terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Tirando o atraso


Morro da Conceição, a caminho da rua do Jogo da Bola

Amigos, nesses dias que passaram desde meados de novembro, mergulhei numa série de tarefas que exigiram minha atenção apaixonada, como a resenha sobre o trabalho de Soraya sobre a Vila Mimosa e algumas traduções que estou realmente desfrutando fazer, apesar do trabalho hercúleo. Com isso, a freqüência aqui andou meio frouxa e agora trago algumas notas de coisas que rolaram recentemente.


Imediações da Gamboa com a Ponte ao fundo, vistas do Morro da Conceição

Como vocês sabem, em meados de novembro, chegaram ao Rio vários cineastas africanos e latino-americanos para participar do III Encontro de Cinema Negro, produzido pelo Zózimo Bulbul. Entre os vários diretores presentes, Idriss Diabaté é um amigo de uma amiga que habite à Paris e que deu meu telefone. Ele participou do festival com o filme La femme que porte l'Afrique. Trata-se de um griot de 60 e poucos anos e uma alma curiosa da humanidade. Fiz um tour com ele e outros dois diretores, Cheik Camara (Guiné) e Missa Hebié (Burkina Faso), pelo Centro do Rio, mostrando nossa cidade, o Morro da Conceição, o cemitério dos pretos novos, a Pedra do Sal, a Praça Mauá, a Candelária, a marca das criança assassinadas, o CCBB, a livraria Folha Seca, de meu amigo Rodrigo Ferrari, o Digão, o Arco Telles, o Paço, o Buraco do Lume, a Carioca, Cinelândia e coisa e tal. Acho que Andrea Canto ia gostar do passeio. Trocamos muitas idéias sobre essa coisa da mistura brasileira. E no fim, o Idriss me presentiou com dois filmes dele: Stinka: Revolte du coeur e Le do que danse.


Da esquerda para a direita: Cheik Camara, Idriss Diabaté e Missa Hebié

Na seqüência, tive uns bons momentos com Mila Chaseliov no Bar Rebouças, onde estamos discutindo seu projeto de pós-graduação. A idéia é um mergulho na antropologia urbana, comparando as boemias (e formas de sociabilidade) entre Tel'aviv e Rio de Janeiro. A primeira uma cidade que recebe imigrantes de todo o mundo, unidos pela identidade judia, mas que no espaço urbano da noite não se misturam. Já aqui, todos sabemos bem como é. Esse encontros com Mila acabaram num almoço-jantar na casa de Nelson Pereira dos Santos, que nos preparou um nhoque da fortuna e nos regalamos com histórias sensacionais. O Nelson é uma cabeça lúcida no meio dessa desconstrução toda...


Mila Chaseliov no Rebouças: modéstia a parte, sou bom de portrait. Essa foto foi feita com a merda da câmara do celular, só dois megapixels

Vale mencionar que o Rebouças anda sensacional. Com suas mesinhas na calçada, a singeleza do pé-sujo autêntico, a simpatia do dono, seu Alberto e o garçom Jorginho. Morei naquela esquina uns meses da minha adolescência. Período difícil, ditadura, dureza e coisa e tal. Agora, quando me sento na calçada do Rebouças, vendo novas gerações por ali, me sinto feliz por ter sobrevivido. Ainda mais que ampola vem sempre mofada e a Mila convenceu a casa a comprar a Heineken, uma excelente cerveja na garrafa de 600ml.


O Bar Rebouças, com seu Alberto no fundo...

Já o aniversário de meu mano Zé Octávio foi comemorado no Bar do Serafim, onde fizemos uma homenagem ao Juca Ribeiro. Na hora do brinde, a rapaziada atrás do balcão ficou com os olhos marejados. Foi bonito.


Zé Octávio e Noelli, e o Serafim já com as portas já arriadas

Daí teve o lançamento do Rio Botequim. Não vou tecer comentários sobre o livro, mas quero registrar o choro emocionado da Stela, do Villarino, ao receber seu diploma e o desabafo: "Poucos sabem o duro que é atrás do balcão. Por isso fico feliz com a homenagem." Eu gosto muito de Stela, do Vilarino, seu Antonio e da história que aquele lugar carrega. No evento, Kátia, do Aconchego Carioca, me apresentou ao Claude Troisgros, que foi extremamente simples e simpático. Tivemos uma interessante conversa sobre botequim e cafés parisienses.

E, no último fim de semana, com a final do hexacampeonato do Mengão, fui ao Aconchego, ao Petit Paulette e segui para o Salvação, já pra lá de Marrakesh... Encontrei meus queridos Fraguinha e Digão no primeiro bar e a cerveja desceu direto em estômago vazio. Valeu a pena.


Alfredinho, Marcelo Moutinho e outros amigos no Bip, na madrugada de ontem para hoje

E, por fim, ontem, fui ao Lamas para o lançamento do livro do Alexei Bueno. Aproveitei para comer um picadinho do Chico, receita do Rufino, da Adega da Velha, que não está no cardápio. Lá encontrei o poeta e ator Emanuel Cavalcanti, que quer organizar um evento para o Manduka ano que vem. Também estava lá Marcelo Moutinho, com quem parti para outro lançamento de livro. Dessa vez no Bip-Bip. Trata-se do livro organizado pelo Luís Pimentel, Contos e causos de futebol, com Armando Nogueira, Aldir Blanc, Nani, e outros cobras.

Mas bom mesmo foi reencontrar a figura maravilhosa do Alfredinho. Enchemos a lata até as duas e tantas da madrugada. Para uma segunda-feira, até que não está mal.

9 comentários:

Anônimo disse...

Que beleza, Paulo! Que beleza tudo isso! E o mais impressionante da vida é ver, citados no texto e retrato nas fotos, amigos meus cariocas. O Rio de Janeiro, cada vez mais, me parece um ovo. De codorna. É impressionante como ainda não nos conhecemos pessoalmente. Grande abraço!

ipaco disse...

Pois é, Bruno. Esse encontro está parecendo coisa de carioca... :-) Quem sabe em 2010 rola não uma boa rodada de chope, não é mesmo? Abração.

Anônimo disse...

Vai rolar, com certeza. Até porque estarei de férias exatamente no período integral da Copa do Mundo e passarei duas semanas aí no Rio, acompanhando os jogos. Fatalmente armaremos um furdunço daqueles em algum buteco!

Marcelo Amorim disse...

Paulo, não me impressiono tanto com o que você consegue fazer com apenas 2 megapixels. O que me impressiona mesmo é o que você consegue fazer com apenas 1 fígado! :-)

ipaco disse...

Acho que uma coisa está ligada com a outra, Marcelo. Quanto mais calibrado, mais criativo e experimental fico com a câmera (mas jogo muito coisa fora)...

abração

Camaleoa disse...

Paulinho, Paulinho. Ausente do universo dos blogs e tentando, agora, retomar as atividades com alguma freqüência. Ainda (ou de novo) em fase de reflexão profunda. Vi que cheguei bem tarde do seu aniversário que deve ter sido uma festa e tanto. Parabéns querido.
Hoje especialmente estarei um pouco perto do RJ. Minha amiga Thereza Pires, do Leblon, está aqui e vamos caminhar pelas ruas de São Paulo falando sobre as coisas belas da vida.
Um beijo.

andrea canto disse...

Poxa, eu teria adorado esse passeio pelo Rio antigo, e quando vc escreveu que ele é um griot então! Vi um filme ha tempos atras sobre um griot e achei lindo! Obrigada por lembrar de mim! Andei "sumida", procurando apartamentos e casas,é uma verdadeira função! e cansa muito! Sobre o apê do seu amigo, como quase fechei hoje uma casa no Cosme Velho, obrigada mesmo assim.
Algum dia vamos acabar nos conhecendo, com certeza!
Beijos!

ipaco disse...

Camaleoa mia, que bom esse passeio com uma carioca pelas ruas de Sampa. Gosto muito disso e, mesmo assim, há muito não vou à Terra da Garoa... Fico ali num hotelzinho no Paraíso, a distância a pé da Paulista e um quarteirão do metrô. Gosto de caminhar por Sampa, principalmente no Centro. Saudades. pt.

ipaco disse...

Andrea, o Cosme Velho é um lugar muito zen, eu acho. É bom pros silêncios. Mas está a poucos metros da efervência, não é mesmo? Nos esbarraremos por aí, certamente. Aliás, todas as pessoas que conheci assim, virtualmente, deram em grandes amizades e afetos. Bjs.