sábado, 15 de setembro de 2012

Egberto na voz e piano de Delia Fischer

Não foi sem emoção que iniciei o sábado retornando ao universo musical de Egberto Gismonti. Dessa vez, pelas mãos ou, mais precisamente, pelo piano e pela voz de minha querida amiga Delia Fischer. No repertório, clássicos do mago de Carmo, especialmente as parcerias com o poeta Geraldo Carneiro, para mim, uma das melhores vozes da poesia brasileira dos anos 70. Foi mais ou menos assim: ontem, trouxe da redação uma boa dúzia de lançamentos, a maioria novidade para mim. Mas entre eles, veio esse CD da Delia, chamado Saudações, título de uma das canções de Gismoti.

Por sincronicidade, hoje tem no Segundo Caderno do Globo uma resenha do Calbuque sobre um outro achado fortuito: a gravação de um concerto de Gismonti, com o saxofonista Jan Garbarek e o baixista Charlie Haden, realizado na Alemanha em 1981. A fita do show estava em excelente estado, perdida nos arquivos da ECM, a gravadora de Gismonti.



Delia sempre foi uma espécie de alucinação do espírito. Conheci essa menina linda nos anos 80, quando ela gravara, se não me engano, seu primeiro disco. E me tornei seu fã para sempre. Na época, fiz fotos que foram usadas na produção do projeto. Depois, fui companhando sua carreira de longe e de perto. Sua temporada na Modern Sound me tinha lá aos sábados religiosamente. Ela também participou de um CD do meu pai, Gaudencio Thiago de Mello, chamado Amor mais que perfeito, em que ele trabalha com cantoras: Fátima Guedes, Cris Delano, Itamara Koorax e Andrea Dutra

Mas não me lembro de ouvi-la cantar. E hoje foi essa surpresa deliciosa, deixar sua voz se espalhar pela casa, se insinuando por entre a harmonia sofisticada do piano, as peças elaboradíssimas de Gismonti e o lirismo profundo de Geraldinho Carneiro. Além disso, o disco traz a companhia de excelentes músicos instrumentistas, acrescentando baixo, guitarra, cavaquinho, violino, entre outros. Fica a dica: Delia Fischer. Saudações.


2 comentários:

ANNA disse...

Fazem mais ou menos uns duzentos anos,eu devia ter uns dezoito,sei lá,arrumei um namorado que era iluminador no Circo Voador e para passarmos mais tempo juntos,virei sua assistente.
Um dia cheguei linda e elástica,pronta para me pendurar naquela infinidade de ferragens e tubos como uma trapezista maluca e descobri que o show da noite era de Egberto,que voltava,acho que da índia,com um instrumento muito louco com sons de selos azuis.Cítara?Não me lembro...ou é burrice ou meu companheiro alemão que não me larga mais...Enfim,á tarde quando chegou para passar o som e a luz,eu pendurada lá no alto com uma gelatina vermelha na mão,fui sugada para dentro daqueles olhos enormes,de boca pequena e um oceano de cabelos negros que teimavam em fugir pelas janelas da touca de crochê.
A música,os olhos,uma gente falando longe...Conclusão,me estabaquei na arquibanca e ganhei um lindo gesso na perna,fora o "orangotango".
Não conheço Délia,problema que já estou indo resolver,mas Egberto tem lugar marcado na minha saudade.
Bjs,
Anna Kaum.

ipaco disse...

Que história sensacional, Anna. O som do Egberto faz isso com a gente: estabacar. A Délia, por sua vez, é uma pianista com ar de menina, mas que toca como gente grande. A primeira vez que a vi, ela devia ter menos de 20 anos e estava fazendo seu primeiro disco. Fui fotografá-la para o projeto e fiquei bobo ao ver toda aquela delicadeza de menina tocando furiosamente "Spain", do Chic Corea. E agora, muitos anos depois, a ouço cantar, com a voz doce, sem impostação, as músicas do Egberto, levadas no piano com a velha fúria de sempre. Um belo CD. Beijo.