sábado, 13 de novembro de 2010

O samba chegou na primeira hora


Outro dia, chegava em casa vindo do jornal, exausto, a meia-noite já se anunciando, quando no boteco da esquina esbarro com meu querido mano véio Gabriel da Muda, numa mesa repleta de músicos e poetas. Com sua voz de trovão, ele manda:

— Você será o primeiro a ganhar meu CD, que acaba de sair do forno — disse, enquanto me passava o primeiro exemplar de O que vai ficar pelo salão, ainda com cheiro de fábrica, retirado da caixa de papelão onde outras 24 unidades compunham a primeira leva da impressão.

Ele estava ali com os músicos e seu parceiro na poesia das composições, Roberto Didio, celebrando o trabalho. Apresentações feitas, agradeci o presente e o privilégio como pude, oferecendo o CD Disk-Tum-Derrei, do meu pai, Gaudencio Thiago de Mello, que, por coincidência, levava lacrado na mochila. Reciprocidade.

A vida tem dessas sincronicidades bacanas.

Mas o gesto generoso de meu amigo se completou mesmo no dia seguinte, quando, ao tomar café da manhã, botei o CD pra tocar. Que beleza! A música preencheu a casa, numa gravação de altíssima qualidade, os instrumentos presentes na mesma intensidade da poderosa voz de Gabriel, que no CD assina como Gabriel Cavalcante. O disco todo é bom. Tem convidados especiais, como Áurea Martins, Cristina Buarque e Moacyr Luz, que foi quem, aliás, me apresentou ao Gabriel num tarde memorável no Armazém Senado, com Paulinho Lemos, compositor brasileiro radicado na Espanha.

No CD, que mostra o maduro lado compositor de Gabriel, tem ainda uma pérola de Moa e Didio, o Cio e a paz, que, na voz de Gabriel, evocou a mesma emoção que senti ao ouvir pela primeira vez Sinal fechado, de Paulinho da Viola. Ou seja, a nova geração do samba mostra que está aí sem dever nada à velha guarda. Belíssimo trabalho.

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