Alemanha e Grécia se enfrentam pelas quartas de final da
Eurocopa na sexta-feira, num jogo decisivo em que o vencedor seguirá para a
final. Num momento em que o eleitor
grego define seus representantes parlamentares, numa eleição que poderá decidir
o futuro não só do país, mas de toda a zona do euro, a desproporção entre as
duas seleções — a Alemanha, tricampeã do Mundo e, hoje, terceira no ranking da
Fifa, versus Grécia, que nunca venceu um mundial e ocupa a 15ª posição na lista
da Fifa — permite uma vertiginosa analogia entre o futebol, a economia dos dois
países, e a crise que assola o bloco das 17 nações que repartem o euro como
moeda.
Como no esporte, a economia europeia vive o dilema entre o
futebol arte ou o jogo de resultados. Se, no campo, a Alemanha deve partir para
cima e dominar o frágil time grego, na economia a situação é outra. A “técnica”
Angela Merkel é adepta de uma boa retranca, correndo pouquíssimos riscos no
ataque. Para ela, é melhor segurar um zero a zero do que sofrer uma
derrota. E a voz da chanceler alemã ressoa com a autoridade de quem lidera a
maior economia do bloco do euro.
Para sair da crise, Merkel defende a ideia de que cada país
deve acertar suas contas, reduzindo a dívida pública. Isso significa cortar
gastos, aumentar impostos e investir e crescer menos, até que as contas estejam
estabilizadas. O problema é que a aplicação dessas políticas em países que já
estão em recessão tem efeitos sociais catastróficos, sobretudo no mercado de
trabalho. Na Grécia e na Espanha, por exemplo, o desemprego atinge mais de
metade da população jovem, situação que deve piorar se a “retranca” de Merkel
for adotada.
Na metafísica do futebol não deixará de haver justiça poética se a Alemanha vencer na sexta-feira, já que possui o time mais talentoso e joga no ataque. Resta saber se o governo de Merkel aprenderá alguma lição com a seleção nacional de seu país.
3 comentários:
Adorei o texto e sempre me fascina o fato de se ter no futebol, terreno para analogias com quase qualquer tema. No que diz respeito à economia européia e a crise do Euro, sinceramente não faço idéia se armaria um time retranqueiro ou partiria para o ataque, embora tenda a acreditar que ninguém falará mais alto do que Ângela Merkel. Já com relação ao futebol, diferentemente do Brasil, onde este realmente é reflexo das catarses sociais e econômicas e por isso mais receptivo as surpresas, o futebol europeu é mais afeito a previsibilidade da superioridade técnica e mesmo lembrando que em 2004 a Grécia também era o “azarão” e acabou com o título, acredito que quem leva é a Alemanha. Se isto muda os rumos da crise?Duvido! Para o bem e para o mal, graças a deus, lá não é aqui.
Abraços,Anna Kaum.
É... a vida real imita o futebol ou vice-versa... É meio batido esse tipo de brincadeira, mas a sincronicidade quase yunguiana do jogo neste momento, com as aleições gregas, merecia uma reflexão.
Quanto à economia, não posso dizer qual é o melhor modelo, se a "retranca" da Merkel ou o crescimento. No Brasil, experimentamos o primeiro e tivemos algumas décadas perdidas antes de voltar a crescer... Bjs.
E,ainda assim,podemos questionar que crescimento e para onde exatamente.
Bom jogo para nós,na Eurocopa e na Libertadores.
Abraços,Anna Kaum
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