terça-feira, 1 de junho de 2010

Terra santa


A foto acima é da AFP. É uma menina palestina que foi alvejada por uma bomba de gás antimotim, ou algo que o valha, durante um protesto, na sexta-feira passada, em Jerusalém Oriental, o bairro palestino na cidade, que vem sendo ocupado por judeus. Pelo acordo original que criou o Estado de Israel, no fim dos anos 40, Jerusalém deveria ser uma cidade transnacional, sob administração da ONU. Dá para entender a briga por Jerusalém (desde os tempos em que Saladino enfrentou os cruzados), sendo a cidade considerada santa para judeus, muçulmanos e cristãos — lá estão o santo sepulcro, o muro das lamentações e mesquitas sagradas — e, sua parte oriental, escolhida como a capital de um futuro Estado palestino. Mas, após a guerra dos seis dias, em 1967, Israel anexou a cidade e a declarou sua capital não oficial, embora isso não seja reconhecido pela ONU. Ou seja, na Terra Santa há uma confusão dos diabos e muito ódio sobrando.

O que me impressionou na foto, além de sua evidente violência, é a participação de jovens e adolescentes nos confrontos. Outro dia vi na TV, num documentário, duas adoelescentes israelenses, de origem judia, dizendo que os palestinos tinham que ser expulsos, sim, pois aquela era a capital de Israel e eles não tinham nada que estar fazendo ali. Não estou falando de judeus ortodoxos, que estão ocupando áreas palestinas a revelia do próprio governo israelense, mas sim de duas jovens aparentemente de classe média.

Do outro lado, radicais do Hamas e outros tantos grupos islâmicos querem destruir Israel e os judeus, a quem não reconhecem o direito à existência, muito menos a um Estado — alguns malucos, como o Ahmadinejad, chegam mesmo a negar uma calamidade histórica vergonhosa e lamentável como o holocausto, o que é absurdamente grave. Mas, mesmo sem considerar esses radicais, vê-se nas fotos, nas marchas e protestos, jovens comuns, até mesmo crianças.

Isso tudo me deixa muito pessimista quanto a uma solução. Trata-se de uma confusão que passa pelo religioso, passa pelo étnico (não podemos esquecer o preconceito largamente disseminado contra os judeus), passa pelo político e também pelo econômico. E cada ato alimenta a reação do outro num círculo vicioso sem fim. Ou seja, é uma confusão dos diabos.

Defendo o direito de ambos os povos, palestinos e judeus, terem seu Estado, autodeterminação, autonomia, território etc e tal. E que Jerusalém continue sendo uma cidade transnacional. Uma solução que, a considerar pelo ataque à flotilha humanitária que levava víveres à Gaza, parece cada vez mais difícil.

Aliás, sobre o ataque, merece entrar para a série "declarações infelizes", a nota oficial do consulado de Israel de que os barcos estavam apinhados de terroristas armados até os dentes. Estou mailing list do consulado de Israel e recebi a nota oficial do cônsul, dizendo que as tropas reagiram ao serem atacadas por terroristas e coisa e tal. E, enquanto lia essas desculpas esfarrapadas, via as fotos das agências de notícias, mostrando uma atiradeira apreendida... Era melhor ter ficado calado.

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