domingo, 29 de julho de 2012

Memória

Encontrei-a no elevador de algum prédio, em algum lugar da cidade quando éramos jovens e intermináveis. Chegávamos ou saíamos de uma das festas daquele verão adolescente. Ela cantarolava uma canção d'A Barca do Sol, sorrindo para mim:

Quando a gente se encontrar
Pode ser qualquer dia
Assim como o Manuel
Dono da folia, rei do Bordel
Como o Manuel
Dono da angústia, rei da alegria
Como o Manuel...
Assim, como o Manuel.

Os cabelos longos, a saia hippie, um encontro breve, que escorreu num beijo roubado, e do qual restou um nome, que, às vezes, hoje, nesse outro mundo, nesse outro tempo, ainda  rouba meu sono. Como a vida pode ser tão fugaz?

3 comentários:

ANNA disse...

No quarto onde moram as tramóias do espelho,o lugar mais alto do pódio para uma mulher,é a lembrança de um homem.Sabedoras disso,ás vezes a tentação de passear pelo passado e se rever vinte anos mais nova,nas retinas de quem você é a calma,chega a doer.
A experiencia entretanto,que serve para tão pouco,acaba gritando que o melhor lugar para as lembranças,é lá mesmo,no terreno perfeito da memória imutável.
Texto lindo que me deixou tentada!
E a vida,td bem?Bom dia!!!

ipaco disse...

Bom dia, Anna, obrigado pelos comentário carionhosos. A memória é um instrumento poderoso, ainda mais quando misturada ao desejo, não é mesmo? E é a expressão da vida também, num momento em que a morte ronda por perto, paira sobre uma pessoa próxima. Pensar na vida ganha um sentido mais e mais urgente e, paradoxalmente, mais tranquilo também. Aqueça história de viver as coisas comuns, ordinárias, do dia a dia, com novos olhos, novos sentidos. No fim das contas, a ave do sonho pode ser um sono profundo, uma morte, mas também uma libertação, uma vida que começa. Beijo.

ANNA disse...

A meleca, meu querido, é que, infelizmente, a gente só se lembra do quão fugaz e inconstante é a vida,quando por capricho ou crueldade,ela nos atira o fim na cara e aí é mesmo ao passado e a lembrança dos tempos em que tempo era só mais uma palavra, que recorremos.
“É preciso amar como se não houvesse amanhã”, é o tipo de “mantra” que além de repetir e repetir e repetir, precisamos por em prática sem medos ou reservas.
Fique em paz e se precisar,já sabe,é só gritar!Beijos,Anna Kaum.