quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Evocação da floresta


Lavadeiras na Frequesia do Andirá

Vendo a tarde cair agora, o sol baixando por trás do Corcovado, raios saindo das mãos do Redentor em silhueta, evocou, talvez mais pelo calor do que pela luz, o entardecer em Barreirinha, no estado do Amazonas, no coração da floresta. Estive lá a última vez em 1992. A cidade tinha duas ruas principais: uma margeava o barrento Paraná do Ramos, extenso tributário do Amazonas, marcando a entrada da cidade. A outra cortava Barreirinha inteira, ligando a frente ao fundo, onde um porto improvisado dava caminho ao sinuoso igarapé do Pucu, que liga a cidade ao rio Andirá, rio de muita fundura e volume d'água. Não se enxergam as margens quando se está no meio do Andirá (que significa morcego na língua dos maués). Nas tempestades, que os ribeirinhos chamam de banzeiro, o melhor é encostar o barco até passar.


Curumim maué na aldeia Mocorongo, na cabeceira do Andirá, um dia e meio de barco desde Barreirinha

Foi ao atravessar pela primeira vez o Pucu e depois o Andirá que vivi uma das muitas experiências de medo e susto nessa viagem. Ao atravessar o rio de voadeira (uma canoa comum com motor na popa) vi muitos jacarés mergulhando dos barrancos, onde tomavam banho de sol, assustados com o barulho do motor. Jacaré com medo, tudo bem, mas as sucuris e sucurijus, de até 16 metros, perseguem pequenas embarcações e canoas, segundo relatos. Isso dá uma dimensão da pequenez humana diante da natureza. Ver o caboclo que guia a canoa preocupado, não é um bom sinal. E os cinco passageiros restantes ficaram em silêncio, acompanhando atentamente cada manobra, os olhos na água negra transparente. Mas atravessamos bem até a Freguesia do Andirá e ainda fizemos tambaqui na brasa na Ponta da Safadeza, uma praia escondida, onde os casais gostam de visitar...


Crianças da Freguesia do Andirá

Soube outro dia que, com a cheia histórica deste ano (agora o rio está na máxima da seca e o igarapé do Pucu virou uma estrada), 40% da população perdeu as casas e tiveram que deixar Barreirinha. Houve um êxodo da cidade, fruto do aquecimento global, que está derretendo as geleiras dos Andes, que alimentam a bacia do Amazonas. O volume de água é cada vez mais caudaloso e cada período de chuvas torrenciais, que os ribeirinhos chamam de inverno (embora continue fazendo o mesmo calor de sempre), tem trazido recordes de cheia.


Peixeiro mostra os tambaquis no mercado de Manaus

Naqueles idos de 92, havia em Barreirinha um certo sortilégio no momento de transição entre o dia e a noite. Às seis da tarde, com as rádios sintonizadas na Ave Maria, como um ritual diário de devoção e proteção cósmica, a rua era tomada por levas de pessoas ido e vindo. Adolescentes e crianças com uniformes escolares, gritando, rindo, fazendo algazarras típicas da infância. Um bando de curumins e cunhatãs, olhando os "estrangeiros", como eu, e rindo, rindo de se acabar, com as mãozinhas tapando as bocas para tentat em vão conter as gargalhadas. Os adultos, apenas sorrindo, como se soubessem a piada, mas por etiqueta seguravam a onda. A piada éramos nós, com nossas roupas diferentes, máquinas fotográficas, o ar sofrido com o calor: "lá vão os italianos", diziam. "De que riem os índios?", não foi o que indagou Pierre Clastres em um ensaio antropológico muito profundo sobre os índios brasileiros? Recomendo a leitura.


Motor de linha Comandante Jardeson desembarca em Barreirinha

Na procissão de gente, pescadores com seus cestos cheios, o bafo da cachaça se antecipa aos bêbados, que cruzam a única rua em ziguezague. Os homens bebem quantidades industriais de cachaça e cerveja. O pé-sujo do mercado de peixe vive apinhado, ao lado do cais principal de Barreirinha. Mas o que me chamou mesmo a atenção foram as janelas das casinhas de madeira, sempre lotadas de pessoas acompanhando o movimento. Cada pessoa ali tem nome e todos se conhecem. Os afetos e os desafetos são públicos, como em qualquer povoado, em qualquer interior do mundo. Barreirinha é a típica gemeinschaft, do Tönnies.


Meninas no banho de igarap: hormônios em alta, flertes e um desespero para casar

É tudo isso que me vem de ver, agora, no Rio de Janeiro metrópole, o sol se esconder aos poucos. A saudade é um encantamento poderoso, que me transporta imediatamente para aquele universo distante no tempo e no espaço. Desfaz a barreira entre a metrópole e a comunidade, e eu me vejo caminhando ao lado do poeta Thiago de Mello na rua principal de Barreirinha, o povoado mais perdido do planeta, onde ele nasceu e decidiu viver ao voltar do exílio. Ele é uma presença, todo de branco, o ar severo e terno ao mesmo tempo, o passo firme. "Salve, poeta!", diziam alguns, naquele 92, se me lembro bem. Outros pediam conselhos, quase sempre sobre problemas de saúde: "Óleo de copaíba e muita ternura", receitava o poeta, que gostava muito da caminhada da tarde, de sua, hoje, ex-casa, o Porantim do Bom Socorro, até o cais para ver o pôr-do-sol no Paraná do Ramos. Na volta, comprávamos os arremates finais para o jantar, uma ceia repleta de poesia e histórias. Saudade.


Thiago ao violão, no Rio este ano

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tirando o atraso


Morro da Conceição, a caminho da rua do Jogo da Bola

Amigos, nesses dias que passaram desde meados de novembro, mergulhei numa série de tarefas que exigiram minha atenção apaixonada, como a resenha sobre o trabalho de Soraya sobre a Vila Mimosa e algumas traduções que estou realmente desfrutando fazer, apesar do trabalho hercúleo. Com isso, a freqüência aqui andou meio frouxa e agora trago algumas notas de coisas que rolaram recentemente.


Imediações da Gamboa com a Ponte ao fundo, vistas do Morro da Conceição

Como vocês sabem, em meados de novembro, chegaram ao Rio vários cineastas africanos e latino-americanos para participar do III Encontro de Cinema Negro, produzido pelo Zózimo Bulbul. Entre os vários diretores presentes, Idriss Diabaté é um amigo de uma amiga que habite à Paris e que deu meu telefone. Ele participou do festival com o filme La femme que porte l'Afrique. Trata-se de um griot de 60 e poucos anos e uma alma curiosa da humanidade. Fiz um tour com ele e outros dois diretores, Cheik Camara (Guiné) e Missa Hebié (Burkina Faso), pelo Centro do Rio, mostrando nossa cidade, o Morro da Conceição, o cemitério dos pretos novos, a Pedra do Sal, a Praça Mauá, a Candelária, a marca das criança assassinadas, o CCBB, a livraria Folha Seca, de meu amigo Rodrigo Ferrari, o Digão, o Arco Telles, o Paço, o Buraco do Lume, a Carioca, Cinelândia e coisa e tal. Acho que Andrea Canto ia gostar do passeio. Trocamos muitas idéias sobre essa coisa da mistura brasileira. E no fim, o Idriss me presentiou com dois filmes dele: Stinka: Revolte du coeur e Le do que danse.


Da esquerda para a direita: Cheik Camara, Idriss Diabaté e Missa Hebié

Na seqüência, tive uns bons momentos com Mila Chaseliov no Bar Rebouças, onde estamos discutindo seu projeto de pós-graduação. A idéia é um mergulho na antropologia urbana, comparando as boemias (e formas de sociabilidade) entre Tel'aviv e Rio de Janeiro. A primeira uma cidade que recebe imigrantes de todo o mundo, unidos pela identidade judia, mas que no espaço urbano da noite não se misturam. Já aqui, todos sabemos bem como é. Esse encontros com Mila acabaram num almoço-jantar na casa de Nelson Pereira dos Santos, que nos preparou um nhoque da fortuna e nos regalamos com histórias sensacionais. O Nelson é uma cabeça lúcida no meio dessa desconstrução toda...


Mila Chaseliov no Rebouças: modéstia a parte, sou bom de portrait. Essa foto foi feita com a merda da câmara do celular, só dois megapixels

Vale mencionar que o Rebouças anda sensacional. Com suas mesinhas na calçada, a singeleza do pé-sujo autêntico, a simpatia do dono, seu Alberto e o garçom Jorginho. Morei naquela esquina uns meses da minha adolescência. Período difícil, ditadura, dureza e coisa e tal. Agora, quando me sento na calçada do Rebouças, vendo novas gerações por ali, me sinto feliz por ter sobrevivido. Ainda mais que ampola vem sempre mofada e a Mila convenceu a casa a comprar a Heineken, uma excelente cerveja na garrafa de 600ml.


O Bar Rebouças, com seu Alberto no fundo...

Já o aniversário de meu mano Zé Octávio foi comemorado no Bar do Serafim, onde fizemos uma homenagem ao Juca Ribeiro. Na hora do brinde, a rapaziada atrás do balcão ficou com os olhos marejados. Foi bonito.


Zé Octávio e Noelli, e o Serafim já com as portas já arriadas

Daí teve o lançamento do Rio Botequim. Não vou tecer comentários sobre o livro, mas quero registrar o choro emocionado da Stela, do Villarino, ao receber seu diploma e o desabafo: "Poucos sabem o duro que é atrás do balcão. Por isso fico feliz com a homenagem." Eu gosto muito de Stela, do Vilarino, seu Antonio e da história que aquele lugar carrega. No evento, Kátia, do Aconchego Carioca, me apresentou ao Claude Troisgros, que foi extremamente simples e simpático. Tivemos uma interessante conversa sobre botequim e cafés parisienses.

E, no último fim de semana, com a final do hexacampeonato do Mengão, fui ao Aconchego, ao Petit Paulette e segui para o Salvação, já pra lá de Marrakesh... Encontrei meus queridos Fraguinha e Digão no primeiro bar e a cerveja desceu direto em estômago vazio. Valeu a pena.


Alfredinho, Marcelo Moutinho e outros amigos no Bip, na madrugada de ontem para hoje

E, por fim, ontem, fui ao Lamas para o lançamento do livro do Alexei Bueno. Aproveitei para comer um picadinho do Chico, receita do Rufino, da Adega da Velha, que não está no cardápio. Lá encontrei o poeta e ator Emanuel Cavalcanti, que quer organizar um evento para o Manduka ano que vem. Também estava lá Marcelo Moutinho, com quem parti para outro lançamento de livro. Dessa vez no Bip-Bip. Trata-se do livro organizado pelo Luís Pimentel, Contos e causos de futebol, com Armando Nogueira, Aldir Blanc, Nani, e outros cobras.

Mas bom mesmo foi reencontrar a figura maravilhosa do Alfredinho. Enchemos a lata até as duas e tantas da madrugada. Para uma segunda-feira, até que não está mal.

sábado, 28 de novembro de 2009

A cidade cenográfica da prostituição



Amigos, reproduzo abaixo (acrescentando um parágrafo que cortei por falta de espaço) a resenha publicada hoje no caderno Prosa & Verso, do Globo, sobre a etnografia da antropóloga Soraya Silveira Simões sobre a Vila Mimosa. Todas as fotos deste post são da fotógrafa francesa Olivia Gay e fazem parte do livro. Na mesma edição, uma reportagem de Guilherme Freitas sobre o jornalista Francisco Ferreira da Rosa, que fez uma série de crônicas sobre as polacas para o jornal O Paiz, no fim do século XIX. Ele faz um retrato sobre a comunidade de prostitutas imigrantes e seus escritos foram recuperados agora por duas pesquisadoras. Também na mesma edição do Prosa meu querido amigo Marcelo Moutinho escreveu uma bela resenha, intitulada O operário das letras, sobre o editor Paula Brito, o primeiro a publicar Machado de Assis. No caderno Idéias, do Jornal do Brasil, Paula é resenhado por Rodrigo Ferrari.



A cidade cenográfica da prostituição

Antropóloga analisa a construção da nova identidade social da zona de meretrício em etnografia sobre a Vila Mimosa

Paulo Thiago de Mello

Manuel Bandeira escreveu, referindo-se às pessoas que trabalhavam numa antiga zona de prostituição do Rio de Janeiro, que "gente como a do Mangue vive porque é teimosa". E foi com pertinência que a antropóloga Soraya Silveira Simões recorreu à frase de Bandeira para abrir o capítulo inicial de seu livro, Vila Mimosa: Etnografia da cidade cenográfica da prostituição carioca (EdUFF, no prelo), uma adaptação de sua dissertação de mestrado, defendida na Universidade Federal Fluminense. Noções como teimosia e resistência estão no coração de sua narrativa, que, numa prosa bem costurada, leva o leitor a se aventurar pelos mais de 70 bordéis de uma rua sem saída da Praça da Bandeira.

Soraya parte da dramática relação de prostitutas e cafetinas do Mangue com o poder público, as corporações interessadas em ocupar a região, os planejadores urbanos com seus projetos de renovação, políticos e a polícia. É no bojo desse embate, que remonta aos anos 1980, que se consolida a organização política das prostitutas e surgem líderes como Gabriela Silva Leite, fundadora da ONG DaVida. Em 1996, porém, as meninas da Vila Mimosa, último resquício do Mangue, são removidas para dar lugar ao Teleporto e ao complexo da prefeitura, sugestivamente apelidado pela população de "Piranhão".



Com os recursos da indenização, as mulheres compram um galpão à rua Sotero dos Reis, formando o núcleo do que hoje passou a ser chamado de Vila Mimosa II — ou VM II —, um espaço, ou melhor, um lugar marcado por uma cenografia propícia ao jogo de sedução que caracteriza a ambiência da zona.

A mudança não se dá sem conflitos. Os moradores da área protestam, queimam pneus e apelam às autoridades contra a presença indesejada das prostitutas em seu bairro, temendo o contágio do estigma que marca a profissão. O movimento da Vila Mimosa, no entanto, acaba trazendo prosperidade ao local. Bares e hotéis, antes às moscas, passam a ganhar dinheiro com a crescente movimentação. E os moradores, antes desconfiados, descobrem que podem lucrar, alugando quartos, fazendo baby sitter, vendendo roupas etc.



Situada no espaço reservado pela sociedade ao desvio, à flexibilização de normas e etiquetas, a zona de prostituição cenograficamente construída na Vila Mimosa II acabou por constituir o que na sociologia urbana se chama "região moral", definida e demarcada por seu métier, reconhecido por todos em suas múltiplas representações. Soraya lembra que os lugares do desvio na cidade são circunscritos, geográfica e simbolicamente. É assim que se pode falar "de meninos de rua, travestis da Lapa e das putas da Vila Mimosa".

"Na Vila Mimosa não se chega, se entra"

E a VM II cumpre essa prescrição sem ambigüidade, ao contrário de outras áreas de prostituição do Rio, como a Praça Mauá, também reduto da boemia e zona portuária; ou a Avenida Atlântica, área turística e residencial. Por isso, lembra a autora, na Vila Mimosa "não se chega, se entra". O toldo amarelo de uma loja na metade da rua demarca o início da zona, separando simbolicamente aquele território moral do resto do bairro. Atravessar esse limite é entrar em outro universo, simultaneamente previsível e imponderável, onde o jogo de encenações dá aos atores papéis que só ali podem ser desempenhados.

A partir da mudança de endereço, os atores da zona se esforçam em mudar também as representações sociais sobre o ofício — hoje reconhecido pelo Ministério do Trabalho — como um negócio que tem no domínio do corpo seu principal ativo. A antropóloga mostra como, tendo um pé no Mangue como evocação da resistência do grupo — ou da teimosia percebida por Bandeira —, as pessoas envolvidas no negócio da prostituição na VM II deram novos sentidos à identidade social do ofício.



Nesse processo, é criada a Associação dos Moradores do Condomínio e Amigos da Vila Mimosa (AMOCVIM), para atuar não apenas como representante dos interesses de donos de casas, prostitutas, moradores e comerciantes da Vila Mimosa, mas também como agente propagador e controlador da nova imagem da prostituta. Através da Associação, as profissionais da VM II obtêm acesso a academia, cabeleireiro, manicure, clínica médica. Ela também promove uma série de atividades, como o concurso de beleza Gatinha Mimosa, churrascos e projeções de filmes, para sedimentar o novo conceito de zona.

A instalação da clínica evidenciou ainda uma forma de controle moral. Fazer exames tornou-se não só uma obrigação, mas um temor. Quem evitava o médico tornava-se suspeito de estar doente, aos olhos dos donos de casa e das próprias prostitutas, que condenam comportamentos de risco, como sexo sem camisinha ou sexo anal, classificando-os como "sem-vergonhice" ou "baixa auta-estima". Soraya menciona o caso de uma profissional que, ao ser diagnosticada como portadora do vírus HIV, teve as portas da Vila Mimosa fechadas para ela.

Pesquisa revela tensões do dia-a-dia da zona

O trabalho de campo também registra a tensa relação entre donos de casa e as prostitutas, os conflitos de interesse na disputa pelos clientes, o processo de sedução e de procura no espaço da Vila, a presença de curiosos, entre outros aspectos do dia-a-dia da zona.

No plano da luta política das prostitutas da Vila Mimosa, a etnografia detalha ainda a briga, ao lado do então deputado Fernando Gabeira, para retirar do Código Civil a criminalização de lenocínio, vadiagem e atentado ao pudor. São esses aspectos de criminalização que abrem espaço para a ação e domínio de agentes públicos corruptos nas áreas de prostituição. O livro também trata, numa de suas passagens mais interessantes, da formação da prostituta, a partir de sua chegada e acolhimento na Vila Mimosa. Estão ali ainda os enredos tristes como justificativa moral para a prostituição e o sonho de "largar essa vida" enunciado até por aquelas que assumem o ofício como vocação.



A inquietação que levou Soraya ao campo surgiu ao fazer um ensaio fotográfico sobre prostituição. Ao enquadrar aquelas mulheres em suas lentes, surpreendeu-se ao percceber que, onde achava só haver o outro exótico, ali estava também alguma possibilidade de "nós". Um reconhecimento do gênero através do sexo, não apenas em seu aspecto biológico, no elo que o corpo feminino estabelece, mas igualmente na sua forma social, com todos os papéis que a sociedade reserva à mulher. Tratou-se, portanto, de um encontro que se deu simultaneamente pelo contraste e pela complementaridade.

Associada ao Laboratório de Etnografia Metropolitana (LeMetro/IFCS/UFRJ), coordenado pelo antropólogo Marco Antonio da Silva Mello, Soraya faz parte de um grupo de pesquisadores que se debruçam sobre as questões da cidade, daí o uso de métodos de pesquisa tributários da etnografia urbana contemporânea. Hoje, ela é pesquisadora convidada do ClerséCentre Lillois d'Études et Recherches Sociologiques et Économiques, da Universidade de Lille 1, na França. Seu livro, com lançamento previsto para janeiro, certamente ajudará o leitor a ver além dos estereótipos e do estigma que marcam amais antiga profissão do mundo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Vila Mimosa e outras coisinhas



Amigos, perdoem o sumiço. Estou preparando uma resenha para o Prosa & Verso sobre um livro que ainda está no prelo sobre a Vila Mimosa. Trata-se da etnografia feita pela antropóloga Soraya Silveira Simões, que mergulhou naquele universo durante alguns anos e agora nos brinda com um trabalho sério sobre a zona. A resenha sairá no próximo dia 28 (salvo alguma mudança de última hora) e o livro, que se chama Vila Mimosa: Etnografia da cidade cenográfica da prostituição carioca, e chegará às boas casas do ramo em janeiro. Trata-se de pesquisa séria, feita com aguda sensibilidade.



Assim, que terminar esse trabalho, volto aqui com as novidades que foram se acumulando nas últimas semanas, como o promenade et parcours comenté que fiz com cineastas africanos pelas ruas do Centro e do Morro da Conceição, entre outras histórias.



Deixo-os com imagens da Vila Minosa, retiradas do blog do Gasparzinho, não sei quem é o autor.

sábado, 31 de outubro de 2009

A alma imponderável das coisas



Vivo no equivalente ao vigésimo andar. Do alto da torre vejo o mundo abaixo com olhos de monarca. Mas a casa é absolutamente devassada pela cidade. Primeiro há o vento, que a atravessa impetuosamente, sem pedir licença. Às vezes, chega no susto, no de-repente, com raios, trovões e presságios. Às vezes, abre o campo do céu num azul profundo. Até pus uns sinos estrategicamente nos cantos norte e leste, por onde sua corrente passa, para me alertar da chegada súbita do Sudoeste que, sem aviso e em segundos revira toda minha vida de cabeça pra baixo. Mistura papéis, esconde fotografias e perde o parco dinheiro que esqueci sobre a mesa.



Antes do vento, chega a luz, nos primeiros raios da manhã e tudo se esclarece num deslumbramento matinal com gosto e cheiro de café fresco. Se a noite foi boa, se prolonga pelo dia. Do contrário, esvanece. A cidade então começa a chegar pela janela, com seu pregão diário. Nos dias de calma, fins de semanas, são pagodes, churrasquinhos na calçada, cachorros latindo e gritos de futebol. Nos dias de trabalho são sirenes, buzinas, carros e motocicletas passando e as crianças do ginásio ao lado gritando em coro no esplendor histriônico da pré-adolescência:

— Viado! Viado!

— Piranha! Piranha!



Mas a casa é protegida por todos os deuses, sincronismos, patuás e salamaleques. Gosto de pensar nas festas e amigos que chegaram e se acomodaram ao longo dos anos, mas sobretudo nas namoradas, amores que ficaram. Do aparelho de som extraio os sentimentos para a atmosfera que se apresente. Sem falar nos sortilégios para boas companhias. Bola de Nieve, por exemplo, nos jantares com rum ou um tinto rascante se torna irresistível. Principalmente, se na seqüência vier Chet Baker ou Cartola. A alma das ninfas se esparrama pelo futom e todo um universo se abre, enchendo o quarto de mariposas. Quantas histórias começaram naqueles boleros cubanos, tristes histórias de amores fadados ao infortúnio — “no puedo ser feliz, no te puedo olvidar...” —, quantos corações roubados para sempre... Me lembro de Bebel, arrebatada pelo Bola e por mim, que imitava o monsieur Julian para ela. Carla só gostava de rock’n’roll, uma linda mulher, careca e forte.



Em outros momentos, são os livros, os milhares de livros que se apossaram da casa, empilhados, embaralhados... Certas almas embarcam nas narrativas e tecem elas próprias enredos de Sherazade: tudo entra num loop de mil e uma noites. Deborita me encantou quando soltou os cabelos e espalhou seus cronópios pela sala e o quarto. Uma alma de funduras e vôos no infinito. Atravessamos o Planalto em chamas, encontramos Pedro Páramo, Fermina Daza, José Arcadio Buendía, o cigano Melquíades e a menina má, insuportavelmente maravilhosa. Mas nada se compara ao enredo real de sua vida e dos incêndios que atravessou.



, por sua vez, era um fulgor andando pela casa; gostava de se balançar na rede, quase nua, exceto pelo livro que estivesse vestindo. Gostava dos Versos do Capitão, de Neruda, e o Drummond pornográfico. Antonia tinha a alma trágica. Abraçava-se a Vallejo, recitando Os arautos negros com uma dor comovente. Érica gostava mesmo era de inventar coisas na cozinha. Dada a bruxarias e sortilégios, ali era seu domínio. Divergíamos em discussões filosóficas sobre o momento certo de pôr os tomates no picadinho — se na hora do refogado ou mais no fim, quando a carne começava a cozinhar. era a tempestade em copo d’água encarnada em ossos e sangue de tigresa. Um perigo delicioso e felino. Escapei por um triz.



Gosto de sentir a casa assim. Pelos objetos, os livros, os discos, os quadros, as peças recolhidas das viagens pelo mundo ou ganhas de visitantes que passaram por aqui. Essas coisas mágicas têm o poder de abrir universos paralelos e trazer para perto, através da memória das instâncias em que se deram, gente que já vai longe. E assim objetos viram pessoas que me abraçam pela casa.

domingo, 25 de outubro de 2009

Cincoenta



No último dia 17 amanheci já em outra vida. Os 50 chegaram com o peso da meia-idade, Idade Média, Medieval, Cinquentão e coisa e tal... a imagem pública social dessa fase da vida contrariada pela percepeção interna, quase uma desconfiança, de que continuo o mesmo. Um garoto descobrindo a vida. Um adolescente em muitos sentidos, sobretudo naqueles relacionados à idéia de amor. Me lembro que na festa dos 40 os amigos foram chegando ao Bar do Serafim até ocupar o bar inteiro. A presença feminina esmagadora me encheu de orgulho. Minhas Sherazades, minhas meninas cheias de vontades e manias, insuportavelmente maravilhosas. Aos 45, a comemoração foi no Cosmopolita, também ocupado inteiramente. Essa teve um tom de gurufim, tendo sido comemorada um dia depois da morte de meu mano véio Manduka. Foi uma catarse que contaminou a todos e descambou de Tanatos para Eros: todo mundo se deu bem. Agora, talvez mais sereno, recebi os abraços efusivos de várias gerações de amigos no Aconchego Carioca, mas terminei a noite embalado na cançãode ninar de uma ninfa, como convém nesses momentos. Amanheci novamente guardado na mesma vida. E o poema do Thiago de Mello, meu tio, meu mestre nas letras, se materializou mais uma vez, diferente, mas o mesmo, como um rio:


Ser capaz, como um rio
que leva sozinho
a canoa que se cansa,
de servir de caminho
para a esperança.
E de lavar do límpido
a mágoa da mancha,
como o rio que leva,
e lava.

Crescer para entregar
na distância calada
um poder de canção,
como o rio decifra
o segredo do chão.

Se tempo é de crescer,
reter o dom da força
sem deixar de seguir.
E até mesmo sumir
para, subterrâneo,
aprender a voltar
e cumprir, no seu curso,
o ofício de amar.

Como um rio, aceitar
essas súbitas ondas
feitas de águas impuras
que afloram a escondida
verdade nas funduras.

Como um rio, que nasce
de outros, saber seguir
junto com outros sendo
e noutros se prolongando
e construir o encontro
com as águas grandes
do oceano sem fim.

Mudar em movimento,
mas sem deixar de ser
o mesmo ser que muda.
Como um rio.

sábado, 10 de outubro de 2009

Rio Botequim 2010 e Bip Bip, uma reflexão


Reunião no Cosmopolita: Jaguar, seu Tuñas, Guilherme, eu e Paulo Mussoi

Sempre defendi a idéia de que o botequim carioca é muito mais do que serviço e gastronomia, funcionando, antes de tudo, como um espaço de sociabilidade, uma espécie de clube social da vizinhança, em que aspectos da cultura do bairro e da cidade são reiterados e vínculos de amizade e de identidade social são reforçados em conversas, jocosidades, disputas etc. Onde o pendura aparece como um importante regulador do ciclo de confiança entre fregueses e proprietários, muitas vezes mediado pelos garçons etc. Onde o botequim, como comércio de proximidade, atua como um importante elemento a estimular a vida na calçada e no bairro etc. Nas seis primeiras edições do Rio Botequim em que participei, essa noção, digamos, antropológica foi defendida numa luta constante para fazer com que o guia registrasse esse aspecto subjetivo, porém importante, porque diferencia o botequim carioca dos estabelecimentos comerciais que vendem bebida alcoólica no resto do país.


O garçom Ramos, do Villarino: alma de botequim

O boteco de São Paulo, por exemplo, em geral valoriza o serviço, o atendimento, a qualidade da comida, o ambiente, o banheiro limpo etc. Mas não é um lugar aonde se vai de sandália e sem camisa, bater papo, jogar porrinha, observar a vizinhança passando, a gostosa do bairro, a vizinha chata que reclama do barulho e da bagunça. Não é lugar onde se usa da verve jocosa para gozar os amigos, idealizar projetos, pequenos negócios e revoluções socialistas; criticar o governo, o patrão, a patroa e a sogra etc. Ou seja, o boteco paulistano de grife não valoriza a ambiência, a atmosfera, o ar cosmopolita da cidade. Ir ao boteco em São Paulo é um programa; é como ir ao cinema, ao teatro etc. É necessário se vestir adequadamente. Tem hora pra chegar e sair. No Rio, não é necessariamente assim, embora tenham proliferado nos últimos anos bares com essa característica paulistana, isto é, voltados para o serviço. Nos verdadeiros botequins cariocas, o que está em jogo é o cotidiano, é o botequim da esquina, que liga os fregueses à rua, ao bairro, à cidade. Um clube da esquina.


Decolores, em Nikiti: alma de botequim

Por isso, o botequim carioca era contraditoriamente tido pela elite da cidade e as instituições formais — como o Estado, a Polícia, a Igreja, a Medicina etc. — como um lugar de vagabundo, puta e malandro. Lugar de doença (o alcoolismo) e perdição, um antro que desviava o homem reto de seu caminho entre o lar e o trabalho. Onde o marido deixava parte do parco salário para desespero da família. E ainda chegava em casa dando esporro na mulher. Por outro lado, era cantando e louvado pela boemia, pelos artistas, músicos e poetas, pelos operários que encontravam nesse espaço um lugar onde a hierarquia social era mais igualitária, onde tinham sua voz e obtinham o respeito difícil de encontrar no resto da cidade. Era e ainda é também um retrato cultural da cidade, revelando o desenvolvimento urbano, as transformações históricas, a urbanização, a industrialização etc.


A cozinha do Cervantes: alma de botequim

O lançamento do Rio Botequim, no fim da década de 90, ajudou, pela repercussão que teve na imprensa, a chamar a atenção para esse lado de identidade cultural da cidade. Mas, se por um lado, o carioca mais desavisado começou a bater no peito orgulhoso de seus botequins, as visões negativas sobre o pé-sujo não desapareceram, sobretudo por parte das autoridades municipais, com suas leis draconianas de posturas, impedindo, por exemplo, mesinhas nas calçadas, coisa comum em qualquer cidade cosmopolita do mundo. O aumento da freqüência também teve conseqüências de ordem econômica e social. Os preços subiram, donos de alguns botequins, deslumbrados com o maior reconhecimento, antes tímido, empreenderam modificações, reformas, investiram em redes e priorizaram o serviço, desconfigurando exatamente aquele aspecto de clube social.


Aconchego Carioca: alma de botequim

De olho no sucesso econômico desse fenômeno, rapidamente restaurantes e bares sofisticados passaram a se autodenominar “botecos” e adjetivos semelhantes, evocando informalidade, simplicidade e uma gastronomia singular. Os jornais criaram colunas de especialistas (é verdade que Jaguar e outros já escreviam sobre isso desde sempre), criaram-se concursos, eleições, valorizando garçons, pratos, bebidas, baratonas e toda sorte de eventos etc. Houve uma “profissionalização” em torno desse segmento botequim. Parte dessa revolução foi positiva, pois melhorou muita coisa que podia ser melhorada sem implicar numa descaracterização, incentivou a criatividade dos donos de botequins, como Katia e Rosa, do Aconchego Carioca, Alaíde, ex-Bracarense, Fernando, do Enchendo Lingüíça, Paulette, do Petit Paulette, e tantos outros. Inventando pratos, reforçando a ambiência etc.


Bar do Jóia: alma de botequim (foto de Custódio Coimbra)

Mas também teve seu lado negativo, com a proliferação de falsos botecos, uma certa banalização e mesmo fetichização do botequim, tanto por aqueles que o querem transformar em botecos paulistanos, limpinhos e cheirosos, como aqueles que desejam mantê-los parados no tempo, alheios às mudanças estruturais da cidade. Enfim, dos anos 90 pra cá, o botequim carioca viveu uma verdadeira revolução como instituição cultural da cidade, com seus efeitos colaterais e coisa e tal. Virou assunto em cada esquina e, como no futebol, tem um especialista em cada cidadão, de modo que cada um tem sua visão e diagnóstico sobre esse processo. Aqui, apenas exponho minha percepção em relação a esse fenômeno.


Adega Pérola: alma de botequim

A sétima edição do Rio Botequim, já a cargo de meu amigo Guilherme Sturdart, foi uma edição especial, voltada exclusivamente para gastronomia, uma especialidade do Guilherme, que é um estudioso do tema, tendo catalogado em anos de pesquisa pessoal mais de mil bares, classificando-os, entre outras coisas, por suas singularidades culinárias. Dificilmente haverá um bar na cidade e arredores que ele não conheça. Tirando o desenho gráfico do guia, que recortou as fotos de tal modo que não permite ao leitor que se tenha uma idéia dos bares sobre os quais se fala, o projeto foi bastante interessante, selecionando bares por especialidades da cozinha, fornecendo as receitas de cada um e coisa e tal.


Pavão Azul: alma de botequim

Agora, a editora Casa da Palavra, de minha amiga Martha Ribas, prepara a oitava edição do Rio Botequim, ou o Rio Botequim 2010. Dessa vez, não há a chancela: “especial gastronomia”. Ou seja, o guia vai tratar de bares por suas virtudes além da cozinha, inclusive ambiente, bebida, arquitetura, higiene etc. Nesse processo, fui convidado para participar de uma espécie de conselho de especialistas, que, entre outros, contou com figuras como Jaguar, Moacyr Luz, Marcelo Lins e Paulo Mussoi, para ranquear entre os 200 bares selecionados para o guia os 50 que receberão estrelas (de um a três). O evento, realizado no Cosmopolita, dos irmãos Tuñas, casa inaugurada em 1926 e onde Oswaldo Aranha inventou o filé que leva seu nome, foi marcado por uma bem-humorada e simultaneamente tensa discussão sobre a lista de bares que receberão ou não estrelas no próximo guia.


Alfredinho, do Bip Bip: alma de botequim

Dois dias depois, Joaquim Ferreira dos Santos, ao resenhar o encontro, publicou na coluna Gente Boa, do Globo, uma informação imprecisa: a de que o Bip Bip, por sugestão de um dos membros da comissão, não seria ranqueado com estrelas. A informação é imprecisa porque, embora a sugestão tenha sido de fato apresentada, não se bateu o martelo sobre a inclusão ou não do Bip entre os estrelados do guia. A decisão ficará a cargo do autor e da editora do projeto, Guilherme Sturdart e Martha Ribas. O que posso dizer é que, do mesmo modo que sugeriram a retirada do Bip, sua permanência foi por mim defendida com ardor. Afinal, não se vai a botequim apenas para comer. E o Bip, que já foi até capa do jornal francês Le Monde, é um bar que eu indicaria a qualquer pessoa interessada em conhecer a alma dos botequins cariocas, gringo ou da terra. Eu, que tenho o Alfredinho como um pai, a quem peço a benção quando encontro, sou obviamente suspeito em minha defesa. Mas não estou só nela.


Samba no Bip: alma de botequim

Vamos ver como sairá o guia. Talvez a idéia de botequim exclusivamente como serviço esteja se sobrepondo aos aspectos culturais mais amplos e intangíveis, difíceis mesmo de descrever num guia por sua subjetividade. Talvez isso seja visto, sobretudo aos olhos dos financiadores do projeto, como uma profissionalização do guia (o Joaquim usou a expressão, perigosíssima a meu ver, “Michelin dos bares”), mas prefiro pensar que após todos esses anos, com toda a experiência adquirida e tendo consciência do papel do Rio Botequim no estímulo a uma reflexão sobre esses estabelecimentos, respeite-se a noção de ambiência, que engloba essa característica de clube social da vizinhança. Para mim, essa noção é tão ou mais importante do que gastronomia, limpeza, arquitetura, história, bebida, garçom e ambiente (espaço), pois é ela que diferencia o botequim carioca dos bares de outros lugares.


Bip Bip: alma de botequim

sábado, 3 de outubro de 2009

Chope centenário


A rara chopeira torneada do Bar Brasil garante a cremosidade certa. Pena que a Brahma não a fabrique mais. Uma relíquia

As novas gerações de jornalistas não bebem e não têm alma boêmia. Não sei se é porque agora eles chegam às redações tão novinhos, inexperientes da vida. Mesmo o pessoal com quem trabalho atualmente no Globo, que não são tão novos assim, preferem sempre ir para casa não importa como tenha sido o dia na redação. Minha velha turma da boemia foi se espalhando para outras seções, outros jornais, outras cidades e agora sou quem quase nunca vai a um bar durante a semana. Mas a chegada de uma amiga, que está na sucursal de Brasília do jornal, procovou um reencontro nessa quinta-feira no centenário Bar Brasil (na verdade, 102 anos), até fechar, e saideira no Capela.


Tomando a saideira, antes de ir pro Capala fechar a noite

Gosto muito do Bar Brasil. Para mim não tem chope melhor na cidade e mesmo aqueles que não pensem assim, certamente colocarão o chope da casa entre os cinco melhores. A cozinha alemã tem suas virtudes também, mas é a atmosfera da Lapa do início do século passado, da malandragem de terno branco, dos compositores, poetas e sambistas. Sob o imenso pé-direito, muitas histórias, muitos dramas... e seu José Otero, com aquele sotaque português quase incompreensível de tão rápido, uma figura.


A geladeira de madeira, outra relíquia que está em pleno uso no Bar Brasil

Foi bom matar a saudade, de minha amiga, Flavinha, e do Bar Brasil. Na reportagem que fiz sobre os bares centenários, para a Revista do Globo, não coloquei o Bar Brasil porque ele já era consagrado, e eu queria lançar luz sobre alguns que são menos conhecidos do grande público, como o Restaurante 28 e o Bar do Jóia. Me arrependi. O Bar Brasil merece estar em qualquer lista de bares tradicionais. Acabei fazendo uns retratos com o celular.


A expulsadeira...

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Uma certa idéia de lar


Thiago Thiago e Renato Frazão nos violões, Lucas Dain e Mila Chaseliov cantando; no fundo Laura lê

Alguns blogs são bastante profissionais e informativos, enquanto outros têm a capacidade de nos abrir a porta das almas de seus escribas. É como se nos convidassem a um cafezinho, a uma certa intimidade, que nos permite especular sobre suas vidas, suas coisas. Vendo um deles outro dia viajei nas fotos de pequenos detalhes da casa, como livros e coisas espalhadas pela sala, o banheiro, e também nos textos que contextualizam de forma onírica e bastante original as coisas que rondam essa alma.


Na parede, trabalhos de Manduka

De minha parte, me mudei recentemente e como tudo o que tenho de bens materiais são livros e CDs, vocês podem imaginar a bagunça que a casa anda. Os livros amontoados, maltrados, sem estante para todos. Mas, mesmo nessa zona, sinto-me entre eles num aconchego que se traduz em pequenos gestos, num vinho aberto, na alquimia da cozinha, inventando coisas (ganhei açafrão de uma amiga que chegou da Turquia...). O legal é criar, como colocar uma estante de livros no banheiro ou uma rede sobre o futom que fica no chão para o caso de hóspedes.


Lucas acende o cigarro em meio a copos e copos... caos na mesa

Depois de um período difícil por uma série de razões, começo agora a abrir lentamente a caverna para os de fora. Outro dia, rolou um som com o pessoal do Escambo e amigos, como Mila Chaseliov, Leo Feijó, Enrica Bernardelli, João Saboia, entre outros. Aproveito então para colocar as fotos desse encontro, quando fizemos coletivamente um risoto e derrubamos uma boa dúzia de tintos encorpados.


Thiago, Enrica, livros e tijolos...