sábado, 25 de abril de 2009
Tragédia em Maria da Graça
A chopeira do Amendoeira, cuja serpentina teria 96 metros
A essa altura, todo mundo já leu a má notícia. César Resende, dono do inigualável Bar da Amendoeira, foi assassinado ontem, aos 60 anos, após uma briga com um cliente e desafeto antigo. Não conhecia o César muito bem. Nas poucas palavras que trocamos vi simpatia, de modo que não consigo imaginar uma cena de briga tão violenta, que se deteriore para porretadas e tiros. Não combina. Prefiro manter à memória o velho botequim, batizado oficialmente de Café e Bar Lisbela e que, ao longo dos anos em que, imperioso, residiu à esquina da Conde de Azambuja com a Miguel Gama, em Maria da Graça, na zona Norte do Rio, se tornou uma referência para a boemia carioca.
César em pé, entre Julico (à esquerda), do Rio Botequim, e o querido Baiano
Fundado em 1935, como um aramzém, também já se chamou Café Rio D’Ouro, Armazém Dois-Dois, Cenaca Gelada, Bar do Manoel e Bar do Mário. Mas foi sempre a frondosa amendoeira, árvore da família das rosáceas, que chegou ao Brasil vinda da África, que deu nome ao estabelecimento.
Um garotinho na pressão, sobre o balcão do Amendoeira
O endereço também é o de um dos melhores chopes da cidade. Fazendo pesquisa pelo Rio Botequim, onde o Amendoeira é um dos poucos bares a ter saído em todas as edições, o César exagerava sobre o tamanho da serpentina. Um ano disse que ela tinha 96 metros e, em outro, 120. Não importa. A qualidade do chope é atestada pela nata da boemia carioca. O Amendoeira forma com o Adonis minhas referências de chope de excelente qualidade da zona Norte, onde predominam os bares com cerveja. Para o estômago, a estrela da casa é a carne seca (segundo o César, o consumo é em média de 30 quilos por dia), preferencialmente na sua versão tira-gosto, com farofa. Mas também se come uma excelente costelinha com quiabo e uma boa feijoada. Aos sábados, tem angu à baiana.
Mais uma do bar, o chope sempre impecavelmente vestido com colarinho
Um dado curioso é o sistema inventado pela casa para controlar as doses da malagueta: um canudo de plástico é colocado na compota da pimenta e bastar apertar uma das pontas que o canudo vira um conta-gotas. Pura física de botequim.
O Bar da Amendoeira, visto de dentro
Lembro de uma ida ao Amendoeira com a turma do Rio Botequim mais Wilson Flora, o Baiano, e Moacyr Luz. Estávamos vindo do Bar do Paulinho, em Higienópolis, e paramos ali para a saideira. Ficamos numa mesinha na calçada, perto da amendoeira. O Moa pegou um violão velho e a tarde virou noite suavemente. Foi um lindo anoitecer carioca. Quem viveu, viveu.
Moa, com o violão, interpretando velhas canções: parece uma pintura impressionista
O bar, que já abrigou uma mercearia, mantém os detalhes arquitetônicos dos anos 50, com luminárias antigas, espelhos com formas arredondadas, cabides para pendurar o chapéu e o muro de cobogós, que divide o ambiente interno. A briga que resultou na tragédia, segundo a notícia publicada nos jornais, teria começado há tempos por causa da instalaçáo de um ventilador...
br
A amendoeira que dá nome ao bar e sua fachada, com a turma do Rio Botequim na calçada
Ontem foi um dia triste. Me lembrou a morte do saudoso Armando, do Bracarense.
César, de costas, recebendo a galera na mesa na calçada
Leiam mais sobre o bar e o crime nos blogs Pé-Sujo, do Juarez Becoza, clicando aqui (ou no link, lá embaixo), e no Blog do Moa, clicando aqui.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
4 comentários:
É, meu velho, foi uma catástofre para a zona norte. A notícia abalou todos que gostam de botequim. Uma pena.
Pois é, ainda estou abalado com isso.
Paulo, eu estava aí no dia da tragédia. E soube que o César vacilou ao ter espancado o velho com um porrete. Tremendo vacilo para um homem da noite experiente, como ele. Pena.
Olha, tem como você me mandar um e-mail em particular? Queria perguntar algo. Segue o endereço: brsamba@yahoo.com.br
Putabraço!
Pois, Bruno. Foi um vacilo certamente. Mas soube que a coisa era antiga e o Cesar já tinha uma ação, acusando o desafeto de ter disparado contra ele. Enfim, como você bem resumiu: uma pena.
Te mando já já o e-mail. Abração.
Postar um comentário