constelação de nomes citados acima, alguns mais à direita outros nem tanto, sinto um certo alívio em perceber que, nestes tempos de pulverização de valores, até essa estratégia anda abalada pela contemporaneidade. Quem são os grandes polemistas de hoje em dia? Uns tucanos contratados pela <span style="color: yellow;"><b>Veja</b></span>? Assisti outro dia ao <span style="color: yellow;"><b>Manhattan Connection</b></span>, um programa baba-ovo e subserviente à fantasia de prosperidade nova-iorquina, que interrompe e inverte a originalidade de latino-americanos talentosos que, desde os anos 1960, foram à <span style="color: yellow;"><b>Grande Maçã</b></span> com projetos de revolucionar o Império. Figuras como <span style="color: red;"><b>Helio Oiticica</b></span>, o próprio <span style="color: red;"><b>Glauber</b></span>, <span style="color: red;"><b>Ruben Gerchman</b></span>, o argentino <span style="color: red;"><b>Gato Barbieri</b></span> e músicos brasileiros como <span style="color: red;"><b>Naná Vasconcelos</b></span>, <span style="color: red;"><b>Claudio Roditi</b></span>, <span style="color: red;"><b>Dom Salvador</b></span>, <span style="color: red;"><b>Dom Um Romão</b></span> e, com licença da puxada de brasa, meu pai, <span style="color: red;"><b>Gaudencio Thiago de Mello</b></span>, entre outros. Mas enfim, o programa mostrava os comentaristas de sempre e, entre eles, um energúmeno chamado <span style="color: red;"><b>Diogo Mainardi</b></span>, um desqualificado que fazia insinuações de que <span style="color: red;"><b>Chico Buarque</b></span> não sabe escrever, não é um poeta e sei lá mais o quê. <br />
<br />
Era mais uma vez, nitidamente, a velha estratégia: bate-se no ícone, na referência, para chamar a atenção sobre si. Mas, quando se volta para o idiota, o que se vê? Idiotice, é claro. E, infelizmente, cada vez mais esse conservadorismo com sotaque paulistano vai ocupando a mídia atual. A mesma elite de Alto Pinheiros e do Alto Leblon, com sua ojeriza a tudo que cheire a popular. Cada vez mais um discurso conservador, retrógado e elitista vai se disseminando por progamas, como uma série de idiotices femininas, para a "mulher moderna", como <span style="color: red;"><b>Saia Justa</b></span> e outros tantos lixos, como se o telespectador fosse um mentecapto. Nos painéis do <span style="color: yellow;"><b>Globonews Painel</b></span> raramente são convidados especialistas de várias correntes, sejam elas políticas, acadêmicas ou ideológicas. Outro dia, para discutir demarcação de terra indígena, <span style="color: red;"><b>William Waack</b></span> convidou advogado, empresário, políticos, menos índio e antropólogo. Que liberdade de expressão é essa? Nas discussões sobre ciência política e geopolítica, estão sempre os mesmos embaixadores do <span style="color: yellow;"><b>Itamaraty</b></span>, todos da época de <span style="color: red;"><b>Fernando Henrique Cardoso</b></span>... enfiando a porrada, daquele jeito educado, no <span style="color: red;"><b>Amorim </b></span>e no <span style="color: red;"><b>Patriota</b></span>. Enfim, os exemplos abundam.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1Q4a682a58JSRVend5aYNI0Rtfg7rMecEuu7sFW3VpodDqd0_YZK60BJJMp6e34hEclHnMDC2rKhooNygnVAQI7qSymo_cSLCFpgkMqce5OkGc8ynZqQDZ9htHxjHMh7Z-QAVnhJPYIZA/s1600/postal154.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1Q4a682a58JSRVend5aYNI0Rtfg7rMecEuu7sFW3VpodDqd0_YZK60BJJMp6e34hEclHnMDC2rKhooNygnVAQI7qSymo_cSLCFpgkMqce5OkGc8ynZqQDZ9htHxjHMh7Z-QAVnhJPYIZA/s320/postal154.jpg" width="213" /></a></div>
<br />
E tudo isso faz parte do momento. A mídia no Brasil tem uma posição ideológica nítida e utiliza seus canais para expressá-la. Democracia é assim, dizem. Então, vamos em frente. Mas, daí, o energúmeno do <span style="color: yellow;"><b>Manhattan Connection</b></span> desancar o <span style="color: red;"><b>Chico </b></span>para aparecer é um pouco demais.<br />
<br />
De qualquer modo, a resposta veio no <span style="color: yellow;"><b>GNT</b></span>, num documentário, que eu ainda não tinha visto, sobre o <span style="color: red;"><b>Chico</b></span> e sua relação com as mulheres. Ele desmentiu o mito que se disseminou por aí, de que ele entendia a alma feminina como ninguém, pois só assim seria capaz de escrever as letras do ponto de vista feminino tão intimamente bem. Segundo o <span style="color: red;"><b>Chico </b></span>o que o fez escrever tão bem sobre a mulher, e sobretudo, a partir do olhar feminino, foi seu desejo pela mulher. Sua curiosidade por um universo que, no fim das contas, ele não entende nada. E, é verdade, as razões femininas são tão misteriosas que nos aturde.<br />
<br />
Nosso clube masculino é todo lógico. As regras são claras e as competências e disputas bem demarcadas. Nossa sensibilidade passa por outros canais. Mas a atração pela mulher nos obriga a um jogo de alteridade que abre nossa percepção e sensibilidade num outro nível. E é isso que permitiu ao <span style="color: red;"><b>Chico </b></span>escrever sobre a alma feminina com tanta propriedade, pelo menos para certa geração de mulheres. Talvez, algumas letras hoje não façam mais sentido. Mas a estrutura cognitiva que subjaz a isso certamente continua lá.<br />
<br />
Tenho duas amigas que amam o <span style="color: red;"><b>Vinícius de Moraes</b></span>. Uma desconhece as histórias do <span style="color: red;"><b>Vinícius</b></span> mulherengo, a outra me emprestou um livrinho do <span style="color: red;"><b>Affonso Romano de Sant'Anna</b></span>, chamado <span style="color: yellow;"><b>Tempo de delicadeza</b></span>. Nele, <span style="color: red;"><b>Sant'Anna</b></span> tem uma pequena crônica chamada <span style="color: yellow;"><b>Confraria dos machos</b></span>, que é sensacional e explica muita coisa. Ele narra, e muito bem, a história de uma paixonite de <span style="color: red;"><b>Vinícius</b></span>, já com 60 e tantos, por uma jovem de 17 anos. Uma paixão recíproca que acaba com os dois fugindo para Roma, com ajuda dos amigos de <span style="color: red;"><b>Vinicius</b></span>, inclusive o <span style="color: red;"><b>Chico</b></span>. Daí a ideia de confraria. Esse bando de meninos quarentões, sessentões, brincando de paixão. Uma coisa bem masculina e dionisíaca. Todos do clube, uns sátiros apaixonados por curvas e ancas femininas. Para perscrutar tão bem a alma feminina, como <span style="color: red;"><b>Chico</b></span> e <span style="color: red;"><b>Vinicius</b></span> fazem, só mesmo com tanto estranhamento. ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-21069819927767659722013-02-15T05:01:00.001-08:002013-02-15T05:02:22.939-08:00Mormaço na floresta remix<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0ttVSTwsd2IIS22mAemA1HkSOGzB_1VXKvQvMd-2av335SMf77fZWIwrysRRVN2XG1JvFdJyyrdZGxVkGZ_iRWJEEwoUJtbzXnTMv1_o29CDtkyOh4h64QeZQCGr8beaBbPWcIvVhEAPl/s1600/rio_andira02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0ttVSTwsd2IIS22mAemA1HkSOGzB_1VXKvQvMd-2av335SMf77fZWIwrysRRVN2XG1JvFdJyyrdZGxVkGZ_iRWJEEwoUJtbzXnTMv1_o29CDtkyOh4h64QeZQCGr8beaBbPWcIvVhEAPl/s320/rio_andira02.jpg" width="320" /></a></div>
Já mandei avisar que não irei. Que, dessa vez, descansarei os pés e pouparei meu espírito de tantas ocorrências. Dessa vez, olharei o horizonte, espreguiçando uma moleza no oscilar da rede, estrategicamente armada na varanda. Observarei pássaros e insetos ainda não catalogados pela ciência ao ritmo do balançar suave do pêndulo de pano. Me entregarei aos poucos e definitivamente à natureza, em torno da casa de madeira e vidro na floresta. Estarei com <span style="color: red;"><b>Manoel de Barros</b></span> e <span style="color: red;"><b>Thiago de Mello</b></span>, companhias propícias ao mormaço.<br />
<br />
Não, meu amor. Dessa vez não cairei na folia. É minha alma que solicita essa delicadeza. Ter com os bichos do mato, ver os índios mais uma vez, o pôr do sol de aquarela, enquanto o banzeiro chacoalha o barco e me faz sentir no esplendor de minha insignificância. Esperarei o frescor que vem da chuva das 17h e tomarei um sorvete com a cabocla na avenida verde da cidade que não está no mapa. Depois imaginarei você, inteira e nua, no torpor do mormaço, ao meu lado, ali, na rede que range o ritmo do dia. Serei feliz para sempre no instante. <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjg9nkFDCkaT6jFQvnPq6_d5UGd5uvX8CG9qkM36T5Hwr-k70guGAwuLUteGzSsWcMhZvLM6G4uXH0L-1qRYwJX1NaghwRdEyR5SPBq-OTG3_5nMwrnSShEyzHCPKgULO-n3PCV53ZN-J1q/s1600/casa_no_amazonas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="211" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjg9nkFDCkaT6jFQvnPq6_d5UGd5uvX8CG9qkM36T5Hwr-k70guGAwuLUteGzSsWcMhZvLM6G4uXH0L-1qRYwJX1NaghwRdEyR5SPBq-OTG3_5nMwrnSShEyzHCPKgULO-n3PCV53ZN-J1q/s320/casa_no_amazonas.jpg" width="320" /></a></div>
<br />ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-76831727047999034312013-02-02T07:25:00.001-08:002013-02-02T07:32:35.768-08:00Sonho de uma noite de verão<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div class="MsoNormal">
E chega o sábado em meio ao calor desse verão indeciso.
Desperto de sonhos tumultuados. Coração, vísceras e uma imagem difusa dela. Nua.
Não consigo fazer um enredo. Uma sucessão de cenas desconexas. Ruídos,
intromissões. Isso me lembra a entrevista que li ontem com <span style="color: red;"><b>Joel Birman</b></span>, em que
ele diz que, agora, na contemporaneidade, a função do sonho, tal como <span style="color: red;"><b>Freud
</b></span>descreveu, já não se aplica mais. Pelo menos de forma categórica. Já não se
tratam mais de expressões reprimidas do desejo, embaralhado pelo Superego para
se tornar suportável à luz da consciência. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora, diz o <span style="color: red;"><b>Birman</b></span>, os sonhos se tornaram meros pesadelos,
em que o sujeito desejante sucumbe à fragmentação da atualidade. Uma atualidade
em que, em termos freudianos, o “sofrimento” foi substituído pela “dor”, e o “desamparo”,
pelo “desalento”. Em que o tempo perdeu o predomínio sobre o espaço. Em que a
drogadição, a alimentação e o consumo compulsivos compõem as novas subjetividades
do sujeito perante o mundo. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ou seja, muitas
das observações do pai da psicanálise precisam ser atualizadas nesses tempos do
triunfo do neoliberalismo, que alguns chamam de pós-modernidade. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas não é esse o assunto. Mencionei o <span style="color: red;"><b>Birman </b></span>porque sonhei. E
meus sonhos ainda emergem do inconsciente, muito nitidamente, naquela velha forma
onírica, cheia de metáforas e símbolos, desejos e pulsões. Às vezes, nem tão
metafórico assim. Ocasionalmente acordo de sonhos tão cristalinos com coisas e
seres que desejo que fico aturdido, a ponto de indagar: cadê a poesia do sonho?
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas, lendo o <span style="color: red;"><b>Birman</b></span>, agora me pergunto
como me adapto a este não tão admirável mundo novo que ele descreve? </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Reforço a sensação de que sou (e toda minha geração também) um
ser literário, em minha formação cognitiva básica, em oposição ao sujeito
multiplataforma atual. Nem mesmo audiovisual eu sou. Minha transa com a imagem
ainda é toda literária. Diante dela, construo histórias. Talvez, por isso, seja
tão fascinado pelos portraits. Os retratos são portas de entrada para enredos
infinitos. Dramas humanos sem fim. Vida. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Essa forma de ser, tal como a percebo narcisicamente, me
coloca no mundo com certa estranheza, e é assim que, neste sábado, desperto
tentando entender o sonho que me perturbou a noite. Buscando sentidos, em
meio ao calor do dia, para a imagem desejosa dela, que, de resto, se constitui
de distância e saudade.</div>
ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8858948136001136212.post-64828691852074154602013-01-27T05:37:00.003-08:002013-01-27T05:37:42.642-08:00Caipirinha Appreciation Society<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1Wuy4NN2nQOJqvT9DXZNbIW2wYKDCtAVtt2XQ8BBJG61wwgg5k3tnOFdeoxAzK7eubpBYeJmbK5522SUJPz9aTzW4Laq-IBDKKJUkKgAy1nlTCgx_CCcLUpABwThnVOp1JfLUo7KLlkqy/s1600/caipirinha2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1Wuy4NN2nQOJqvT9DXZNbIW2wYKDCtAVtt2XQ8BBJG61wwgg5k3tnOFdeoxAzK7eubpBYeJmbK5522SUJPz9aTzW4Laq-IBDKKJUkKgAy1nlTCgx_CCcLUpABwThnVOp1JfLUo7KLlkqy/s320/caipirinha2.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="color: red;"><b>Kika Serra</b></span> e <span style="color: red;"><b>MC Suing</b></span> fazem, já há algum tempo, um extraordinário programa de rádio, via podcast, chamado <span style="color: yellow;"><b>Caipirinha Appreciation Society</b></span>. Trata-se de música brasileira na veia, mas não os clichês que a<b>bunda</b>m as rádios brasileiras e festivais patrocinados por gravadoras. Ou seja, trata-se de uma rádio em que se pode ouvir coisas interessantes, raras, criativas, artistas geniais desconhecidos, e poder ter uma ideia de que música brasileira não se conformou a uma ordem industrial internacional e continua sendo de algum modo original e criativa.<br />
<br />
Graças à <span style="color: red;"><b>Kika </b></span>e ao <span style="color: red;"><b>MC Suing</b></span>, vê-se que a tese de <span style="color: red;"><b>Hugo Sukman</b></span>, de que o tropicalismo colocou a MPB na ordem mundial do pop e matou o que havia de diferente e original na música do país, é uma verdade relativa. As pessoas continuam compondo de forma independente e criativa, o problema é que não têm voz na mídia tradicional. <br />
<br />
<b>N</b>o site deles, quem quiser pode se inscrever para receber as atualizações dos programas e ouvir programas anteriores, todos armazenados como podcast. O <span style="color: yellow;"><b>Caipirinha Appreciation Society</b></span> pode ser acessado <a href="http://cas.podomatic.com/"><span style="color: orange;"><b>aqui</b></span></a>, e o Google+ vai fazer uma transmissão especial deles sobre o carnaval. ipacohttp://www.blogger.com/profile/00937997687449108388noreply@blogger.com0