domingo, 6 de maio de 2012

céu da boca

as coisas não são tão assim coisas, afinal. têm nome e sobrenome, alguns impronunciáveis, é verdade, mas que se soletram no escuro quando ninguém vê. palavras vagabundas que crepitam na fogueira da boca, afirmando coisas sobre as coisas inomináveis, que se diluem em sentimentos ambíguos e se perdem na poeira do esquecimento. deslembradas antes mesmo do dizer, morrem no céu da boca, como estrelas repentinas de luz atrasada, afogadas na língua imóvel. mas algumas poucas escapam entre os dentes, escorrem como baba pelos cantos e iluminam sentidos guardados nas funduras dos instantes inesperados, como quando nos encontramos, querida amiga, fora da curva dos dias normais e inventamos apaixonados todo aquele vocabulário, em que reaprendemos nossos nomes. teu corpo sobre o meu fez um novo idioma, para, a boca imóvel, me frasear em teu ventre. na nossa sintaxe invertemos a norma culta e a diferença de idade uniu sujeito, verbo e complemento num novo sentido para as coisas, que, afinal, não são tão coisas assim.

6 comentários:

ANNA disse...

A fogueira,a boca,o esquecimento,
a fundura,os instantes,a curva...
Melhor quando "as coisas não são tão coisas assim"
Abraços,
Anna.

ips disse...

insuportável o drama de uma estrela de luz atrada que morre afogada numa língua imóvel. que ai ! que força de imagem, pt ! cê tá fogo, fogo na língua, fogo de estrela que sai da boca. pô...

ipaco disse...

Anna, é verdade!É melhor assim...

ipaco disse...

Ips, vc é minha inPIRAÇÃO! Beijo!

Juliana disse...

adoro ler Paulo Thiago.

ipaco disse...

E eu adoro samba e outros sonhos...