Meu amigo Carlinhos Vasconcelos costuma dizer, com o ar um tanto filosófico, um tanto sacana, que três ziqueziras acabam num pirepaque. E eu, que já tive pelo menos uma ziquezira, ando sobressaltado com minha saúde e, ao mesmo tempo, resignado com a incompletude de meu corpo e alma. Ontem, por exemplo, a dormência e o formigamento que venho sentindo nos dedos e palmas das mãos saíram, por assim dizer, de seu estado usual de latência e ocuparam, eu diria, de forma impertinente, minhas idéias ao longo do dia, sobretudo em seus momentos mais estressantes e tediosos. A cada vibração eletrizada, meu cérebro soava alarmes e minha fantasia criava uma lista de patologias que variava de problemas cardiovasculares a sintomas neurológicos de atrofiamento dos membros (êpa!), passando por um quadro circulatório deficiente.
Senti o peito oprimido e uma certeza da morte ganhou forma em minhas fantasias. Ora, o coração bombeia a vida, a circulação faz a energia vital atravessar o corpo e o cérebro comanda o mundo mental... Esse formigamento só pode ser coisa séria. Diagnóstico confirmado por meus colegas de trabalho, quando relatei o que estava acontecendo.
A atenuar um pouco o terror, o fato de estar sentindo esse formigamento há anos, o que me permitia pensar: se fosse sinal de algo iminente e fulminante, já teria rolado. Sentido-me à beira da morte, fiz um esforço para vencer meu terror interno e procurei informações no Google sobre os sintomas. Devo confessar que me tranqüilizei um pouco.
Logo o primeiro site que abri, um médico dizia que era relativamente comum que se confundissem esses sinais com problemas de coração ou circulação. O que poderia ser verdade se, com o formigamento e a dormência, estivessem associados outros sintomas, como falta de ar, dor no peito, suor frio, pressão alta etc. Coisas que não estava sentindo. O mais comum, ensina o médico, é o que homens de branco chamam de fibromialgia, que seria provocada por vários fatores, desde a pressão sobre um determinado nervo a estresse. Após a leitura dessas informações imprecisamente tranqualizadoras, o formigamento voltou para o seu estado latente, quase esquecido, atenuado mentalmente ainda pela promessa feita a mim mesmo de ir a um médico ver esses sinais.
Mas isso tudo me fez pensar sobre essa coisa quase mágica que é a hipocondria. Uma espécie de loucura generalizada e bastante social, em que compartilhamos com o próximo todos os nossos pesadelos e temores. Uma loucura que vai de vento em popa nesses tempos de internet e Google, ao mesmo tempo, em que os médicos, cada vez mais jovens, parecem inexperientes demais para fazer diagnósticos verossímeis e plausíveis.
E o pulso ainda pulsa.
2 comentários:
Paulinho, esse texto está ótimo. Nada como uma inquietação autêntica para produzir pequenas pérolas. Agora, svp, não fique satisfeito com a resposta do Dr. Google e vá cuidar de si , garotão. Estou morrendo de saudades. Vamos nos ver nesse fim de semana? Quero contar tudo.
Oi Ips. Você tem razão. E eu fui ao médico hoje, que suspeita de uma síndrome do túnel de carpo. Uma espécie de inflação de tendão no punho, causada por lesão por esforço repetitivo em pessoas fora de forma e peso... Fueda... E amanhã? Nos vemos no lançamento do Thiago, não?
beijo
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