Os monstros de vento estão logo ali, à espreita. Devoram a
vida à medida que nos aproximamos. A forma de enfrentá-los é viver. Mas não a
vida panorâmica, geral. A vida no nível micro, nos minutos, nas coisas em que
nos engajamos cotidianamente, sem grandiosidades. Esse foi o erro de Quixote. Projetar
a revolução, o heroísmo, o amor. A vida lhe escapou. A loucura o dominou. Foi
engolido pelos moinhos de vento, monstros da imaginação. Mas, por outro lado, a
vida assim tão mínima, tão microscópica, me parece tão destituída daquilo que nos faz
seres extraordinários. Eis o dilema. A questão é, então, como colocar nesse plano
micro toda a grandeza do universo, todo o nosso amor e paixão, toda a alegria
de respirar, por mais dolorido que seja. Com a morte à esquina, esperando seu
momento triunfante, esses momentos ganham um revestimento. Comer ovos com bacon
no café da manhã e falar de outro tempo, por exemplo, ou até mesmo sucumbir à televisão e sua hipnose
repetitiva... Tudo pode ser grandioso, se há contato, se há troca. E é isso que
me dá a certeza de que pior que a morte é a solidão.
2 comentários:
pior do que a morte morrida é a morte vivida. pô, pt, os dogon diziam que a morte era a palavra rolando no deserto. uma bela interpretação, não é?
A palavra é uma forma de escoar pra mim, sabe? Escrevo muito, narro, descrevo, anoto e assim vou destilando, fermentando, metabolozando... O velho vai pela música, que me soa bem melhor, mas não consigo ir por esse caminho. Beijo.
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