sexta-feira, 1 de maio de 2009
Entre botequins e pubs
A Adega Pérola ainda mantém seus petiscos tradicionais
Sempre disse que cada cidade de alma cosmopolita faz de suas casas que vendem bebida alcoólica um momumento à boemia, cultura e identidade local. E isso apesar de todo o moralismo que se abate contra esses estabalecimentos oriundo de movimentos de temperança de raízes religiosas, que vêem o bar como o berço do ócio, do alcoolismo, da malandragem, da prostituição e de outros comportamentos desviantes; um lugar que, situado entre o lar e o trabalho, atrai o homem de seu caminho reto, desenhado para ele pelas instituições. Basta pensar nos nossos botequins, nos pubs londrinos, nas pulperías de Montevidéu, nas adegas e tascas de lisboa, nos bares fechados de Nova York e coisa e tal.
Pois bem, graças à magia cibernética do Facebook, reencontrei um grande amigo do século XIV, com quem havia perdido contato, desde que se mudara, com disposição definitiva, para Londres. Trata-se do Orlando Hill, amigo do início da juventude, da militância contra a ditadura, um híbrido de pai britânico e mãe cearense. Pois do Facebook para o Pendura Essa foi um pulo e vejam a mensagem que ele mandou essa semana:
Por causa de você virei leitor de blog. Uma coisa que o Rio e a Inglaterra têm em comun é a importância do bar na identidade cultural. Aí se chama botequim, aqui pub. Pelo que eu leio no seu blog o botequim continua bem de saúde. Aqui o Pub esta ameaçado de extinção. Cerca de 50 pubs fecham as portas toda semana para nunca mais abrirem.
Imagina se a mesma coisa acontecesse no Rio.
As causas deste genocídio cultural são várias a comecar pela introdução do "breathalyser" [o nosso bafômetro]. Nao se pode mais dirigir e beber. Que é uma coisa boa, mas diminuiu a clientela. Uma outra razão foi a mudança da etinia urbana. Houve um aumento da população muçulmana que não bebe. Depois veio a proibição do fumo em lugares fechados.
O enfraquecimento da clasee operária no Reino Unido acelerou essa tendência. Era costume de depois de um dia de trabalho na fábrica ou mina encontrar com os colegas no pub. Hoje o desempregado fica em casa bebendo cerveja em lata.
Mas o grande vilão são os supermercados que vendem cerveja e vinho a um preço predatório que os pubs nao conseguem competir.
Eu faço o que posso e vou a Pub e peço um ale no barril bem tirado.
Quando você tiver bebendo nos botequims cariocas, levante o copo e pense na luta dos boêmios britãnicos pela salvação do pub.
De fato, como aponta Orlando, são muitas as ameaças ao Pub, desde a desorganização social que a crise financeira está provocando no Reino Unido (e no mundo) até a concorrência desleal com os supermercados. Aqui, apesar de tudo, a maior ameaça aos botecos são os donos que vão falecendo sem encontrar sucessores dispostos a tocar o barco. As casas caem em mãos de novos proprietários que, quando não fecham, desfiguram o velho botequim.
A vitrine do Pérola, com suas tradicionais tapas
Por isso, fiquei feliz ontem ao receber um torpedo de meu querido amigo Fraguinha, que avisou: estamos comendo um rollmops e erguemos um brinde a você. Soube imediatamente que ele estava na Adega Pérola, cujo dono faleceu há alguns meses, deixando os fregueses apavorados sobre o que poderia acontecer. Pela mensagem do Fraguinha, os herdeiros vêm mantendo o padrão.
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4 comentários:
Belo texto, querido Paulo! E comovente o e-mail do seu amigo. Tomarei a liberdade de repercutir a solidariedade aos boêmios britânicos por aqui. Abraço!
Pois é, Bruno. Ele me mandou outro e-mail dizendo que lá em Londres criaram uma associação em defesa das cerveja ale, pois, além de tudo, o governo aumentou o imposto sobre o produto. Abs. pt
A associação se chama Camra (www.camra.org.uk) e é a organização de defesa de consumidores mais bem sucedidas. Antes do aparecimento da Camra era difícil encontrar um pub que servisse ale e quando econtrava era de pessima qualidade. Hoje não é tão difícil, mas eu ainda tenho que andar pelo uma menos uma milha até encontrar um pub decente. Por causa do aumento de 2% no imposto o consumo de cerveja sofreu uma queda de 8.6%. Mas o consumo de cerveja tipo "real ale" aumentou e hoje ocupa 13% do mercado.
Aqui no Rio, as cervejas artesanais e de pequena tiragem, como as produzidas em Ribeirão Preto, finalmente começam a chegar a alguns bares cariocas, como o Aconchego, na Praça da Bandeira, e o Salvação, em Botafogo. Gosto muito da Bamberg e todas da linha Colorado. Quanto ao chope, meus preferidos: Bar Brasil, Adonis, Amendoeira, Real Chope e Bracarense, no primeiro time, seguidos de perto pelo Lagoa e Adega do Pimenta. Ainda não fui no Bar Luiz depois da mudança.
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