quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Feito tatuagem

A revista New Yorker, na sua seção Photo Booth, traz na presente edição um slide show de mulheres tatuadas no início do século passado, revelando que a relação entre a inscrição no corpo das mulheres da cultura ocidental de desenhos, símbolos e textos é bastante antiga. Veja o link aqui. Peguei "emprestado" da revista duas fotos que me chamaram muito a atenção. A primeira foto é de Maud Wagner, que me impressionou pela expressão dos olhos, tão bem capturadas no portrait, mais do que pelas tatuagens. A foto é de 1911 e ela é considerada a primeira tatuadora americana. O outro retrato é de Bobbie Librarry, tirada em 1976 por Inogen Cunninghan, quando ela tinha 93 anos, a poucos meses de sua morte.

Fico imaginando essas duas mulheres americanas, naquele mundo vitoriano, puritano e positivista. Deviam perturbar a ordem das coisas. Isso me lembrou uma amiga que, recentemente, ensaiou duas vezes a intenção de ser tatuada para marcar um momento muito especial de sua vida. Na hora H, porém, ela desistiu. Talvez porque o que ela esteja vivendo tenha a ver com "trasitoriedade", como ela mesma definiu; e não deixa de ser, a meu ver, uma certa contradição marcar esse "movimento" com algo tão definitivo.


Fiquei pensando nos sentidos intimos que as pessoas dão à tatuagem (e às outras inscrições no corpo, como piercings, depitlações eternas, malhações, cirurgias etc.). Hoje, tatuagem se tornou algo tão comum e tão "na moda", que não consigo deixar de pensar que houve um esvaziamento dos sentidos mais profundos de tal gesto. No fim, ele perdeu força. Por isso, fiquei aliviado que minha amiga, tão extraordinariamwnte singular, tenha desistido (pelo menos temporariamente) de fazer a sua. Até porque há outras formas de celebrar seu rito de passagem, tão dolorido como libertador.

No mais, estou começando a achar que num mundo tão pulverizado de sentidos e ideais como o atual, onde somos afogados por tantos significados, informações e palavras, não ter qualquer sinal gravado no corpo talvez seja a atitude mais radical de todas. 

PS: O Francisco Bosco respondeu ao que parece ter sido uma série de críticas à sua coluna da semana passada sobre a Índia. Ele não menciona as ponderações que fiz no post abaixo, mas cita a questão do etnocentrismo e o classico antropológico de Louis Dumont, Homo Hierarchicus, sobre a Índia. Vale a pena ler a resposta dele, disponível aqui.

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