terça-feira, 16 de junho de 2009

Dois eventos etílico-gastronômicos


O segundo andar do Mercado São Pedro, onde os botecos preparam peixes e frutos do mar comprado embaixo (no primeiro plano: os irmãos André e Renata)

Amigos, neste último sábado, organizei a pedidos com um grupo de amigos uma ida à Niterói, para um passeio etílico-gastronômico na cidade que é berço de excelentes botequins e restaurantes. A idéia, singela, era comerçarmos no Mercado de Peixe São Pedro, sair dali e, por dica de meu querido amigo Guilherme Sturdart, conhecer a empadinha do Pára Pedro, um boteco na esquina do mercado. Seguir para o Caneco Gelado do Mário e ver o dia morrer da calçada do Decolores. Quando a idéia foi lançada, vários amigos se animaram, mas daí veio a chuva torrencial de sexta-feira, a falta de grana de alguns e outros obstáculos e grupo minguou, restando apenas dez felizes e obstinados comensais.


Os boxes com peixes e frutos do mar do Mercado São Pedro

O problema foi que ao chegarmos no Mercado, exageramos na compra dos peixes e dos camarões, de modo que quando levamos para o segundo andar, ao boteco do seu Sileyr, foram preparados inúmeros pratos: camaraões fritos, moqueca de peixe, peixe frito empanado, pastéis de camarão temperados com leite de côco, entre outras iguarias. Silvio, pai de JPaulo, freguês contumaz há mais de 15 anos do Mercado, organizou tudo. Sabia em quais boxes comprar o camarão, em quais comprar os peixes e qual o melhor boteco para prepará-los, no segundo andar. Tudo perfeito.


Ju e JPaulo: mesa animada pelos obstinados comensais

Vou poupá-los dos detalhes, para evitar a produção de saliva excessiva, meus amigos. Basta dizer que comemos como nababos, e nos demos conta, não sem uma certa pena, de que teríamos que alterar nossos planos originais. Depois de dois engradados de cerveja, distribuídos por dez pessoas, e toda essa comilança, abortamos o Pára Pedro e o Caneco. Fomos direto para o Decolores, antes de atravessar a Baía de volta ao Rio, onde, parte da turma, terminou a noite, na mureta do Bar Urca, para contemplar, ao revés, o cenário do fim da tarde que presenciáramos de Nikiti. Um detalhe: no Decolores, encontramos o garçom Joel bem-humorado, de modo que ouvimos alguns boleros inspirados.


Seu Sileyr (no centro) é o tipo de dono de bar, que se senta com os fregueses

No meu caso, foi preciso tirar o domingo para uma recuperação, sobretudo da alma. Passei o dia convalescendo, mergulhado em livros e jogos de futebol, entremeados por sonecas e bastante água. A sorte é que peixe é algo que o organismo metaboliza com rapidez, sobretudo se for fresco.


Ensopado de peixe, ao estilo moqueca, uma das iguarias preparadas

Queria estar bem para a segunda-feira, onde teria outro evento etilico-gastronômico: o aniversário de 56 anos do Villarino, que foi celebrado ontem, com um coquetel para convidados, amigos da casa e de seu Antonio Vásquez, o espanhol que foi garçom do bar mitológico e depois virou dono. É graças à sua obstinação que a casa continua existindo, apesar da crise, da concorrência desleal com fast-foods, do descaso das autoridades com esses patrimônios, como diz o Guilherme, imateriais do Rio de Janeiro.


O garçom Ramos, do Villarino, também conhecido pelo apelido de Marlon Brandon

Bem, todos conhecem mais ou menos a história do bar. A famosa parede, com desenhos, assinaturas e poemas de fregueses como Di Cavalcanti, Manuel Bandeira, Paulo Mendes Campos, Lygia Clark entre outros, e que foi apagado num gesto infeliz do sócio português da casa (ontem, conheci uma nova versão da história, em que a medida teria sido uma punição ao Di, cujo pendura se avolumava além do tolerável).


Paulo Pires (à esquerda), Dapieve e Manya (do outro lado da mesa) e Guilherme (ao fundo), amigos no Villarino

Foi lá também que Vinícius de Moraes foi apresentado ao Tom Jobim e lá teria tido início a parceria entre os dois. Ou seja, amigos, o Villarino é um clássico, o bar-uisqueria, uma tradição de boemia que está rapidamente desaparecendo na cidade. E só não desapareceu graças à obstinada determinação de seu Antonio, que recusou inúmeras ofertas de compra do lugar, inclusive do Bradesco e da Drogaria Pacheco.


Detalhe da geladeira espelhada do Villarino

Para mim foi uma honra participar dessa comemoração, ao lado de amigos, como o Guilherme Sturdart, Paulo Pires, Manya Millen e Arthur Dapieve, com a família de seu Antonio, que ontem cantou canções populares da Galícia, num momento de alegria. Parabéns, e que outros 56 anos sejam celebrados pela casa.


Seu Antonio Vásquez (sentado), cercado por familiares e amigos

12 comentários:

Marcelo Moutinho disse...

Sou fã - e muito fã - do Vilarino. É meu bar preferido aqui nas proximidades da OAB/RJ.
O pastel de siri do Caneco Gelado continua bom?

Marcelo Moutinho disse...

Você falou da tradição do bar-uisqueria e lembrei do saudoso Bico Doce...

ipaco disse...

Salve, Marcelo. Pois é, tenho ouvido muita gente dizendo que o Caneco Gelado deu uma piorada, embora continue bom. Estive lá há alguns meses e comi o pastel, que, para o meu gosto, continua maravilhoso. Mas quero voltar lá com calma. Uma coisa que não falei é que toda aquela orgia gastronômica e a quantidade industrial de cerveja no Mercado São Pedro saiu a R$ 35 por cabeça. O Caneco seria bem mais caro, com certeza.

Já o Villarino é de fato uma jóia rara. Nessa tradição, gosto do Paladino. É uma pena o que aconteceu com o Bico Doce. Grandes histórias, belo serviço. Ontem, com o Guilherme fizemos uma lista dos grandes bares que fecharam ou foram descacterizados... é uma pena. Abração.

Luiz Carlos Fraga disse...

PT,

Infelizmente, não pude ir ao monumental Vilarino na noite de segunda-feira, mas minha família esteve mais que bem representada pela minha querida prima Lúcia Riff, agente literária de escol, que aparece na foto do meio, ao lado do Dapieve.

Vida longa ao Vilarino.

Saravá!

Camaleoa disse...

Bicho... que delícia isso tudo. Parece até que eu tava junto. Uau!
beijo.

ipaco disse...

Queridíssimo Fraguinha, faltaram você e o nosso Moutinho. Grande abraço.

Cris, da próxima vez que vc vier ao Rio, iremos a esses bares todos. Bjs.

Marcelo Amorim disse...

Tem coissa que só o Rio mesmo. E olha que ainda não conheço a cidade, dívida de vida que tenho comigo mesmo que ainda pagarei com juros, e com o maior prazer. Achei o Mercado São Pedro fantástico, essa coisa de comprar os peixes e os bares prepararem na hora, tudo fresquinho. Não sei se existe outro lugar no Brasil ou no mundo que faça algo assim, é um negócio dos deuses. Essa foi uma jornada às coisas boas da vida, os amigos, a comida bem feita, a bebida bem-vinda, os cenários que evocam o que o Brasil tem de mais rico e delicioso. Que coisa boa, Paulo!

ipaco disse...

Salve, Marcelo. Pois é, o Brasil tem muitos lugares assim, sobretudo nas áreas menos conhecidas do Nordeste e Norte. Mas Rio e Niterói juntos formam um núcleo urbano muito singular. Eu, de minha parte, estou devendo uma ida ao Sul, que conheço menos. Abração.

Marcelo Amorim disse...

Paulo, quando você vier pra essas bandas, mais exatamente pra Curitiba, será um prazer te acompanhar por alguns botecos tradicionais daqui. O "Armazém Santa Ana" seria um deles, segue um tira-gosto: http://www.armazemsantaana.com.br/

ipaco disse...

Maravilha, Marcelo. Já está combinado. Abração.

Anônimo disse...

Paulinho...nem preciso falar que fiquei com inveja branca, mas já que não deu para rodar todos, proponho uma nova ida excursionada (rs) nesses recantos abeçoados que a terra nos reserva...bju - Rê!!!

ipaco disse...

Combinadíssimo, Rê! Vamos organizar os "escoteiros"...