quinta-feira, 18 de março de 2010

Um morcego na porta principal

Jaguar e Macalé no Bar Botequim no lançamento de livro do Moacyr Luz

Recomendo a quem ainda não viu, que corra para não perder o documentário de João Pimentel e Marco Abujamra, Jards Macalé, um morcego na porta principal. É excelente. Acho que os dois conseguiram retratar bem o perfil de Macalé, pôr em evidência o momento em que ele aparece no cenário das artes, em meio a tropicalistas, MPBistas, bossa-novistas, além de suas incursões no cinema como ator (o ceguinho de Amuleto de Ogum, por exemplo), e no meio artístico em geral. Também traz à luz alguns de seus parceiros, como Abel Silva, os tropicalistas, Zé Celso, Tom Zé, Chacal. O Gil fala da incapacidade de Macalé seguir linearmente em sua carreira, e o Arnaldo Bloch deu uma elegante puxada de orelha no baiano. O próprio Macalé rejeita certos rótulos ("Maldito é a mãe!", brada logo no início do documentário). E o bom humor permeia todo o filme e não sei se o documentário é curto ou se é tão leve que não se sente o tempo passar.

O rótulo de maldito é de fato problemático e todos os malditos que conheço sempre o rejeitaram. Penso aqui em malditos mais malditos que o próprio Macalé, como Manduka e Sergio Sampaio. Em 1994, vi um show no saudoso Rio Jazz Club de Macao, Itamar Assumpção e Luiz Melodia, cujo apelo era justamente a reunião de três malditos. De certo modo, a internet abriu um espaço para resgatar essas pessoas, com sites, fóruns e gravações. De qualquer modo, o filme de Janjão e Abujamra é imperdível.

Para mim a passagem mais marcante é a decisão de Macao se matar, exatos dez anos depois de Torquato Neto. A narrativa desse drama, hilariante, explica muito sobre o momento. Especialmente o fato de ter acabado e se resolvido num porre homérico com Abel num pé-sujo. Tem os depoimentos de Nelson Pereira dos Santos e Zé Celso (este parecendo um profeta) uma entrevista a Jaguar.

Show de Macalé no Seis e Meia, em 2008

2 comentários:

ips disse...

Só mesmo um porre homérico num pé sujo sem tamanho para curar a ressaca de um suicídio furado.

ipaco disse...

Ele entrou numa onda naquele dia e preocupou um monte de gente. Acho que foi a forma de lembrar o Torquato....