quarta-feira, 20 de junho de 2012

A Eurocopa e a crise da zona do euro

No fim de semana, com a vitória de Grécia e Alemanha na Eurocopa, o editor de Esportes do Globo, Antonio Nascimento, me pediu para escrever um texto brincalhão, misturando o confronto dessas duas seleções na próxima sexta-feira e a crise econômica da zona do euro, que, justamente, opõe a visão de Angela Merkel, a poderosa chanceler alemã — que defende políticas de restrição ao crescimento para reduzir o déficit púbico e, assim, piora a vida das pessoas já ferradas pela recessão — e aqueles que acham que a saída da crise se dá pelo crescimenrto, gerando empregos e consumo. Trata-se do velho dilema entre economistas ortodoxos e heterodoxos. Enfim, fiz o texto, mas por um problema de espaço saiu cortado, Então republico-o abaixo na íntegra:



Alemanha e Grécia se enfrentam pelas quartas de final da Eurocopa na sexta-feira, num jogo decisivo em que o vencedor seguirá para a final. Num momento em que o eleitor grego define seus representantes parlamentares, numa eleição que poderá decidir o futuro não só do país, mas de toda a zona do euro, a desproporção entre as duas seleções — a Alemanha, tricampeã do Mundo e, hoje, terceira no ranking da Fifa, versus Grécia, que nunca venceu um mundial e ocupa a 15ª posição na lista da Fifa — permite uma vertiginosa analogia entre o futebol, a economia dos dois países, e a crise que assola o bloco das 17 nações que repartem o euro como moeda. 

Como no esporte, a economia europeia vive o dilema entre o futebol arte ou o jogo de resultados. Se, no campo, a Alemanha deve partir para cima e dominar o frágil time grego, na economia a situação é outra. A “técnica” Angela Merkel é adepta de uma boa retranca, correndo pouquíssimos riscos no ataque. Para ela, é melhor segurar um zero a zero do que sofrer uma derrota. E a voz da chanceler alemã ressoa com a autoridade de quem lidera a maior economia do bloco do euro. 

Para sair da crise, Merkel defende a ideia de que cada país deve acertar suas contas, reduzindo a dívida pública. Isso significa cortar gastos, aumentar impostos e investir e crescer menos, até que as contas estejam estabilizadas. O problema é que a aplicação dessas políticas em países que já estão em recessão tem efeitos sociais catastróficos, sobretudo no mercado de trabalho. Na Grécia e na Espanha, por exemplo, o desemprego atinge mais de metade da população jovem, situação que deve piorar se a “retranca” de Merkel for adotada. 

Mas há aqueles que defendem a saída da crise justamente pelo crescimento, ampliando os investimentos, gerando empregos e turbinando a economia pelo consumo das famílias. E essa aposta, digamos, no “futebol arte”, vem ganhando adeptos, isolando cada vez mais a dama de ferro alemã em sua posição “retranqueira”. Com a vitória de François Hollande, a França passou a defender abertamente políticas de crescimento econômico, como saída para a crise. Espanha e Itália, consideradas a bola da vez após o colapso da Gréccia, também. Até o presidente americano, Barack Obama, preocupado com os efeitos da crise europeia na sua campanha de reeleição, já cobrou dos líderes europeus mais investimentos e menos arrocho.

Na metafísica do futebol não deixará de haver justiça poética se a Alemanha vencer na sexta-feira, já que possui o time mais talentoso e joga no ataque. Resta saber se o governo de Merkel aprenderá alguma lição com a seleção nacional de seu país.

3 comentários:

ANNA disse...

Adorei o texto e sempre me fascina o fato de se ter no futebol, terreno para analogias com quase qualquer tema. No que diz respeito à economia européia e a crise do Euro, sinceramente não faço idéia se armaria um time retranqueiro ou partiria para o ataque, embora tenda a acreditar que ninguém falará mais alto do que Ângela Merkel. Já com relação ao futebol, diferentemente do Brasil, onde este realmente é reflexo das catarses sociais e econômicas e por isso mais receptivo as surpresas, o futebol europeu é mais afeito a previsibilidade da superioridade técnica e mesmo lembrando que em 2004 a Grécia também era o “azarão” e acabou com o título, acredito que quem leva é a Alemanha. Se isto muda os rumos da crise?Duvido! Para o bem e para o mal, graças a deus, lá não é aqui.
Abraços,Anna Kaum.

ipaco disse...

É... a vida real imita o futebol ou vice-versa... É meio batido esse tipo de brincadeira, mas a sincronicidade quase yunguiana do jogo neste momento, com as aleições gregas, merecia uma reflexão.
Quanto à economia, não posso dizer qual é o melhor modelo, se a "retranca" da Merkel ou o crescimento. No Brasil, experimentamos o primeiro e tivemos algumas décadas perdidas antes de voltar a crescer... Bjs.

ANNA disse...

E,ainda assim,podemos questionar que crescimento e para onde exatamente.
Bom jogo para nós,na Eurocopa e na Libertadores.
Abraços,Anna Kaum