sábado, 10 de outubro de 2009
Rio Botequim 2010 e Bip Bip, uma reflexão
Reunião no Cosmopolita: Jaguar, seu Tuñas, Guilherme, eu e Paulo Mussoi
Sempre defendi a idéia de que o botequim carioca é muito mais do que serviço e gastronomia, funcionando, antes de tudo, como um espaço de sociabilidade, uma espécie de clube social da vizinhança, em que aspectos da cultura do bairro e da cidade são reiterados e vínculos de amizade e de identidade social são reforçados em conversas, jocosidades, disputas etc. Onde o pendura aparece como um importante regulador do ciclo de confiança entre fregueses e proprietários, muitas vezes mediado pelos garçons etc. Onde o botequim, como comércio de proximidade, atua como um importante elemento a estimular a vida na calçada e no bairro etc. Nas seis primeiras edições do Rio Botequim em que participei, essa noção, digamos, antropológica foi defendida numa luta constante para fazer com que o guia registrasse esse aspecto subjetivo, porém importante, porque diferencia o botequim carioca dos estabelecimentos comerciais que vendem bebida alcoólica no resto do país.
O garçom Ramos, do Villarino: alma de botequim
O boteco de São Paulo, por exemplo, em geral valoriza o serviço, o atendimento, a qualidade da comida, o ambiente, o banheiro limpo etc. Mas não é um lugar aonde se vai de sandália e sem camisa, bater papo, jogar porrinha, observar a vizinhança passando, a gostosa do bairro, a vizinha chata que reclama do barulho e da bagunça. Não é lugar onde se usa da verve jocosa para gozar os amigos, idealizar projetos, pequenos negócios e revoluções socialistas; criticar o governo, o patrão, a patroa e a sogra etc. Ou seja, o boteco paulistano de grife não valoriza a ambiência, a atmosfera, o ar cosmopolita da cidade. Ir ao boteco em São Paulo é um programa; é como ir ao cinema, ao teatro etc. É necessário se vestir adequadamente. Tem hora pra chegar e sair. No Rio, não é necessariamente assim, embora tenham proliferado nos últimos anos bares com essa característica paulistana, isto é, voltados para o serviço. Nos verdadeiros botequins cariocas, o que está em jogo é o cotidiano, é o botequim da esquina, que liga os fregueses à rua, ao bairro, à cidade. Um clube da esquina.
Decolores, em Nikiti: alma de botequim
Por isso, o botequim carioca era contraditoriamente tido pela elite da cidade e as instituições formais — como o Estado, a Polícia, a Igreja, a Medicina etc. — como um lugar de vagabundo, puta e malandro. Lugar de doença (o alcoolismo) e perdição, um antro que desviava o homem reto de seu caminho entre o lar e o trabalho. Onde o marido deixava parte do parco salário para desespero da família. E ainda chegava em casa dando esporro na mulher. Por outro lado, era cantando e louvado pela boemia, pelos artistas, músicos e poetas, pelos operários que encontravam nesse espaço um lugar onde a hierarquia social era mais igualitária, onde tinham sua voz e obtinham o respeito difícil de encontrar no resto da cidade. Era e ainda é também um retrato cultural da cidade, revelando o desenvolvimento urbano, as transformações históricas, a urbanização, a industrialização etc.
A cozinha do Cervantes: alma de botequim
O lançamento do Rio Botequim, no fim da década de 90, ajudou, pela repercussão que teve na imprensa, a chamar a atenção para esse lado de identidade cultural da cidade. Mas, se por um lado, o carioca mais desavisado começou a bater no peito orgulhoso de seus botequins, as visões negativas sobre o pé-sujo não desapareceram, sobretudo por parte das autoridades municipais, com suas leis draconianas de posturas, impedindo, por exemplo, mesinhas nas calçadas, coisa comum em qualquer cidade cosmopolita do mundo. O aumento da freqüência também teve conseqüências de ordem econômica e social. Os preços subiram, donos de alguns botequins, deslumbrados com o maior reconhecimento, antes tímido, empreenderam modificações, reformas, investiram em redes e priorizaram o serviço, desconfigurando exatamente aquele aspecto de clube social.
Aconchego Carioca: alma de botequim
De olho no sucesso econômico desse fenômeno, rapidamente restaurantes e bares sofisticados passaram a se autodenominar “botecos” e adjetivos semelhantes, evocando informalidade, simplicidade e uma gastronomia singular. Os jornais criaram colunas de especialistas (é verdade que Jaguar e outros já escreviam sobre isso desde sempre), criaram-se concursos, eleições, valorizando garçons, pratos, bebidas, baratonas e toda sorte de eventos etc. Houve uma “profissionalização” em torno desse segmento botequim. Parte dessa revolução foi positiva, pois melhorou muita coisa que podia ser melhorada sem implicar numa descaracterização, incentivou a criatividade dos donos de botequins, como Katia e Rosa, do Aconchego Carioca, Alaíde, ex-Bracarense, Fernando, do Enchendo Lingüíça, Paulette, do Petit Paulette, e tantos outros. Inventando pratos, reforçando a ambiência etc.
Bar do Jóia: alma de botequim (foto de Custódio Coimbra)
Mas também teve seu lado negativo, com a proliferação de falsos botecos, uma certa banalização e mesmo fetichização do botequim, tanto por aqueles que o querem transformar em botecos paulistanos, limpinhos e cheirosos, como aqueles que desejam mantê-los parados no tempo, alheios às mudanças estruturais da cidade. Enfim, dos anos 90 pra cá, o botequim carioca viveu uma verdadeira revolução como instituição cultural da cidade, com seus efeitos colaterais e coisa e tal. Virou assunto em cada esquina e, como no futebol, tem um especialista em cada cidadão, de modo que cada um tem sua visão e diagnóstico sobre esse processo. Aqui, apenas exponho minha percepção em relação a esse fenômeno.
Adega Pérola: alma de botequim
A sétima edição do Rio Botequim, já a cargo de meu amigo Guilherme Sturdart, foi uma edição especial, voltada exclusivamente para gastronomia, uma especialidade do Guilherme, que é um estudioso do tema, tendo catalogado em anos de pesquisa pessoal mais de mil bares, classificando-os, entre outras coisas, por suas singularidades culinárias. Dificilmente haverá um bar na cidade e arredores que ele não conheça. Tirando o desenho gráfico do guia, que recortou as fotos de tal modo que não permite ao leitor que se tenha uma idéia dos bares sobre os quais se fala, o projeto foi bastante interessante, selecionando bares por especialidades da cozinha, fornecendo as receitas de cada um e coisa e tal.
Pavão Azul: alma de botequim
Agora, a editora Casa da Palavra, de minha amiga Martha Ribas, prepara a oitava edição do Rio Botequim, ou o Rio Botequim 2010. Dessa vez, não há a chancela: “especial gastronomia”. Ou seja, o guia vai tratar de bares por suas virtudes além da cozinha, inclusive ambiente, bebida, arquitetura, higiene etc. Nesse processo, fui convidado para participar de uma espécie de conselho de especialistas, que, entre outros, contou com figuras como Jaguar, Moacyr Luz, Marcelo Lins e Paulo Mussoi, para ranquear entre os 200 bares selecionados para o guia os 50 que receberão estrelas (de um a três). O evento, realizado no Cosmopolita, dos irmãos Tuñas, casa inaugurada em 1926 e onde Oswaldo Aranha inventou o filé que leva seu nome, foi marcado por uma bem-humorada e simultaneamente tensa discussão sobre a lista de bares que receberão ou não estrelas no próximo guia.
Alfredinho, do Bip Bip: alma de botequim
Dois dias depois, Joaquim Ferreira dos Santos, ao resenhar o encontro, publicou na coluna Gente Boa, do Globo, uma informação imprecisa: a de que o Bip Bip, por sugestão de um dos membros da comissão, não seria ranqueado com estrelas. A informação é imprecisa porque, embora a sugestão tenha sido de fato apresentada, não se bateu o martelo sobre a inclusão ou não do Bip entre os estrelados do guia. A decisão ficará a cargo do autor e da editora do projeto, Guilherme Sturdart e Martha Ribas. O que posso dizer é que, do mesmo modo que sugeriram a retirada do Bip, sua permanência foi por mim defendida com ardor. Afinal, não se vai a botequim apenas para comer. E o Bip, que já foi até capa do jornal francês Le Monde, é um bar que eu indicaria a qualquer pessoa interessada em conhecer a alma dos botequins cariocas, gringo ou da terra. Eu, que tenho o Alfredinho como um pai, a quem peço a benção quando encontro, sou obviamente suspeito em minha defesa. Mas não estou só nela.
Samba no Bip: alma de botequim
Vamos ver como sairá o guia. Talvez a idéia de botequim exclusivamente como serviço esteja se sobrepondo aos aspectos culturais mais amplos e intangíveis, difíceis mesmo de descrever num guia por sua subjetividade. Talvez isso seja visto, sobretudo aos olhos dos financiadores do projeto, como uma profissionalização do guia (o Joaquim usou a expressão, perigosíssima a meu ver, “Michelin dos bares”), mas prefiro pensar que após todos esses anos, com toda a experiência adquirida e tendo consciência do papel do Rio Botequim no estímulo a uma reflexão sobre esses estabelecimentos, respeite-se a noção de ambiência, que engloba essa característica de clube social da vizinhança. Para mim, essa noção é tão ou mais importante do que gastronomia, limpeza, arquitetura, história, bebida, garçom e ambiente (espaço), pois é ela que diferencia o botequim carioca dos bares de outros lugares.
Bip Bip: alma de botequim
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22 comentários:
Peço licença: - Então só tem botequim no Rio de Janeiro? Esse "elemento subjetivo" só existe no Rio de Janeiro?
Porque os botecos - não posso chamar assim? - que EU freqüento na minha cidade (São Paulo) não valorizam o serviço; nem a higiene.
Tirone, estou me referindo aos botecos que conheço de São Paulo e aos que se autodominam "botecos cariocas" na Terra da Garoa, louvados em vários guias e na imprensa especializada. Como não conheço todos, tive o cuidado de colocar um "em geral", no meu texto. Tenho certeza que há excelentes botequins de vizinhança, de proximidade e de bairro em São Paulo, como no resto do país. De qualquer modo, com um pouco de boa vontade, inteligência e sensibilidade, dá para sentir a que tipo de estabelecimento estou me referindo e diferenciando. Abs.
O texto é perfeito, Paulo. É uma versão mais bem estruturada e em forma escrita daquele nosso papo, né? rs. Concordo contigo quando vc comenta - e se lamenta - que o Guia tenha passado a privilegiar a gastronomia, em detrimento, me parece, desse conceito tão subjetivo, mas tão singular (que dá singularidade a certos bares) que é a alma. O Guilherme sabe tudo de comida de boteco, mas acho que o Guia devia ir além disso.
Marcelo, mano velho, concordo plenamente. Acho que o guia pode e deve ir além do aspecto gastronomia e serviço. Abraço forte. pt
"No buteco do Zé Galo
Tanta sujeira se agrupa
Que até no bife à cavalo
Vem mosquito na garupa"
Messias da Rocha - Juiz de Fora
"No buteco do Zé Galo
Tanta sujeira se agrupa
Que até no bife à cavalo
Vem mosquito na garupa"
Messias da Rocha - Juiz de Fora
"No buteco do Zé Galo
Tanta sujeira se agrupa
Que até no bife à cavalo
Vem mosquito na garupa"
Messias da Rocha - Juiz de Fora
Sensacional, Ips! Como sempre! bjs.
Como paulistano de nascimento e curitibano de morada, e principalmente como um sujeito que foi estúpido o suficiente pra ir a tantos lugares mas nunca ao Rio, tendo a me sentir dividido com esse teu artigo, Paulo. Que é excelente, diga-se, e leva 3 estrelas ou, como diria Araci de Almeida, "manda 100 mangotes pro velhinho!". Conheci bons bares em Sampa (botecos legítimos, alguns históricos), e outros ruins (geralmente, os tais lugares da moda). Também presenciei o surgimento de "botecos cariocas" por lá, que depois viraram febre e também chegaram a Curitiba, que por sua vez possui belos botecos de verdade (ou Leminski dificilmente teria suportado viver aqui), muitos dos quais guardam ainda um certo "jeito colonial". E por "colonial", entenda a preservação de traços da cultura dos imigrantes europeus. Fiquei uns meses em Campinas, no ano passado, e da mesma forma, por lá também existem lugares pra se ir e lugares pra se evitar. Mas quero crer, sim, que no Rio a instituição boteco encontra um contexto muito específico e especial. Paisagem, clima, história, samba, cariocas, turistas, tudo influi, certamente. Agora, por mais que eu me interesse por esses guias, receio que, a longo prazo, a profusão deles possa criar um certo "padrão estelar", de modo que o boteco tal que não ganhou nada na edição anterior, vá querer se espelhar no que foi estrelado e, aí, corremos o risco da autenticidade desses endereços começar a perder espaço para critérios de especialistas. Nesse ponto, não sei se a graduação é interessante. A citação dos melhores, sim. Guia é guia, tem essa função. Mas decretar que o lugar X é melhor que o Y porque isso e porque aquilo, eu já não sei. Tem certas coisas que sempre vão ser muito subjetivas.
Querido Marcelo, você trouxe vários elementos para uma boa reflexão. Talvez o texto não deixe claro o suficiente que as qualidades que menciono como importantes para um botequim de alma não são exclusivas do Rio de Janeiro. Acho que toda cidade com alma cosmopolita e urbana tem seus botequins (cafés, tavernas, tascas, pulperías, choperias etc.) autênticos e sensacionais (meu amigo Bruno deve ter uma lista grande em Campinas). Não nego isso. Agora, também é verdade que os botequins do Rio, os clássicos e históricos, muitos deles centenários, têm lá suas singularidades que foram desenhadas pela história da cidade e de seu processo de urbanização. Acho também que o outro ponto que você levanta é ainda mais interessante, sobre o problema de ranquear os bares. Talvez provoque uma uniformização descaracterizadora, não sei. Mas acho que as transformações que mudaram as feições dos bares já aconteceram com o lançamento do guia no fim dos anos 90 (e todo o processo que isso desencadeou, sobretudo na mídia que, de repente, descobriu o botequim). É um dos efeitos colaterais a que me refiro no texto. De qualquer modo, o conceito de autenticidade é perigoso e, acredite-me, há um bando de fetichistas que falam em "autenticidade" e "originalidade", sem se dar conta de que qualquer cidade e seus elementos e fenômenos passam por transformações, à medida que as gerações vão ocupando os espaços. Novos valores emergem e não quero brigar com isso. Pois se é para defender originalidade, teríamos que defender a volta das velhas boticas, da divisão de gêneros, que impedia as mulheres de freqüentarem os bares etc. Ou seja, o que defendo é que os autores do guiam abram os olhos, se é que eles já não o fizeram, para outros elementos, além do serviço e da gastronomia, que marcam, hoje, o botequim carioca, como essa noção de ambiência a que me refiro, essa ligação com a rua e o bairro, o botequim como empresa familiar e clube social da esquina. Na matéria que escrevi sobre os bares centenários, acabo citando um pensador chamado Robert Ezra Park, um dos pais da sociologia urbana americana. Ele diz que a cidade não é feita de prédios, ruas e bairros, mas dos sonhos, desejos e usos que seus moradores fazem dela. Eu concordo e torço que os moradores que hoje começam a consumir a cidade valorizem esse elemento característico que é o botequim. Grande abraço e obrigado por sua reflexão refinada. pt
Querido Paulo, seu texto está sensacional. Gostei de sua descrição do botequim como parte indissociável do modo de vida carioca. Talvez eu escreva algo a respeito, comparando os autênticos do Rio e de São Paulo - até onde eu os conheço, é claro.
Entendi o que você quis dizer com "botecos paulistas", mas saiba que, por aqui, chamamos estes empreendimentos de "simulacros de botecos cariocas", posto que tentam reproduzir os estabelecimentos comerciais do Rio a partir de detalhes de decoração, cardápio e clichês de todos os tipos, esquecendo do fundamental: não se pode importar tradição, cultura e ambiente. Impossível trazer um botequim carioca para São Paulo pelo simples fato de que não há cariocas em São Paulo. Quando, por exemplo, não se permite que um cliente entre de bermuda e chinelos num desses lugares, é a própria negação do Rio de Janeiro. O incompreensível é que vocês, cariocas, acabaram comprando essa ideia. (Lembrei-me do Brasil nos tempos do FHC: vendendo laranja para os Estados Unidos para depois importar a mesma laranja nacional em forma de suco de caixinha. Enfim...)
Da mesma forma que São Paulo jamais poderá ter um botequim carioca em seu território, também o Rio não saberá o que é, por exemplo, beber cerveja em padaria. Uma prática tipicamente paulista, que começa logo cedo aos sábados e vem acompanhada do cheiro do frango assado girando na "televisão de cachorro", das sacanagens com o português do caixa por conta da péssima campanha da Lusa no campeonato e do encontro com os amigos do bairro - que inevitavelmente passarão por ali, seja para comprar pão e cigarro, seja para ler as notícias do dia no jornal coletivo amarrado com barbante ao balcão, seja para tomar a primeira gelada do dia - de pé, como manda o figurino, de preferência na calçada, para olhar as moças que fazem a caminhada matinal. Quem é paulista sabe do que estou falando.
Grande abraço!
Querido Bruno, mano velho, obrigadíssimo por sua reflexão, como sempre, precisa. É isso mesmo. Engraçado que quando estive em Sampa sempre reparei que era nas padarias onde sentia o clima mais parecido com o do botequim carioca. Uma vez até escrevi sobre isso, dizendo que esse clima de descontração, jocosidade e gozação acontecia nas padarias. Agora, é evidente que Sampa tem dos seus botecos autênticos e que são autênticos na forma paulista de viver a cidade. E espero um dia poder fazer um bom roteiro com você e os demais amigos de Sampa e Campinas. E em Curitiba com o Marcelo, que parece conhecer as boas casas do ramo em sua cidade. Abração.
PS: Quando vc vem por estas paragens?
Paulo, concordo com suas observaçõese entendi melhor todas elas. Mas quando falo em "autenticidade", estou me referindo a características que estariam sujeitas a "interferências externas". Como por exemplo o dono do boteco que serve porções de tremoço (coisa raríssima de acontecer no mundo, me parece), achar que tem que parar com isso e passar a servir bolinho de aipim, porque a maioria dos melhores ranqueados servem essa iguaria. Mais ou menos isso.
Bruno, muito bem lembrado essa coisa das padarias de Sampa. Sei bem o que é tomar uma cerveja no balcão de uma delas, acompanhado de um sanduíche de mortadela com aquele pão crocante, muitas vezes ainda quente. Tanto que nas vezes em que pensei em abrir um bar, um tira-gosto que não poderia faltar seria um prato de mortadela fatiada bem fininha, acompanhado de pão francês. Quanto à "televisão de cachorro", quando eu era pequeno sonhava ter uma dessas no meu quarto :-)
Entendi a sua colocação, Marcelo. Isso que você teme de certo modo já ocorreu, quando o assunto botequim ganhou uma imensa exposição na mídia. Alguns botecos não só mudaram cardápíos e o jeito de servir, mas até mesmo reformaram o bar, descaracterizando exatamente aquilo que os tornava interessantes. Me lembro aqui do Monteiro que reformou a chopeira e o chope nunca mais foi o mesmo, mas há muitos outros exemplos. Era tristemente curioso ver que alguns restaurantes se travestiam de botequins e alguns botequins se travestiam de restaurantes, perdendo sua aparência original. Por outro lado, há um público que consome essas casas. Por exemplo, o Belmonte, que hoje é só um arremedo do que já foi, vive cheio. Enquanto eu, individualmente, me mantenho fiel à minha noção de originalidade, sei que as cidades mudam a partir do uso que seus moradores fazem dela. Talvez, daqui a 50 anos, quando os moradores e as forças que estimulam os usos sociais da cidade inventarem um novo tipo de estabalecimento, uma nova moda boêmia, sei lá, os freqüentadores do Belmonte de hoje vão chorar a perda de "originalidade"... Eu, como morador desse lugar chamado Rio, choro a perda do que para mim é o marco de originalidade, mas não perco de vista que essa é uma idéia relativa. Abs.
Putz, estive no Rio nesse feriado, mas não deu tempo de te ligar - a quantidade de coisas que precisei resolver foi uma coisa extraordinária. Quase liguei pra você no domingo, quando fui jantar no Lamas. Não o fiz por receio de parecer inconveniente, já que não avisei que eu estaria por aí. Mas aguarde minha próxima visita. Vindo a São Paulo, avise! Abs.
Combinado, Bruno. Qualquer hora dessas estou chegando a Sampa... Abs. pt.
Uau, esta um verdadeiro e acalorado debate botiquineiro!
Mt bom!
Bjs
Ora, ora, ora. Enfim alguém em defesa do Bip Bip. E com a maior elegância e categoria. Claro que, como paulistano, e na mesma linha de outros comentários inseridos na conversa, acho que cabe algum reparo na observação de considerado Paulo Thiago. Também não vou entrar nessa porta de botecos burgueses. Vou entrar noutra. O Paulo César Vasconcelos, do SporTV, por exemplo, já esculhambou com essa coisa de paulista beber em padaria, em um livro do Moacyr Luz. Perdôo o estranhamento diante do diferente. Mas em São Paulo há boas padocas para se beber e quem sabe pedindo pro portuga Lusa doente fatiar aquele frango retirado da televisão da cachorro, com pão quente saído na hora. Mas essa é outra discussão. Assim como já vi muito carioca pedindo chope sem colarinho, preocupado em não levar uma 'volta' do dono do lugar. O meu, por favor, bota pressão e creme. Talvez ouvindo um samba bem carioca no Bar do Alemão, na Av. Antártica. E viva a diferença, não é mesmo? E viva o Bip Bip. Forte abraço, meu caro.
Carlos Ferreira Lima, seu criado
Querido Carlos, seja bem-vindo e obrigado pelas considerações não apenas esclarecedoras, mas igualmente marcadas por um espírito verdadeiramente antropológico. Você tem razão, meu caro: Viva a diferença cultural de nossas cidades e o uso que delas fazem os seus boêmios. E o Bip também! Grande abraço. pt
Paulo: buteco é um troço tão simples, meu caro, tão bacana e tão simples, que - na minha humílima opinião - não precisa de guia.
E quando o sujeito se preocupa mais com o limão do mictório do que com o limão da casa... francamente.
Um abraço.
Querido Edu, salve! Entendo seu argumento, direto ao ponto como sempre. A idéia original de fazer um guia nasceu, lá nos primórdios desse projeto, justamente da percepção de que o botequim é uma coisa bacana e simples. Deu no que deu, no bom e no mau sentidos. Aliás, a gente nem o via como um guia no sentido preciso do termo, como um livro com a intenção de guiar e orientar as pessoas e coisa e tal, mas sim como um registro histórico dessas casas que iam e vão desaparecendo. O que posso te garantir, meu querido, é que a intenção, pelo menos a minha e da rapaziada que ia comigo a campo, era a melhor possível. Esse projeto, com seus erros e acertos, me deu uma noção melhor sobre a cidade onde vivo e que amo.
Quanto ao limão, fico meio sem jeito de comentar. Eu estava na reunião, quando o Moa, que é meu amigo, falou aquilo. E ele o disse assim, num tom jocoso, como uma piada, para expressar sua opinião de que banheiro de boteco não precisa ser sujo para que o boteco seja autentico. Do jeito que saiu no jornal soou como uma afirmação arrogante e não do jeito que ele se expressou lá, na hora, num tom bem-humorado. Ao mesmo tempo, como digo nesse post, discordo dessa visão que olha o botequim exclusivamente do ponto de vista do serviço. Para mim, mais importante do que limpar o banheiro é desfrutar da atmosfera que faz dos botecos clubes de esquina, de rua, de bairro. Coisa, aliás, que o Moa faz muito bem.
Grande abraço.
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