quarta-feira, 21 de abril de 2010
De noite, na cama
Cria fama e deita-te na cama, diz o verso. Bem, embora longe de qualquer fama, boa ou má, já posso me deitar, fisicamente, sobre a cama. E, atendendo ao clamor dos leitores, publico aqui fotos do referido ninho. Se Dorival Caymmi colocou o ventilador em frente à poltrona, numa jogada de mestre zen, eu, remoto discípulo, coloquei o futom — aquele cheio de histórias, encontros e desencontros, na densidade de algodão prensado — sobre a cama nova. Uni, assim, o melhor do antes com o melhor do agora... e o futuro se abriu, brilhante.
A primeira noite trouxe sonhos cheios de ventania e lacunas. A memória veio escassa no dia seguinte. Mais um conjunto de sensações do que imagens e enrendos. E a sensação foi boa. Percebi que, com a cama, sinto mais a corrente de ar que atravessa o quarto, refrescando o calor. Acordei revigorado e me levantei sem esforço, o que já tornou o dia leve e ligeiro. Acendi um incenso raro, comprado com Soraya no século XII, numa loja balinesa, num shopping de Niterói. Tomei café, pão francês com gergilim, manteiga e queijo Minas pensando nela. Pus um CD do meu velho pai, que me deu a cama de presente.
E toda a semana tem sido boa desde então. A casa vai virando casa. Minhas coisas antes sempre ficavam amontoadas, quase nenhum móvel, como se eu estivesse pronto para sair e me mudar a qualquer momento. Agora, sinto que construo um ninho. Já tenho máquina de lavar, e ganhei um ferro da minha mãe. Bem, as estantes ainda não dão conta dos livros, mas isso é bom, pois a leitura exige uma certa desordem. Armário, fogão, geladeira, mesa... coisas banais. A cama completou o cenário e o apartamento virou um lugar.
Vou preparar o meu frango indiano, com curry, madras e garam massala, e arroz com açafrão, que Claudinha está trazendo de Istambul. Separar umas garrafas de tinto de boa safra e chamar os amigos para festejar a cama.
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4 comentários:
Agora sim, com todos os temperos, incensos e mulheres, eis que a casa com a cama está com ar de palácio de sultão e seu quarto com cara de harém, seu danado! (claro, na hora da foto o sultão esconde o mulheril embaixo da cama). Estás de parabéns por assumir o território. Os eletrodomésticos e a mobília transformam o cidadão em um sujeito se não bem estabelecido, pelo menos bem instalado.
Pois é, Ips, ah, as mulheres...
sherazades, afrodites, diadorins, capitus, madames, balzaquianas, ninfetas, dianas, encarnadas, sonhadas, suaves, punks, darks, tatuadas, piercinadas, cabeludas, raspinhas, inocentes, virginais, putas, santas, indecentes, maternais, filiais, assombrações, sinuosas, escorregadias, emaranhadas, onipresentes...
Viu? rendeu uma bela postagem!e parabéns pelo crescimento da casa!
É verdade! Valeu!
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