domingo, 25 de outubro de 2009

Cincoenta



No último dia 17 amanheci já em outra vida. Os 50 chegaram com o peso da meia-idade, Idade Média, Medieval, Cinquentão e coisa e tal... a imagem pública social dessa fase da vida contrariada pela percepeção interna, quase uma desconfiança, de que continuo o mesmo. Um garoto descobrindo a vida. Um adolescente em muitos sentidos, sobretudo naqueles relacionados à idéia de amor. Me lembro que na festa dos 40 os amigos foram chegando ao Bar do Serafim até ocupar o bar inteiro. A presença feminina esmagadora me encheu de orgulho. Minhas Sherazades, minhas meninas cheias de vontades e manias, insuportavelmente maravilhosas. Aos 45, a comemoração foi no Cosmopolita, também ocupado inteiramente. Essa teve um tom de gurufim, tendo sido comemorada um dia depois da morte de meu mano véio Manduka. Foi uma catarse que contaminou a todos e descambou de Tanatos para Eros: todo mundo se deu bem. Agora, talvez mais sereno, recebi os abraços efusivos de várias gerações de amigos no Aconchego Carioca, mas terminei a noite embalado na cançãode ninar de uma ninfa, como convém nesses momentos. Amanheci novamente guardado na mesma vida. E o poema do Thiago de Mello, meu tio, meu mestre nas letras, se materializou mais uma vez, diferente, mas o mesmo, como um rio:


Ser capaz, como um rio
que leva sozinho
a canoa que se cansa,
de servir de caminho
para a esperança.
E de lavar do límpido
a mágoa da mancha,
como o rio que leva,
e lava.

Crescer para entregar
na distância calada
um poder de canção,
como o rio decifra
o segredo do chão.

Se tempo é de crescer,
reter o dom da força
sem deixar de seguir.
E até mesmo sumir
para, subterrâneo,
aprender a voltar
e cumprir, no seu curso,
o ofício de amar.

Como um rio, aceitar
essas súbitas ondas
feitas de águas impuras
que afloram a escondida
verdade nas funduras.

Como um rio, que nasce
de outros, saber seguir
junto com outros sendo
e noutros se prolongando
e construir o encontro
com as águas grandes
do oceano sem fim.

Mudar em movimento,
mas sem deixar de ser
o mesmo ser que muda.
Como um rio.

8 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimo texto, poeta! Meus parabéns. Vida longa!

ipaco disse...

Obrigado, mano véio.

andrea dutra disse...

querido, queria ter estado ao seu lado pra te abraçar e te dar muitos beijos de parabéns e pra te falar que vc é lindo e especial! 50 de vc é pouco, queremos muito mais!

ipaco disse...

Amore, cinquenta é esquisitão, mas não tem problema. Vamos à forra, ou melhor, à farra... escolha o bar! Te beijo.

Marcelo Amorim disse...

Paulo, amigo cibernético de quem gosto como se vivêssemos na mesma rua, fico muito feliz em participar, mesmo por aqui, da festa dos seus 50. Daqui a poucos anos chegarei lá também, e espero ter a mesma sensação "esquisita" que você tá sentindo. Há uns 20 anos, ter 50 era completamente diferente do que é hoje, e acho que essa é uma conquista do nosso tempo. Parabens, cara! Pela data e pela escolha do texto com que brindou a gente que tá mais distante. E se suas "Sherazades" forem do nível da loirinha de camisa azul que aparece no primeiro plano da segunda foto, tenho que concordar que você é mesmo um iluminado :-)

ipaco disse...

Obrigado, Marcelo. Foi muito bom aquele sábado no Aconchego. Já a bela do primeiro plano é a Juliana, mas o J.Paulo (ao lado dela) chegou primeiro e roubou-nos o coração da moça. Bem, pelo menos eles são felizes e o casamento foi lindo, na gafieira Estudantina... Há mais fotos do evento. Mas fiquei com preguiça de editar... Depois acrescento. Esse foi só o primeiro turno. Grande abraço.

Marcelo Moutinho disse...

Grande tarde, grande tarde!

ipaco disse...

Salve, Marcelo. Foi sensacional, não? Abração.