quarta-feira, 3 de junho de 2009

Cartas d'além mar (23)



Querida amiga, agora que você mergulha cada vez mais em terra estranha; agora que você se põe cada vez mais além da distância dos meus dedos, a vejo com mais freqüência nas esquinas da cidade. Agora que seu sotaque ganha novos sons, e o idioma traz velhas expressões do tempo em que foi embora, ouço sua voz todas as noites, mal os olhos se fecham ao adentrar o azulado campo onírico. E, no entanto, concretamente, a distância se faz presente, quando fico sabendo de coisas de sua vida por mensageiros ocasionais, quando percebo que não mais ajudo a escrever o roteiro em que éramos protagonistas, as histórias de amores felizes e viagens sem fim pela estratosfera de nossas conversas. Nossa vã filosofia: em que pedaço do infinito nos encontramos? Será que tudo tem mesmo um fim? Agora que nos tornamos uma abstração, um presságio de outro dia, um arrepio na memória, ponho os pés no chão e me descubro incerto das direções.

9 comentários:

Unknown disse...

Bravo! Bravíssimo! Choro, comovido. Tenho meus motivos.

ipaco disse...

Um dia, mano véio, vamos beber esse choro num boteco de esquina. Abração.

Marcelo Amorim disse...

Lindo isso, Paulo, lindo e tocante. E por incrível que pareça, me pareceu tão familiar esse sentimento, essas palavras, que quase reproduzo isso lá no meu pequeno espaço. Mas não vou fazê-lo, essa emoção é sua, assim como é seu também esse abraço que mando de longe.

ipaco disse...

Marcelo, obrigado pelas palavras e pelo abraço. Venho escrevendo essas cartas há anos. São uma espécie de xamanismo, para lidar com separações, perdas e outros sortilégios dessa natureza. Abração.

Unknown disse...

Vamos, sem dúvida. Aliás, creio estar por aí na segunda semana de julho. Falaremos sobre isto, que está na ordem do dia.

Anônimo disse...

po, paulinho, to aos prantos aqui!

ipaco disse...

Andrea, minha Andrea, vamos cantar um bolero! Beijo.

Camaleoa disse...

"(...) em que pedaço do infinitos nos encontramos? será que tudo tem mesmo um fim?"
eu que o diga, eu que o diga.
o final da carta parece que foi escrito pra mim.
lindo, paulinho!
beijo.

ipaco disse...

Certos sentimentos ressoam. Não tem jeito, não é mesmo, Cris? Beijo.

PS Quero ver o jornal.