domingo, 25 de abril de 2010
Uma caixinha de clitóris
Foi então que Ludmila a colocou sobre a mesa. Uma caixinha de sonhos esculpida com maestria em formato arredondado. A tampa, em alto relevo, reproduzia figuras abstratas, sinuosamente desenhadas. As cores evoluíam de variados tons de pele à sutileza rarefeita do azul claro. Na base do curioso objeto, a gradação era mais terrosa, com variações de raiz de árvore e musgos esverdeados. Terra e céu extremavam aqueles misteriosos feixes nervosos.
— Eis os clitóris! — disse ela orgulhosa, o sorriso, mais puxado para a esquerda, se unia ao olhar brilhante numa expressão sem-vergonha.
— Obrigado, meu amor — respondi sinceramente comovido.
Ergui com cuidado a caixinha e a agitei levemente, colocando-a próxima ao ouvido, atendo ao som de miudezas soltas. Em seguida, me permiti passar os dedos por suas ondulações. A sensação era de pele exposta, arrepiada.
— Lindo trabalho! Foi você quem fez a caixinha?
— Isso.
Só então, solene e vagarosamente, abri a tampa. Ludmila sequer piscava. Um mormaço com prenúncio de chuva imediatamente preencheu a atmosfera enquanto examinava o conteúdo da caixa. Meus olhos, emocionados, orvalharam. Pequenas pérolas carnosas em minúsculo formato. Não conseguia dizer nada. Então, com toda a delicadeza do mundo, peguei uma das pérolas. Ludmila acompanhava tudo, sem ar. Olhei para ela e, em meio a uma tempestade de felicidade, pus na ponta da língua o diminuto trovão, absorvendo para sempre todo o seu mistério.
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4 comentários:
Um pequeno grande conto! Maravilha!
Valeu, mano velho.
poesia pura
Merci, madame!
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