sexta-feira, 17 de julho de 2009

Do fundo do baú (2)



Pois é, amigos. Continuo na minha incursão pelo tempo e a memória através de negativos e cromos (slides) dos meus tempos de repórter-fotográfico no início de carreira. Me deparei com essas do mano Caetano, tiradas em sua casa em 1988. Era um trabalho freelancer para um jornal de Petrópolis. Na época, Caetano não estava falando com a imprensa fluminense depois de uma polêmica que já nem me lembro qual era. Ele vivia no Leblon, na esquina da General Urquiza, e nós chegamos em sua casa lá pelas 5 da tarde, a hora que ele costumava acordar e as fotos foram feitas assim, com ele mal saído da sesta.



Batemos um papo muito interessante sobre música. Naquele então, Caetano não era essa unânimidade de hoje e nem tinha a mídia a seu serviço. Hoje, tudo o que ele faz é registrado como um acontecimento, os mais comezinhos jabás são transformados em grandes reportagens para um público ávido por notícias sobre celebridades e faits divers sensacionalistas. Mesmo assim, considero sua trajetória importante para se entender um certo processo cultural brasileiro que dialoga com certas tradições, inclusive tradições antagônicas entre si, como o Cinema Novo e o Cinema Marginal, por exemplo. O tropicalismo do Caetano é politicamente populista nesse sentido específico: de uma força que dialoga com tudo o que se considera interessante e relevante.

O tropicalismo de Caetano vai aos modernistas, à geração de 45, com João Cabral do Melo Neto, ao concretismo dos irmãos Campos e Pignatari; vai a Glauber, a Sganzerla; dialoga com Zé Celso e tudo de novo que aparece. Com isso, ele reforça o princípio cultural da antropofagia, de deglutir tudo o que há de interessante para recriar, a seu próprio modo, essas coisas todas. Uma certa e eterna liberdade criadora que se alimenta dos outros.



Alguns anos mais tarde, por volta de 1996, fotografei também para uma entrevista a Vera Zimmerman, a Vera Gata da canção de Caetano. Como ele, ela também estava acabando de despertar em sua casa iluminada pela manhã de um dia de semana, no alto de Santa Teresa. Na época, gostava de buscar esses caminhos alternativos ao fazer portraits: sem maquiagem e sem iluminação artificial. Acreditava que me daria uma linguagem e um estilo próprios nos retratos, deixando as sombras duras e o contraste forte.

8 comentários:

Marcelo Amorim disse...

Sinto muito, mas uma hora dessas vou surrupiar (honestamente) uma dessas fotos que você clicou do Caetano, Paulo. Com o devido crédito, ela cairá perfeita pra ilustrar uma postagem que quero sacramentar no meu Notas & Trilhas. A menos que o proprietário da obra se oponha, of course.

ipaco disse...

Fique à vontade, Marcelo. Pode usar. Abração. pt.

Marcelo Amorim disse...

Já tá lá, Paulo. Seu post e a foto foram a liga que eu precisava pra amarrar a relação do Caetano com a Jovem Guarda e dar sequência à minha saga musical. Abraço procê.

ipaco disse...

Beleza, Marcelo. Vou lá. Aliás quero muito ler algo sobre o Sergio Sampaio. Abs.

Unknown disse...

Querido, já que você tocou no nome do Sergio Sampaio, escrevi um texto sobre ele, publicado no Correio Popular em 2000 e que você pode ler na Agenda do Samba & Choro. O link é este:

http://www.samba-choro.com.br/artistas/sergiosampaio

Ah, belíssimas fotos, malandro!

ipaco disse...

Bruno, meu querido, maravilha! Vou correndo lá no site. Abração, mano véio.

Camaleoa disse...

Gatinha essa Vera Zimmerman!
beijo.

ipaco disse...

Lindona e inteligente...